(Imagem: J. Lanzelotti – recolhida do livro Estória e
Lendas dos Indios, organizada por Herbert Galdus, São Paulo: Edigraf, s/d)
Sentado junto
de um igapó, o sapo viu chegar a onça, a grande inimiga de todos os bichos
desde que lhe roubaram o fogo.
- Ah! É
você: -, perguntou o sapo na vozinha mais doce de que foi capaz.
- E quem
é você, tão pequenino, fraco e feio, que está se dirigindo a mim? -, perguntou
a onça.
O sapo
não se sentiu humilhado e até propôs:
- Você,
Onça, me acha fraco e feio. Pois bem, vamos ver qual de nós dois é o mais valenete?
A
princípio, o felino não deu importância ao desafio de rival tão insignificante,
mas como ele insistisse, acabou por aceitar.
- Mie
você primeiro -, disse o sapo – Depois eu coaxarei e vamos ver quem sentirá
medo!
A onça
soltou um miado tão longo e profundo que a terra tremeu. Tomados de pânico,
todos os animais das florestas vizinhas fugiram para longe. Somente o sapo,
calmo e confiante, permaneceu imóvel.
- Coaxe
agora, você, Sapo! -, debicou a onça.
O sapo
limitou-se a erguer o queixo e a soltar um coaxo surdo, em nada diferente da
sua voz natural. Mas, no mesmo instante, todos os demais sapos que habitavam o
igapó fizeram coro com ele. eram sapos de todas as espécies: jias, rãs,
cururus, sapos da lama e sapos das árvores, erguendo os queixinhos, fizeram ruidosa
coaxação.
A onça
deitou a correr e tão precipitada foi a sua fuga que um toco arrancou um olho.
(Recolhido
de Mitos dos índios caiapós, de Horace Banner, Revista de Antropologia, vol. 5,
nº 1, São Paulo, 1957).
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