LEONARDO
DA VINCI – O polímata italiano Leonardo di Ser Piero da Vinci (1452-1519) foi
uma das personagens mais representativas do Alto Renascimento, destacando-se
pintor, escultor, arquiteto, poeta, músico, cientista, inventor, entre outras
expressões nas mais diversas áreas do conhecimento, sendo considerado o
precursor da aviação e da balística, bem como o arquétipo do homem renascentista
e reverenciado até hoje por sua engenhosidade tecnológica.
Entre
as suas obras, há um legado de contos e fábulas que possuíam uma finalidade
moral com personagens representados pela água, pelo fogo, pelo ar, plantas e
animais. Eis algumas dessas fábulas:
A
ÁGUA
Certo dia, um pouco de água desejou sair de seu lugar habitual, no lindo
mar, e voar para o céu.
Então a água pediu ajuda ao fogo. O fogo concordou e, com seu calor,
transformou a água em vapor, tornando-a mais leve que o ar.
O vapor partiu para o céu, subindo cada vez mais alto, até finalmente
atingir a camada mais fria e mais rarefeita da atmosfera. Então as partículas
de água, enregeladas de frio, tornaram a se unir e voltaram a ser mais pesadas
que o ar. E caíram sob a forma de chuva. Não se limitaram a cair, mas jorraram
como uma cascata em direção a terra.
A arrogante água foi sugada pelo solo seco e, pagando caro por sua
arrogância, ficou aprisionada na terra
A
ÁRVORE E A VARA
Uma árvore que crescia lindamente, erguendo em direção ao céu sua copa de
tenras folhas, reclamou da presença de uma vara de madeira velha e seca que
estava ao seu lado.
- Vara, você está perto demais de mim. Não pode chegar mais para lá?
A vara fingiu nada ouvir e não deu resposta.
Em seguida a árvore virou-se para a cerca de espinhos que a circundava.
- Cerca, você não pode ir para outro lugar? Você me irrita.
A cerca fingiu nada ouvir e não deu resposta.
- Linda árvore - disse um lagarto, levantando sua sábia cabecinha para
olhar para a árvore - você não vê que a vara está mantendo você reta? Não
percebe que a cerca está protegendo você contra as más companhias?
A
LAGARTA
Imóvel sobre uma folha, a lagarta olhou em torno e viu todos os insetos
em contínua movimentação. Alguns cantando, outros saltando, outros ainda
correndo e voando. Pobre criatura, era a única que não tinha voz e que não
sabia nem correr nem voar.
Com grande esforçou começou a mover-se, mas tão lentamente que quando
passou de um folha para outra sentiu-se como se tivesse dado a volta ao mundo.
No entanto não tinha inveja de ninguém. Sabia que era uma lagarta e que
as lagartas precisam aprender a tecer finos fios, com grande habilidade, até
construírem uma casinha para si mesmas.
E então pôs-se a trabalhar.
Dentro em breve a lagarta estava envolvida num macio casulo de seda,
separada de todo o resto do mundo.
- E agora? - pensou ela.
- Agora espere - respondeu uma voz - tenha um pouco de paciência e você
verá.
Quando chegou o momento a lagarta acordou, e não era mais uma lagarta.
Saiu do casulo com duas lindas asas brilhantes e coloridas, e
imediatamente voou bem alto no céu
OS
PÁSSAROS E SEU INSTINTO
Era uma vez dois ninhos no mesmo jardim. Um ficava num cipreste e o outro
numa oliveira.
Um dia o passarinho que morava no cipreste roubou um ovo do que morava na
oliveira e juntou-o aos ovos que estava chocando.
Passado algum tempo os ovos de ambos os ninhos abriram e os filhotes
nasceram. Cresceram e tornaram-se cobertos de penas, e finalmente chegou o
grande dia de seu primeiro vôo.
Um após o outro, os filhotes que moravam na oliveira atiraram-se ao
espaço, deram uma volta e voltaram felizes para seu ninho.
Um após o outros os filhotes que moravam no cipreste atiraram-se ao ar e
voaram pelo jardim. Porém um deles, em vez de voltar para o cipreste, vôou para
o ninho que ficava na oliveira.
Era o passarinho que nascera do ovo roubado, voltando instintivamente
para sua verdadeira mãe
O FALCÃO E O PATO
Sempre que partia à caça de patos, o nobre falcão ficava furioso. Os
patos quase sempre conseguiam fazê-lo de tolo, mergulhando sob a água na última
hora e permanecendo submersos por mais tempo do que ele podia pairar no ar à
espera.
Certa manhã, o falcão resolveu tentar novamente. Depois de rodar em
círculos durante algum tempo, para analisar a situação e escolher atentamente o
pato que pretendia apanhar, a nobre ave de rapina atacou-o com a velocidade de
um raio. Mas o pato foi mais rápido e mergulhou a cabeça.
- Desta vez eu vou atrás de você - gritou o falcão enfurecido. E
mergulhou também.
O pato, vendo o falcão debaixo d'água, tomou um impulso com o rabo, subiu
a superfície, abriu as asas e começou a voar. As penas do falcão estavam
encharcadas e ele não conseguiu voar.
Os patos sobrevoaram-no dizendo:
- Adeus, falcão! Nós podemos voar no seu céu, mas na nossa água você
afunda!
A FIGUEIRA
Era uma vez uma figueira que não dava frutos. Todos passavam por ela sem
olhá-la.
Durante a primavera as folhas cresciam, mas quando chegava o verão, e as
outras árvores estavam carregadas de frutos, nada aparecia em seus galhos.
- Eu gostaria tanto que me apreciassem! - suspirou a figueira - queria só
produzir frutos como as outras árvores!
Tentou e tornou a tentar até que, em certo verão, viu-se carregada de
figos. O Sol fez os figos crescerem e incharem, tornando-os doces e perfumados.
Todos repararam nisso. Jamais alguém tinha visto uma figueira tão
carregada de frutos. E imediatamente houve uma correria para ver quem colhia
mais figos. Subiram pelo tronco. Curvaram os galhos mais altos com varas
compridas e o peso das pessoas fez com que alguns ramos ficassem partidos.
Todos tentavam roubar os deliciosos figos, e em breve a pobre figueira viu-se
toda torta e quebrada.
Moral da Estória: Portanto, àqueles que querem chamar a atenção pode
acontecer, para sua desgraça, receberem mais do que desejam.
A BORBOLETA E A CHAMA
Uma borboleta multicor estava voando na escuridão da noite quando viu, ao
longe, uma luz. Imediatamente voou naquela direção e ao se aproximar da chama
pôs-se a rodeá-la, olhando-a maravilhada. Como era bonita!
Não satisfeita em admirá-la, a borboleta resolveu fazer o mesmo que fazia
com as flores perfumadas. Afastou-se e em seguida vôou em direção à chama e
passou rente a ela.
Viu-se subitamente caída, estonteada pela luz e muito surpresa por
verificar que as pontas de suas asas estavam chamuscadas.
- Que aconteceu comigo? - pensou ela.
Mas não conseguiu entender. Era impossível crer que uma coisa tão bonita
quanto a chama pudesse causar-lhe algum mal. E assim, depois de juntar um pouco
de forças, sacudiu as asas e levantou vôo novamente.
Rodou em círculo e mais uma vez dirigiu-se para a chama, pretendendo
pousar sobre ela. E imediatamente caiu, queimada, no óleo que alimentava a
brilhante e pequenina chama.
- Maldita luz - murmurou a borboleta agonizante - pensei que ia encontrar
em você a felicidade e em vez disso encontrei a morte. Arrependo-me desse tolo
desejo, pois compreendi, tarde demais, para minha infelicidade, o quanto você é
perigosa.
- Pobre borboleta - respondeu a chama - eu não sou o Sol, como você
tolamente pensou. Sou apenas uma luz. E aqueles que não conseguem aproximar-se
de mim com cautela são queimados.
Moral da Estória: Esta fábula é dedicada àqueles que, como a
borboleta, são atraídos pelos prazeres mundanos, ignorando a verdade. Então,
quando percebem o que perderam, já é tarde demais