O
GÊNERO HUMANO
Três homens compareceram sucessivamente
perante Uendé, para expor-lhe suas necessidades. O primeiro disse: - Quero um
cavalo. O outro disse: - Quero cachorros para caçar na mata. O terceiro disse:
- Quero uma mulher para me dar dar prazer. Uendé deu-lhes tudo: ao primeiro o
seu cavalo; ao segundo os cachorros e ao terceiro uma mulher. Os três homens
vão-se embora. Mas sobrevém fortes chuvas que, durante três dias, os mantém
encerrados nos matagais. A mulher fez a comida para os três. Os homens dizem: -
Voltemos perante Uendé. Chegam lá. Então todos lhe pedem mulheres. E Uendé anui
em transformar o cavalo em mulher e os cachorros também em mulheres. Os homens
vão-se embora. Mas a mulher tirada do cavalo é glutona; as mulheres tiradas dos
cachorros são más e a primeira mulher, a que Uendê havia dado a um deles, é
boa; é a mãe do gênero humano.
POR
QUE O MUNDO FOI POVOADO
Abassi levantou-se, sentou-se em seu
trono, fez todas as coisas superiores, todas as coisas inferiores: a água, a
selva, o rio, as fontes, as tribos da selva; fez todas as coisas, de todas as
espécies, no mundo inteiro. Não fez o homem. Todos os homens habitavam no céu,
com Abassi. Por isso, nessa altura, não
existia nenhum homem no mundo terreno; não havia mais do que os bichos da
selva, os peixes que estavam na água, as aves que vemos nos ares e muitos
outros seres que não é necessário enumerar. Mas o homem não existia neste
mundo. Todos os homens estavam no desterro, habitavam com Abassi a sua aldeia.
Quando Abassi se sentava e comia, juntava-se a ele e a Altai. Por fim, Altai
chamou; Abassi respondeu e ela disse-lhe: - A situação, tal como está, não é
boa. Tu possuis a terra que existe, possuis o céu que eles habitam conosco,
fizeste um lugar de propósito para estar nele e, se não colocas lá os homens,
será malfeito. Procura um meio de colocar os homens na terra para eles lá
morarem e acenderem fogo de jeito que o céu esquente, porque agora faz aqui um
frio enorme por causa de não haver fogo na terra.
OS
TRES FILHOS DE GIHANGA
Numa tradição oral de Ruanda, Gihanga
figura como pai dos três ancestrais de todos os ruandeses: Gatwa, dos tuas,
Gahutu, dos hutus, e Gatutsi, dos tutsis. Para determinar qual dos três filhos
era merecedor de sua herança, Gihanga confiou uma cabaça de leite a cada um,
durante uma noite. Na manhã seguinte, Gihanga voltou e verificou como agiram
seus filhos na noite original. Gatwa foi desqualificado e desterrado, pois, num
sono agitado, derrubara a cabaça e perdera o leite. Gahutu foi deserdado e
condenado a trabalhar para Gatutsi, pois, sedento, bebera o leite. Gatutsi, que
permanecera acordado e vigilante, conservando seu leite, foi designado sucesso
de Gihanga, recebeu como herança todos os rebanhos de vacas do país e ficou
isento da obrigado de realizar trabalhos manuais.
REFERÊNCIA.
MAGNOLI, Demétrio. Uma gota de sangue:
história do pensamento racial. São Paulo: Contexto, 2009.
SILVA, Fernando Correia (Org.).
Maravilhas do conto africano. São Paulo: Cultrix, 1962.
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