A LINGUAGEM DAS CRIANÇAS – Os psicolinguístas estão preocupados com a
compreensão, produção e aquisição da linguagem, procurando saber quais os
processos mentais que envolvem a linguagem. Nesse sentido, definem a existência
de processos de comunicação: reflexiva e proposital. A comunicação reflexiva
consiste em padrões estereotipados para essa finalidade, enquanto que a
comunicação proposital possui a finalidade de causar um efeito sobre o receptor
da informação e a resposta desse receptor influencia a continuidade da
comunicação.
A estruturação da linguagem se dá por meio da ordenação, significação,
função social e criatividade da linguagem. A ordenação compreende as regras da
gramática e a sintaxe, sendo, pois, a formação de palavras em sentença
essencial para a transmissão do pensamento. A significação compreende o
processo semântico. A função social compreende o compartilhamento de
informações e ideias, enquanto os interlocutores são capazes de inferir o
significado de determinadas informações. Já a criatividade compreende a criação
de palavras, frases e sentenças, sob o entendimento de que a linguagem apesar
de padronizada é flexível.
A produção da fala, conforme as teorias de Noan Chomsky, se dá por meio
da expressão de fonemas, morfemas, frases e sentenças submetidas às regras
sintáticas, dentro de duas estruturas: superficial e subjacente. A estrutura
superficial compreende frases precisas que expressam pensamentos. Já a
estrutura subjacente compreende as atitudes e pensamentos básicos
corporificados nas palavras.
A compreensão da fala se dá pela construção de esquemas que são redes de
conhecimento, sendo, pois, um exercício de solução de problemas. A compreensão
e a produção da fala desenvolvem-se em ritmos diferentes.
A aquisição da linguagem se dá a partir da emissão de sons, balbucios,
fala holofrástica, combinação de palavras aleatórias e linguagem telegráfica.
Essa aquisição depende da hereditariedade, do ambiente e da inteligência
parental, principalmente da atenção e afeto dos pais.
Há período sensível para aquisição da linguagem, compreendida entre a
idade dos dois anos até a puberdade, quando a experiência tem um impacto
substancial devido o amadurecimento do cérebro, flexibilidade e maturação.
A Teoria do Dispositivo da Linguagem (LAD), proposta por Noam Chomsky,
entende que as pessoas nascem com equipamento mental que possibilita descobrir
regras para aglutinar sentenças aceitáveis, defendendo a propensão inata para a
linguagem, pois as crianças possuem mecanismo biológico universal, capacidades
especiais de linguagem e especialização dos aparatos humanos da fala. Por essa
teoria, as crianças adquirem a linguagem porque a escutam.
A Teoria da Solução de Problemas compreende que a linguagem se
desenvolve no contexto das necessidades e desejos. O uso da linguagem é uma
forma de persuadir os outros a cooperar. Assim, as crianças aprendem a se
comunicar no contexto de solução dos problemas enquanto interagem com os pais. Sob
essa perspectiva a linguagem infantil é lenta, curta, repetitiva em tom agudo,
exagerada, focada aqui e agora, simples de som, vocabulário, sentença e significado.
Há nesse contexto a parêntese que é a linguagem consistente e fácil efetuada
por meio da uma ação conjunta, ou seja, as crianças usam método de teste de hipótese
para deslindar as leis da linguagem. Para essa teoria, devem ocorrer
oportunidades das crianças participarem das conversas, sendo tratadas como
parceiras em diálogos, usando sentenças apropriadas a competências correntes.
A Teoria do Condicionamento proposta por Skinner, defende que aprende-se
a linguagem por processos mecânicos, imitando a linguagem que ouvem, ou seja,
palavras associadas a eventos, objetos ou ações, aprendendo o que significam. Pra
essa teoria, as consequências da fala dependem de condicionamento operante,
pois, pedidos são atendidos, perguntas são respondidas. Assim, quando um ato é
repetido e reforçado, torna-se reforçador aumentando a probabilidade de ocorrência
com recompensas pela precisão, utilizando-se da modelagem de palavras e a associação
a objetos que apressam a aquisição da linguagem, utilizando-se da imitação, da associação
e da linguagem.
Para a Teoria da Solução de Problemas o ensino deliberado proposto por
Skinner é contraproducente porque os pais concentram-se antes em superficialidades
do que em hipóteses errôneas.
Por fim, a metacognição compreende a consciência da própria cognição, ou
seja, se aprende olhando, opina sobre a memória, formula estratégia para
resolver problemas e monitora a linguagem. É conhecimento sobre o conhecimento,
controle e regência do próprio pensamento. As capacidades metacognitivas compreendem
monitorar o progresso e corrigir os erros.
REFERÊNCIAS
BRAZELTON, T. Berry; SPARROW, Joshua. 3
a 6 anos: momentos decisivos do desenvolvimento infantil. Porto Alegre: Artmed,
2003.
CHOMSKY, Noam. Aspectos da teoria da
sintaxe. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
COLE, Michael; COLE, Sheila. O
desenvolvimento da criança e do adolescente. Porto Alegre: Artmed, 2003.
CORSINO, Patrícia. Linguagem na educação infantil:
brincadeiras com as palavras e as palavras como brincadeiras. In: BRASIL. Cotidiano
na educação infantil. Brasília: Mec/SEED, 2006.
DAVIDOFF, Linda. Introdução à psicologia. São Paulo: Makron Books, 2001.
HJELMSLEV, Louis T. A estratificação da linguagem. São Paulo: Abril
Cultural, 1978.
JAKOBSON, Roman. Relações entre a ciência da linguagem e as outras
ciências. Rio de Janeiro: Martins Fontes/Livraria Bertrand, 1974.
______. Fonema e fonologia. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
MALANGA, Eliana. Linguagens e
pensamento: introdução a uma abordagem interdisciplinar entre a psicopedagogia
e a semiologia para a compreensão e construção do pensamento. Cadernos de Psicopedagogia. v.3, n.6, São Paulo,
jun. 2004.
MUSSEN, Paul. O desenvolvimento psicológico da
criança. São Paulo: Zahar, 1972.
SAUSSURE, Ferdinand. As palavras sob as palavras. São Paulo: Abril
Cultural, 1978.
SOUZA, Maria Dolores. A
expressão plástica infantil com ênfase na história da educação. Revista
HistedBR, Campinas,
n.18, p. 80 - 92, jun. 2005.