Imagem: J.
Lanzellotti
Na
redondeza corria o boato de que havia uma onça maneta devorando tudo. Por causa
disso as pessoas estavam com medo de sair à noite ou qualquer hora do dia das
suas casas.
Há
poucos minutos atrás chegava a notícia de mais uma vítima da dita onça maneta. Havia
ela devorado mais um porquinho duma fazenda da vizinhança.
Todos
temiam noitedia, exceto o Lobisomem Zonzo que parecia não estar nem aí para
quem pintou a zebra.
Nitolino
reunido com a garotada foi atrás de Pai Lula para saber do paradeiro dessa onça
que andava atacando na redondeza.
- Pai
Lula, uma tal duma onça maneta está atacando na redondeza!
- É
mesmo, Nitolino?
- É Pai
Lula, pode perguntar aos outros meninos e meninas, estão todos com medos. Os
vizinhos e todas as pessoas que encontramos, estão com medo dessa onça faminta.
- Nossa!
-, admirou-se Pai Lula. E começou a contar:
Essa
onça maneta, bem, é um animal que perdeu
uma das patas dianteiras. Identificam-no pelos vestígios. De espantosa
ferocidade, força invencível e mais ágil, mais afoito, continuamente esfomeada,
ataca rebanhos e currais, lutando rapidamente para desaparecer e retomar
adiante o fio das mesmas proezas. Deixa rasto de suas três patas nas areias.
Não a fazem gigantesca nem com faculdades de
metamorfose imediata em árrvore, pedra ou outro animal ou ave.
A onça-maneta se mantém onça e suas aventuras
são deformadas pelo medo e pela fama.
Naturalmente a origem foi uma onça que,
ferida numa pata ou tendo-a decepado em luta, conseguiu fugir dos caçadores e
da matilha de cães e, por algum tempo, ferida e doída de raiva, guerreara
fazendas e onceiros, numa despedida heroica.
Pai Lula
disse isso e se calou, fitando nos olhos de cada um dos meninos e meninas
amendrontadas que ali estavam com o relato.
- E o
que isso quer dizer, Pai Lula? -, perguntou Nitolino inquieto.
- Isso
quer dizer, Nitolino e todos vocês, que a onça maneta é uma lenda!
- E o
que é uma lenda?
- É uma
estória inventada pelos nossos avós para entreter as nossas tardes e noites com
coisas do outro mundo e que nos metem medo porque não distinguimos o que é
verdade e o que é inventado. -, disse Pai Lula e começou a rir!
-
Aaaaaaaahh! -, fizeram todos.
FONTE:
ARAUJO,
Alceu Maynard. Documentário folclórico paulista, 1952.
______;
TABORDA, Vasco José. Estórias e lendas de São Paulo, Paraná e Santa Catarina.
São Paulo: Edigraf, s/d;
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