FÁBULAS DE FEDRO –
O fabulista romano Caius Iulius Paedro (15 a.C. – 50 .a.C. – Caio Julio Fedro)
adaptou as fábulas de Esopo para versões metrificadas com estulo claro e direto
que evitavam a forma retória do seu tempo e com especial ênfase no aspecto
moral das história das animais e divulgadas nos tempos de Tibério e Calígula. A
ele é atribuído o mérito de ter fixado a forma literária da fábula e com isso,
teve início o segundo período na era medieval com as inovações formais
promovidas por Fedro que dispõe de habilidade com os artifícios da composição,
escrevendo com versos jâmbicos, que se identificam como sátiras amargas bem ao
sabor do gosto latino, contra os costumes e pessoas do seu tempo. Como uma arma
de combate, sóbria, correta e seca, deixa transparecer nas entrelinhas a
revolta do autor contra as injustiças. Entre as suas fábulas estão a Prefação
das fábulas: “Eu poli a matéria em versos jambos, / Qual primeiro inventou autor
Esopo; / Dois dotes tem o livro: move a riso, / E com sábio conselho ensina os
homens. / Se alguém quiser tachar-nos, porque falam / Não só feras, mas
árvores, repare, /Que com fingidas fábulas brincamos”.
O GALO E A PÉROLA
Um Galo comilão andava pela quinta à procura de
comer. De repente, viu uma coisa a brilhar no chão.
- Olá! Isto é para
mim – pensou ele enquanto desenterrava o que encontrara.
Mas o que era
aquilo? Nada mais, nada menos, do que uma pérola que alguém perdera.
Desdenhoso, o Galo murmurou:
- Podes ser um
tesouro para as pessoas que te apreciam. Mas, no que me diz respeito, trocava
de bom grado uma espiga de milho por um punhado de pérolas iguais a ti.
O CAVALO E O JAVALI
Todos os dias o
cavalo selvagem saciava sua sede em um rio raso. Ali também acudia um javali
que, ao remover o barro do fundo com as patas e o focinho, deixava a água
turva.
O cavalo lhe pediu
que tivesse mais cuidado, mas o javali se ofendeu e o chamou de louco. Acabaram
se encarando com ódio como os piores inimigos.
Então o cavalo selvagem, cheio de ódio foi pedir ajuda ao homem.
- Eu enfrentarei esta besta disse o homem mas deves permitir que eu
monte em ti.
O cavalo aceitou e saíram em busca do inimigo.
Encontraram-no próximo do bosque e antes que pudesse se esconder, o homem
acertou a sua lança e o matou.
Livre do javali o cavalo entrou no rio para beber em suas águas claras,
certo de que não voltaria a ser molestado.
Mas o homem não pensava desmontar.
- Fico feliz de haver te ajudado lhe disse, não só matei esta besta que
me alimentará e seu couro me vestirá, senão também capturei um esplêndido
cavalo.
E, mesmo resistindo, o obrigou a fazer a sua vontade e lhe pôs rédeas e
cabresto.
Ele que sempre havia sido livre como o vento, pela primeira vez em sua
vida teve que obedecer à um dono. Ainda que a sua sorte estava lançada, desde
então se lamentou noite e dia:
- Burro de mim! Os incômodos que me causava o javali não eram nada
comparados com isto! Por dar valor demais a um assunto sem importância,
terminei sendo escravo!
Às vezes com o afã de castigar o mal que nos fazem, nos aliamos com que
tem intenções de nos dominar.
A RÃ E O BOI
Estavam
duas Rãs à beira de um charco quando a mais nova comentou:
- Comadre, hoje vi um monstro terrível: era
maior do que uma montanha, tinha chifres e uma longa cauda.
- O que viste foi apenas o Boi do lavrador -
esclareceu a Rã mais velha. - E, além disso, não é assim tão grande... Eu posso
ficar do tamanho dele. Ora observa.
Dito isto, começou a inchar e a esticar-se
muito, muito...
- O Boi era tão grande como eu? - perguntou
ela quando já estava tão grande como um Burro.
- Ó, muito maior! - respondeu a jovem Rã.
Então a Rã mais velha respirou fundo e inchou,
inchou... até que rebentou.
O LOBO E O CORDEIRO
Ao mesmo rio vieram, compelidos pela sede, o lobo e o cordeiro.
O lobo estava mais acima e o cordeiro bem mais abaixo. Então o predador
, incitado por sua goela maldosa, encontrou motivo de rixa: “Estou a beber e tu
poluis a água!”.
O lanoso, tímido, responde:
“Como posso fazer isso de que te queixas, ó lobo? De ti para meus goles
é que o liquido corre”.
Repelido pela força da verdade, ele replicou:
“Cerca de seis meses atrás, falaste mal de mim”.
O cordeiro retruca: “Eu? Então eu sequer era nascido…”.
- Por Hércules!, teu pai é que me destratou!
Em seguida, dilacera a presa, dando-lhe morte injusta.
Escrevi esta fábula por causa daqueles indivíduos que oprimem os
inocentes por razões fictícias.