Caras crianças. [...] Aprendam a serem felizes através da
felicidade e da alegria de seus semelhantes, e não através do triste conflito
de homem contra homem! Se puderem encontrar lugar dentro de vocês mesmos para
esse sentimento natural, todos os seus fardos na vida serão leves, ou pelo
menos suportáveis e vocês encontrarão seu caminho com paciência e sem medo, e
espalharão alegria em todos os lugares.
Queridas crianças. Agradeço-lhes o presente de
aniversário que amavelmente me mandaram e por sua carta de congratulações. O
presente de vocês será uma sugestão apropriada para que eu seja um pouco mais
elegante, no futuro, do que fui até agora. Porque gravatas e punhos de camisa
só existem para mim como lembranças remotas.
Queridas crianças. Nós não devemos perguntar “O que
é um animal?”, mas “Que tipo de coisa chamamos de animal?”. Bem, chamamos de animal
quando essa coisa tem certas características: alimenta-se, descende de pais
semelhantes a ela, cresce, movimenta-se sozinha e morre quando seu tempo se
esgotou. É por isso que chamamos a minhoca, a galinha, o cachorro e o macaco de
animais. E nós, humanos? Pensem nisto da maneira que eu mencionei anteriormente
e então decidam por vocês mesmos se é uma coisa natural nós nos considerarmos
animais.
[...] Alegro-me por vê-las diante de mim hoje,
juventude feliz de uma terra luminosa e afortunada. Pensem que as coisas
maravilhosas que vocês aprendem em suas escolas são o trabalho de muitas
gerações, produzidas em todos os países do mundo com um esforço e uma paixão
muito grandes. Tudo isto é colocado nas mãos de vocês como herança para que a
recebam, respeitem, acrescentem coisas e, um dia, a transmitam para suas
crianças. Isso faz com que nós, mortais, adquiramos imortalidade nas coisas
permanentes que criamos em comum.
[...] Não se preocupe com as suas dificuldades em
matemática; eu lhe garanto que as minhas são ainda maiores.
[...] A pesquisa científica é baseada na ideia de
que tudo o que acontece é determinado por leis da natureza e, portanto, isso
também se aplica aos atos das pessoas. Por essa razão, um cientista
dificilmente tenderá a pensar que os acontecimentos possam se influenciados por
uma oração, ou seja, por um desejo expresso a um ser sobrenatural. Entretanto,
deve-se admitir que nosso conhecimento presente dessas leis é imperfeito e
fragmentado, de modo que, na verdade, a crença na existência de leis universais
e básicas da natureza também repousa sobre uma espécie de fé. Mesmo assim, essa
fé tem sido amplamente justificada, até agora, pelo sucesso da pesquisa
científica. [...] A atividade
científica leva a um sentimento religioso de um tipo especial, que é, na
verdade, bem diferente da religiosidade de alguém mais cândido.
[...] Que
cada um reflita em sua alma e sua consciência, que chegue a uma ideia baseada
nas próprias leituras e não nas conversas dos outros. [...] Não basta ensinar ao homem uma especialidade.
Porque se tornará assim uma máquina utilizável, mas não uma personalidade. É
necessário que adquira um sentimento, um senso prático daquilo que vale a pena
ser empreendido, daquilo que é belo, do que é moralmente correto. A não ser
assim, ele se assemelhará, com seus conhecimentos profissionais, mais a um cão
ensinado do que a uma criatura harmoniosamente desenvolvida. Deve aprender a
compreender as motivações dos homens, suas quimeras e suas angústias para
determinar com exatidão seu lugar exato em relação a seus próximos e à
comunidade. Estas reflexões essenciais, comunicadas à jovem geração graças aos
contactos vivos com os professores, de forma alguma se encontram escritas nos
manuais. É assim que se expressa e se forma de início toda a cultura. Quando
aconselho com ardor “As Humanidades”, quero recomendar esta cultura viva, e não
um saber fossilizado, sobretudo em história e filosofia. Os excessos do sistema
de competição e de especialização prematura, sob o falacioso pretexto de
eficácia, assassinam o espírito, impossibilitam qualquer vida cultural e chegam
a suprimir os progressos nas ciências do futuro. É preciso, enfim, tendo em
vista a realização de uma educação perfeita, desenvolver o espírito crítico na
inteligência do jovem. Ora, a sobrecarga do espírito pelo sistema de notas
entrava e necessariamente transforma a pesquisa em superficialidade e falta de cultura.
O ensino deveria ser assim: quem o receba o recolha como um dom inestimável,
mas nunca como uma obrigação penosa.
[...] Ora, não existe outra educação inteligente senão aquela em que se toma
a si próprio como um exemplo, ainda quando não se possa impedir que esse modelo
seja um monstro!
REFERÊNCIAS
CALAPRICE,
Alice (Org.). Querido Professor Einstein: correspondência entre Albert Einstein
e as Crianças. Porto: Asa, 2005.
EINSTEIN, Albert. Como vejo o mundo. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1981.
HIRSH-PASEK,
Kathy; EYER, Diane; GOLINKOFF, Roberta. Einstein teve tempo para brincar: como
nossos filhos realmente aprendem e por que eles precisam brincar. Rio de
Janeiro: Guarda-Chuva, 2006.
Feliz ano
novo
para mim e
pra você
E paz no
mundo todo
ulalá e
trelelê!!!!