THOMAS YRIARTE – O
escritor e dramaturgo espanhol Thomas Yryarte (também escrito como Tomás de
Iriarte 0 1750-1791), foi um dos fabulistas mais importantes do século XVIII.
As suas Fábulas Literárias,
publicadas em 1782, foi o seu maior sucesso e que lhe granjeou grande
popularidade, reunindo uma série de poemas satíricos e moralizantes que
encerram muitas vezes a burla feroz entre os envolvidos. Aplicou nessa obra os
preceitos classicistas com as ideias que eram predominantes no seu tempo,
utilizando-se das regras da universalidade, da unidade formal e do didatismo.
Das suas fábulas destacamos O elefante e
outros animais (Fábula 1):
O ELEFANTE E OUTROS ANIMAIS (FÁBULA I)
Lá nos tempos antigos,
E em terra mui
remotas,
Quando os brutos
falavam
Tal ou qual
geringonça,
Vendo o fabio
elefante,
Que entre eles era
moda,
Incorrer em
abufos,
Que merecem
reforma
Afer-lhe pretende,
E pra isso os
convoca
Depois que a
cortesia
A todos fez com a
tromba;
Entra a
persuadi-los
Com uma arenga
douta,
Que para aquele
intento
Eludou de memória,
Abominando esteve
Por dum quarto de
hora
Mil ridículas
faltas,
Mil modas
viciosas,
A preguiça nociva
A perfumpção
vaidosa,
A arrogante
ignorância,
A inveja venenosa.
Em extremos
golosos
Estavam, aberta a
boca,
Ouvindo seus
conselhos
Alguns deles em
roda:
O cordeiro
inocente,
A abelha
artificiosa,
O leal perdigueiro
A sempre fiel
pomba,
O
destro pintasilgo,
A
simples mariposa,
O
cavalo obediente,
A
formiga engenhosa.
Mas
daquele auditório,
Grande
parte desdenhosa,
Ofendida
não pode
Sofrer
tanta pachola:
Eis
que o tigre e o lobo
Contra
o censor panojas:
Que
de injurias vomita!
A
serpente venenosa!
Ofendidos
diziam,
Mofando
em vozes roucas,
O
zangão e a vespa
O
besouro e a mosca
Sairam
do concurso,
Sem
ouvir suas glorias,
A
toupeira, o milhafre,
A
cigarra danosa,
A
foinha se encolhe
Dissimula
a raposa;
E
o macaco insolente
De
todos eles zomba.
Inflava
o elefante,
Olhanco
com pachorra;
E
o fez arrazoado
Concluiu
desta forma:
A
nenhum, mas a todos
Minha
prática toca:
Quem
a sente se culpa,
E
quem não, que a ouça.
Quem
ler as minhas fábulas,
Saiba
também que todas
Falam
com mil nações,
Não
só com a espanhola:
Nem
falam destes tempos;
Porque
defeitos notam
Sempre
os houve no mundo,
Como
há também agora.
Como
pois não criticam,
Desatinadas
pessoas
Se
alguem as aplicar
Para
si gaurde a glória.
Fonte:
YRIARTE, Thomas.
Fábulas literárias. Porto: Mallen, Filhos & Cia, 1796.