BRINCARTE

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Wednesday, January 21, 2015

A ARTE DOS CANTADORES E REPENTISTAS



MOURÃO TROCADO

Da madeira faço a peça
Da peça faço a madeira
Da esteira faço a palha
Da palha faço a esteira
Mas isso é grande defeito
Mudar o feito em desfeito
Só termina em brincadeira.

MOURÃO VOLTADO

Volto o carneiro na vaca
Volto a vaca no carneiro
Volto a paca no galheiro
Volto o galheiro na paca
Volto o matolão na maca
A maca no matolão
E o pecado do perdão
Volto o perdão no pecado
Isso é que é mourão voltado
Isso é que é voltar mourão.

QUADRÃO

Desta terra brasileira
Encantada e altaneira
Eu beijo a sua bandeira
Retrato desta nação
Seu verde é uma beleza
O amarelo a riqueza
Azul e branco a grandeza
Nos oito pés em quadrão.

QUADRÃO PERGUNTADO

Para que serve o capote?
Pra gente se agasalhar
Pra que serve o serrote?
Para a madeira serrar
Para que serve o altar?
Para fazer oração
Para que serve o sermão?
Pra gente amar a Jesus
Que morreu por nós na ruz
Lá se vai dez a quadrão.


MEIA QUADRA

Quando eu disser que é meia quadra
Você diz que é quadra e meia
Quando eu disser que é quadra e meia
Você diz que é meio quadrão.

Quando eu disser que ovo é pexe
Você diz que peixe é ovo
Quando disser que povo é gente
Você diz que gente é povo
Quando eu disser que novo é velho
Você diz que velho é novo
Quando eu disser que cão é bicho
Você diz que bicho é cão
Quando eu disser que pão é bolo
Você diz que bolo é pão
Quando eu disser que peia é corda
Você diz que corda é peia
Quando eu disser que é meia quadra
Você diz que é quadra e meia
Quando eu disser que é quadra e meia
Você diz que é meio quadrão.


MARTELO

Quando pego no braço da viola
Sinto a força que vem da inspiração
E é por isto que digo com razão
Que meu verso alimenta e me consola
Pelo menos, não peço por esmola
Proque vivo a vender minha poesia
Sou cigarra que aos poucos se atrofia
Na cantiga que a vida lhe consome
Se eu deixar de cantar morro de fome
Que a cantiga é meu pão de cada dia.


GALOPE À BEIRA MAR

Na copa de um grande e viçoso coqueiro
O vento assobia,c antando toada
E, ao longe, se avista uma branca jangada
Boiando nas ondas e sem paradeiro
Em frente a palhoça, a mulher no terreiro
Acompanha com a vista o marido a pescar
De tarde ele volta, ao sol declinar
Com peixes, produtos do rico labor
E aí eles trazem caricias de amor
Ao claro do lua, na beira mar.


TABOADA GRANDE

De dois chego a quatro muito cedo
E de seis para oito não demoro
De dez para doze nada imploro
De catorze a dezesseis eu faço medo
De dezoito pra vinte é meu segredo
Dezenove a dezessete eu volto já
De quinze para treze é mais pra cá
De onze para nove vou voltando
De sete para cinco estou chegando
E de três para um eu chego lá.

TABOADA PEQUENA

Com dois eu começo o verso
Com quatro em aumento a trova
Com seis eu não levo sova
Com outo eu fiquei disperso
Com dez eu não sou perverso
Com doze eu faço zum-zum
Catorze eu faço jejum
Dezeseis não me reprove,
Quinze, treze, onze, nove
Sete, cinco, três e um.


PARCELA DE QUATRO

Quero prova
Nesta parcela
Minha querela
Para rimar
Pode prestar
Sua atenção para a lição
Não esquecer
Cuide em saber
Sua feição.

QUEBRA CABEÇA

Como eu disser desta vez
Eu digo e você não diz
Você não fez mas eu fiz
Eu fiz e você não fez
Você vai ao fim do mês
Do mês você vai ao fim
Sem chegar perto de mim
Para fazer como eu faço
Deixo você no bagaço
Quebra cabeça é assim.

MOTES

Ei me criei no sertão
E quase não tive escola
Mas aprendi a cantar
Dentro de toda bitola
Sem sair do meu terreiro
Nunca me faltou dinheiro
Cantando nesta viola.

FONTE:
LEITE FILHO, Aleixo. Cartilha do cantador. Recife: AESA/FFPA, 1985.
 
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