BRINCARTE

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Thursday, July 17, 2014

AS FÁBULAS DE THOMAS YRIARTE



THOMAS YRIARTE – O escritor e dramaturgo espanhol Thomas Yryarte (também escrito como Tomás de Iriarte 0 1750-1791), foi um dos fabulistas mais importantes do século XVIII. As suas Fábulas Literárias, publicadas em 1782, foi o seu maior sucesso e que lhe granjeou grande popularidade, reunindo uma série de poemas satíricos e moralizantes que encerram muitas vezes a burla feroz entre os envolvidos. Aplicou nessa obra os preceitos classicistas com as ideias que eram predominantes no seu tempo, utilizando-se das regras da universalidade, da unidade formal e do didatismo. Das suas fábulas destacamos O elefante e outros animais (Fábula 1):


O ELEFANTE E OUTROS ANIMAIS (FÁBULA I)

Lá nos tempos antigos,
E em terra mui remotas,
Quando os brutos falavam
Tal ou qual geringonça,
Vendo o fabio elefante,
Que entre eles era moda,
Incorrer em abufos,
Que merecem reforma
Afer-lhe pretende,
E pra isso os convoca
Depois que a cortesia
A todos fez com a tromba;
Entra a persuadi-los
Com uma arenga douta,
Que para aquele intento
Eludou de memória,
Abominando esteve
Por dum quarto de hora
Mil ridículas faltas,
Mil modas viciosas,
A preguiça nociva
A perfumpção vaidosa,
A arrogante ignorância,
A inveja venenosa.
Em extremos golosos
Estavam, aberta a boca,
Ouvindo seus conselhos
Alguns deles em roda:
O cordeiro inocente,
A abelha artificiosa,
O leal perdigueiro
A sempre fiel pomba,
O destro pintasilgo,
A simples mariposa,
O cavalo obediente,
A formiga engenhosa.
Mas daquele auditório,
Grande parte desdenhosa,
Ofendida não pode
Sofrer tanta pachola:
Eis que o tigre e o lobo
Contra o censor panojas:
Que de injurias vomita!
A serpente venenosa!
Ofendidos diziam,
Mofando em vozes roucas,
O zangão e a vespa
O besouro e a mosca
Sairam do concurso,
Sem ouvir suas glorias,
A toupeira, o milhafre,
A cigarra danosa,
A foinha se encolhe
Dissimula a raposa;
E o macaco insolente
De todos eles zomba.
Inflava o elefante,
Olhanco com pachorra;
E o fez arrazoado
Concluiu desta forma:
A nenhum, mas a todos
Minha prática toca:
Quem a sente se culpa,
E quem não, que a ouça.
Quem ler as minhas fábulas,
Saiba também que todas
Falam com mil nações,
Não só com a espanhola:
Nem falam destes tempos;
Porque defeitos notam
Sempre os houve no mundo,
Como há também agora.
Como pois não criticam,
Desatinadas pessoas
Se alguem as aplicar
Para si gaurde a glória.

Fonte:
YRIARTE, Thomas. Fábulas literárias. Porto: Mallen, Filhos & Cia, 1796.