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Wednesday, July 16, 2014

A LITERATURA INFANTIL DE JEAN PIERRE DE FLORIAN


JEAN PIERRE DE FLORIAN – O escritor e dramaturgo francês Jean Pierre Claris de Florian (1755 – 1794), era sobrinho do filósofo Voltaire que o fez aos dez anos de idade ler as fábulas de La Fontaine. Escreveu ele poesias e romances, e inspirado nas comédias do teatro jovem italiano os Arlequinades, em 1784, além dos romances pastorais em prosa e verso Os dois projetos de lei (1782), Juanito e Coleta, Guilerme Tel ou liberdade da Suiça e as famosas fábulas, em 1792. Envolveu-se com o movimento revoluycionário, foi preso e escapou da guilhotina com a queda de Robespierre, falecendo logo depois. Entre as suas fábulas infantis estão A fábula e a verdade, O rinoceronte e camelo, O gato e o espelho, O gato e o telescópio, O grilo, O menino e o espelho, O vestido de arlequin, entre outras. Destacamos algumas.


OS DOIS LEÕES

Um dia dois leões, sob um sol muito forte, chegaram a um grande lago morrendo de sede. Este era um lago enorme, com muita água, o bastante para saciar a sede de muitos animais. Mas, apesar de sentirem muita sede, motivo que os levara a procurar por uma fonte de água, quando chegaram à beira do lago, nenhum dos dois quis a companhia do outro. O orgulho e a vaidade falaram mais alto. Cada um queria ser o primeiro a beber da água, sem dar chance ao outro. Eles se olharam com muita maldade. Encresparam as jubas para a luta, e seus corpos se encurvaram de maneira ameaçadora, prontos. Cada qual se preparou para um bote mortal. Altercaram-se com rugidos aterradores, alertando toda a vizinhança. Engalfinharam-se numa luta sem igual. Os dois, igualmente fortes e ferozes, atracaram-se rolando pelo chão. Machucaram-se um ao outro, cada um ferindo o inimigo sem piedade. Ao final, caíram exaustos lado a lado. Cada qual com o corpo coberto de feridas e sangrando, com muitas marcas deixadas pelo rival. Cada um se arrastou devagarinho até as margens do lago. Os dois beberam da água cristalina ao mesmo tempo, e também caíram mortos no mesmo lugar. Acabaram, lado a lado, juntos na morte tal como não o haviam sido na vida.

O CAVALO E O POTRO

Nunca tendo conhecido a sujeição férrea do homem tirano, um venerável cavalo que ficara viúvo vivia com um único filho. Criou-o num prado, onde os regatos, as flores e a sombra convidativa ofereciam imediatamente tudo quanto era necessário para a felicidade deles.
Abusando daqueles gozos, conforme é habitual na juventude, o potro enchia-se diariamente de trevo, passava o tempo brincando pelo prado florido, galopava de cá para lá sem objetivo, tomava banho quando não era necessário ou descansava quando não estava fatigado.Preguiçoso e gordo, o jovem solitário tornou-se enfastiado, cansado de nada ter a desejar. Depressa, seguiu-se a repulsa pelo lugar, e procurando o pai, disse-lhe:
- Já há algum tempo que não me sinto bem. Essa relva não é saudável e está me matando. Esse trevo não tem cheiro, essa água é lodosa. O ar que aqui respiramos ataca-me os pulmões. Numa palavra, morrerei, a não ser que saiamos daqui.
- Já que se trata de tua vida, meu querido filho – respondeu o pai, partiremos imediatamente.
Assim dito e assim feito. Lá se foram os dois, imediatamente, em procura de um novo lar.
O jovem viajante relinchava de puro júbilo. O velho, menos alegre, caminhava pausadamente, adiante, fazendo o filho subir montanhas íngremes e áridas, sem um tufo de erva, e onde nada havia que lhes pudesse fornecer a menor nutrição.
Chegou à noite, mas não encontraram pasto.
No dia seguinte, quase exaustos pela fome, contentaram-se com algumas urzes raquíticas. Dessa vez o potro não galopava. Dois dias depois mal conseguia arrastar uma perna depois a outra.
Considerando que a lição já durara o suficiente, o pai voltou, através de estrada desconhecida do filho, reconduziu-o ao antigo prado, em meio à noite. Mal o potro descobriu um pouco de relva fresca, atirou-se a ela com avidez:
- Ah, que banquete delicioso! Que belo pasto! – exclamou ele. -  Já alguma vez existiu algo tão doce e macio? Meu pai, não devemos seguir viagem. Vamos morar para sempre nesse lugar adorável: que outra região se poderá comparar a esse refúgio rural?
Enquanto ele assim falava o dia se pôs a clarear, e o potro, reconhecendo o prado que tão recentemente deixara, baixou os olhos, muito envergonhado.
O pai lhe disse, então, suavemente:
- Meu querido filho, no futuro recorda-te desta máxima:
Moral: Quem se diverte demais, depressa se enjoa do prazer. Para sermos felizes temos de ser moderados

OS DOIS VIAJANTES

Thomas e seu amigo Compadre Lubin
caminharam até a cidade vizinha.
Thomas encontra no caminho,
um saco cheio de moedas.
Coloca-o no bolso. Lubin, com grande satisfação,
diz: "Que sorte que tivemos".
Não - responde friamente Thomas -;
"Nós" não está certo, nós dissemos: "Eu vou" é mais correto.
Lubin não se atreveu a resmungar.
Mas, para deixar o apartamento,
ladrões ocultos encontrados na floresta.
Thomas, balançando e não sem motivo,
diz: "Nós estamos perdidos." Não - respondeu-Lubin
"Nós" não é muito lógico; "Você" é outra coisa.
Dito isso, eles escapam pela floresta.
Dominado pelo medo, Thomas logo foi alcançado
e deve entregar o saco.

O LEÃO E O LEOPARDO

Um leão corajoso, rei de uma vasta planície,
Queria dominar uma grande parte,
E ele queria conquistar uma floresta próxima,
Herança de um leopardo.
Ataque não era muito difícil para ele;
Mas o leão tinha medo de panteras e ursos,
Assim, o monarca hábil resolveu adequadamente o problema.
O jovem leopardo, com o pretexto de honra,
delegou a um embaixador:
Era o velho, capaz e popular Fox.
Primeiro, o jovem leopardo comemora sua prudência,
Elogia-o em paz, bondade, doçura,
Sua justiça e caridade;
Então, em nome de uma parceria propõe o leão
Para limpar tudo para que o vizinho valorizasse a sua força.
O leopardo aceitou; e a partir do dia seguinte,
Nossos dois heróis em suas fronteiras,
Coma os melhores ursos e panteras;
Tudo foi feito em breve;
Mas quando os reis amigos
Compartilhando o país conquistado,
fixou seus olhos em seu novo limite,
Seguiu-se algumas lutas.
O leão ao leopardo ferido reclamou;
Isso mostrou seus dentes falsos para mostrar quem era o chefe;
Para encurtar a história, houve vários golpes.
No final da aventura, veio a morte do leopardo:
Ele aprendeu um pouco tarde
Isso é contra as boas maneiras, leão
Unidos são pequenos ursos e panteras.

FONTES
ALÃO, Carolina; SABLER, Antonio. As fábulas de Florian. Rio de Janeiro: Edita-me, 2010.
CYRINO, Elidionete. Os valores ocultos nas fábulas: produção didático-pedagógica. Paranavaí: SEED/PDE, 2012.
FLORIAN, Jean Pierre. Fábulas do mundo inteiro.São Paulo: Cultrix, 1990.
PINTO, Alfredo. Seleta em prosa e verso dos melhores autores brasileiros e portugueses. Livraria Selbach, 1883.