MOURÃO
TROCADO
Da
madeira faço a peça
Da peça
faço a madeira
Da
esteira faço a palha
Da palha
faço a esteira
Mas isso
é grande defeito
Mudar o
feito em desfeito
Só
termina em brincadeira.
MOURÃO
VOLTADO
Volto o
carneiro na vaca
Volto a
vaca no carneiro
Volto a
paca no galheiro
Volto o
galheiro na paca
Volto o
matolão na maca
A maca
no matolão
E o
pecado do perdão
Volto o
perdão no pecado
Isso é
que é mourão voltado
Isso é
que é voltar mourão.
QUADRÃO
Desta
terra brasileira
Encantada
e altaneira
Eu beijo
a sua bandeira
Retrato
desta nação
Seu
verde é uma beleza
O
amarelo a riqueza
Azul e
branco a grandeza
Nos oito
pés em quadrão.
QUADRÃO
PERGUNTADO
Para que
serve o capote?
Pra
gente se agasalhar
Pra que
serve o serrote?
Para a
madeira serrar
Para que
serve o altar?
Para
fazer oração
Para que
serve o sermão?
Pra
gente amar a Jesus
Que
morreu por nós na ruz
Lá se
vai dez a quadrão.
MEIA
QUADRA
Quando
eu disser que é meia quadra
Você diz
que é quadra e meia
Quando
eu disser que é quadra e meia
Você diz
que é meio quadrão.
Quando
eu disser que ovo é pexe
Você diz
que peixe é ovo
Quando
disser que povo é gente
Você diz
que gente é povo
Quando
eu disser que novo é velho
Você diz
que velho é novo
Quando
eu disser que cão é bicho
Você diz
que bicho é cão
Quando
eu disser que pão é bolo
Você diz
que bolo é pão
Quando
eu disser que peia é corda
Você diz
que corda é peia
Quando
eu disser que é meia quadra
Você diz
que é quadra e meia
Quando
eu disser que é quadra e meia
Você diz
que é meio quadrão.
MARTELO
Quando
pego no braço da viola
Sinto a
força que vem da inspiração
E é por
isto que digo com razão
Que meu
verso alimenta e me consola
Pelo
menos, não peço por esmola
Proque
vivo a vender minha poesia
Sou
cigarra que aos poucos se atrofia
Na
cantiga que a vida lhe consome
Se eu
deixar de cantar morro de fome
Que a
cantiga é meu pão de cada dia.
GALOPE À
BEIRA MAR
Na copa
de um grande e viçoso coqueiro
O vento
assobia,c antando toada
E, ao
longe, se avista uma branca jangada
Boiando
nas ondas e sem paradeiro
Em
frente a palhoça, a mulher no terreiro
Acompanha
com a vista o marido a pescar
De tarde
ele volta, ao sol declinar
Com
peixes, produtos do rico labor
E aí
eles trazem caricias de amor
Ao claro
do lua, na beira mar.
TABOADA
GRANDE
De dois
chego a quatro muito cedo
E de
seis para oito não demoro
De dez
para doze nada imploro
De
catorze a dezesseis eu faço medo
De
dezoito pra vinte é meu segredo
Dezenove
a dezessete eu volto já
De
quinze para treze é mais pra cá
De onze
para nove vou voltando
De sete
para cinco estou chegando
E de
três para um eu chego lá.
TABOADA
PEQUENA
Com dois
eu começo o verso
Com
quatro em aumento a trova
Com seis
eu não levo sova
Com outo
eu fiquei disperso
Com dez
eu não sou perverso
Com doze
eu faço zum-zum
Catorze
eu faço jejum
Dezeseis
não me reprove,
Quinze,
treze, onze, nove
Sete,
cinco, três e um.
PARCELA
DE QUATRO
Quero
prova
Nesta
parcela
Minha
querela
Para
rimar
Pode
prestar
Sua
atenção para a lição
Não
esquecer
Cuide em
saber
Sua
feição.
QUEBRA
CABEÇA
Como eu
disser desta vez
Eu digo
e você não diz
Você não
fez mas eu fiz
Eu fiz e
você não fez
Você vai
ao fim do mês
Do mês
você vai ao fim
Sem
chegar perto de mim
Para
fazer como eu faço
Deixo
você no bagaço
Quebra
cabeça é assim.
MOTES
Ei me
criei no sertão
E quase
não tive escola
Mas
aprendi a cantar
Dentro
de toda bitola
Sem sair
do meu terreiro
Nunca me
faltou dinheiro
Cantando
nesta viola.
FONTE:
LEITE FILHO, Aleixo. Cartilha do cantador.
Recife: AESA/FFPA, 1985.