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Tuesday, January 20, 2015

A LENDA DA ONÇA MANETA


Imagem: J. Lanzellotti

Na redondeza corria o boato de que havia uma onça maneta devorando tudo. Por causa disso as pessoas estavam com medo de sair à noite ou qualquer hora do dia das suas casas.

Há poucos minutos atrás chegava a notícia de mais uma vítima da dita onça maneta. Havia ela devorado mais um porquinho duma fazenda da vizinhança.

Todos temiam noitedia, exceto o Lobisomem Zonzo que parecia não estar nem aí para quem pintou a zebra.

Nitolino reunido com a garotada foi atrás de Pai Lula para saber do paradeiro dessa onça que andava atacando na redondeza.

- Pai Lula, uma tal duma onça maneta está atacando na redondeza!

- É mesmo, Nitolino?

- É Pai Lula, pode perguntar aos outros meninos e meninas, estão todos com medos. Os vizinhos e todas as pessoas que encontramos, estão com medo dessa onça faminta.

- Nossa! -, admirou-se Pai Lula. E começou a contar:

Essa onça maneta, bem, é um animal que perdeu uma das patas dianteiras. Identificam-no pelos vestígios. De espantosa ferocidade, força invencível e mais ágil, mais afoito, continuamente esfomeada, ataca rebanhos e currais, lutando rapidamente para desaparecer e retomar adiante o fio das mesmas proezas. Deixa rasto de suas três patas nas areias.

Não a fazem gigantesca nem com faculdades de metamorfose imediata em árrvore, pedra ou outro animal ou ave.

A onça-maneta se mantém onça e suas aventuras são deformadas pelo medo e pela fama.

Naturalmente a origem foi uma onça que, ferida numa pata ou tendo-a decepado em luta, conseguiu fugir dos caçadores e da matilha de cães e, por algum tempo, ferida e doída de raiva, guerreara fazendas e onceiros, numa despedida heroica.

Pai Lula disse isso e se calou, fitando nos olhos de cada um dos meninos e meninas amendrontadas que ali estavam com o relato.

- E o que isso quer dizer, Pai Lula? -, perguntou Nitolino inquieto.

- Isso quer dizer, Nitolino e todos vocês, que a onça maneta é uma lenda!

- E o que é uma lenda?

- É uma estória inventada pelos nossos avós para entreter as nossas tardes e noites com coisas do outro mundo e que nos metem medo porque não distinguimos o que é verdade e o que é inventado. -, disse Pai Lula e começou a rir!

- Aaaaaaaahh! -, fizeram todos.

FONTE:
ARAUJO, Alceu Maynard. Documentário folclórico paulista, 1952.
______; TABORDA, Vasco José. Estórias e lendas de São Paulo, Paraná e Santa Catarina. São Paulo: Edigraf, s/d;

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