ESCRITA
INFANTIL – Tratar da temática
“Escrita infantil” considera-se a aprendizagem a partir da alfabetização e
letramento, observando de que forma as crianças efetuam a aquisição da
linguagem escrita, observando de que forma a criança constrói seu conhecimento
sobre a escrita e quais podem ser as dificuldades detectadas para a realização
deste processo. Estudos realizados com base nas teorias construtiva e sócio-interacionistas
entendem que conhecer como se dá o processo de aquisição e desenvolvimento da
língua escrita pela criança, no início de sua aprendizagem, e entender a
natureza desse objetivo, a língua escrita, são questões fundamentais que o
professor precisa saber, para entender e respeitar o processo e desenvolvimento
da criança. A escrita, portanto, segundo Ferreiro (2001, p.10), pode ser
concebida como um sistema de código e de representação: “Como código, os
elementos já vêm prontos e como representação, a aprendizagem se constitui em
uma construção pela criança. Ao trabalhar a escrita como código, o ensino
privilegia os aspectos preceptivo e motor, relação grafia e som e o significado
é desconsiderado”. Por essa razão, a escrita, nas idéias de Seber (1997, p.
222) deve ser considerada como “tendo posição privilegiada em todo processo de
desenvolvimento” na progressão das notações gráficas das crianças. Com isso
quer dizer a autora que o domínio da língua escrita é dependente de algumas
habilidades, como a de reconhecimento de letras, exercício dos seus traçados,
denominação dessas letras e das silabas que elas permitem compor, transcrição
dos sons da fala em seus equivalentes gráficos ou o inverso. Isto porque,
conforme Rego (1995, p.38) "As crianças descobrem sobre a língua escrita
antes de aprender a ler". É que a autora entende na busca de estabelecer
uma comparação entre o processo da aquisição da linguagem oral e o da escrita,
ficou evidenciado que em seus estudos as crianças adquirem a linguagem oral
quando envolvidas em contextos comunicativos em que essa linguagem é
significativa para elas, da mesma forma pode-se constatar que, se uma criança
vive numa cultura letrada, na qual ela pode presenciar ou vivenciar situações
significativas de uso da leitura ou escrita, inicia-se aí o processo de
aprendizagem dessa linguagem. Desse modo, se nas interações com os sujeitos da
cultura, ela participa de situações onde se torna necessário, por exemplo,
consultar placas de sinalização ou um catálogo para achar um endereço, ou ler
um jornal para se informar sobre os acontecimentos diários, ou ler uma bula
para se orientar sobre o uso de medicamentos, ou ler uma receita para fazer um
bolo, ou anotar um recado ou fazer uma lista para não se esquecer de algo, ou
escrever uma carta para se comunicar com alguém que está distante, ou redigir
um aviso para informar as pessoas sobre algum imprevisto, ou mesmo se deliciar
e "viajar" com histórias ou poesias, ela está tendo contato com
diversos tipos de textos, necessários a alguma forma de interlocução através da
escrita, apropriando-se progressivamente dos seus usos e funções e de suas
estruturas próprias. Assim, para Deber (1997, p. 230): “A língua escrita é
entendida como se reduzindo à aprendizagem de técnicas de codificação e
decodificação, unidades sonoras sendo transformadas em unidades gráficas
durante o ato de escrita e o inverso, em se tratando de leitura,
respectivamente”. A partir disso Barbosa (1990) observando as idéias de Vygotsky
e Bakhtin, traz a consideração de que a escrita é um sistema simbólico complexo
e que o homem introduz no mundo símbolo através do sistema mental superior
influenciado pela cultura e regido pela lei da internalização. O que leva More
(1997) a expressar que a aprendizagem da língua escrita em sala de aula numa
dimensão discursiva, mediado pela palavra e pelo outro, num processo
interativo, marca a atividade mental da criança, pois o seu modo de pensar está
impregnado no contexto e na dinâmica sócio-cultural. Por essa razão Móre (1997,
p.79) entende que: “[...] é importante que a criança tenha uma relação de
consciência no seu processo de aprendizagem da língua escrita, para que ela
possa internalizar, monitorar e transferir aprendizagem, e assim, conseguir
alcançar um grau mais elevado no domínio da linguagem. A compreensão da língua
escrita vai ocorrer em função da língua falada, que funciona como elo mediador
e vai deixando de ter esse função quando a criança assume a escrita como
prática discursiva. A dimensão discursiva se faz presente possibilitando a
compreensão da escrita do outro, e é através do outro que a criança percebe a
necessidade de produzir uma escrita compreensível; sem a presença do outro, a
criança não se desenvolverá nos seus primeiros rabiscos”. Tal posicionamento quer
dizer, portanto, que, conforme a autora mencionada, a escrita é um objeto
social construído ao longo da história da humanidade, surgida da necessidade de
comunicação, interação e intercâmbio social, representando, por isso, o esforço
da construção humana e a capacidade do seu desenvolvimento mental, uma vez que é
portadora de significação, a sua apreensão não é decodificação, mas se faz
presente o aspecto semântico de compreensão. Neste caso, defende a autora que a
criança precisa entender a questão simbólica, compreender que a palavra
representa um outro contexto e que a escrita é a representação da fala. Nessa
condução Seber (1997): atenta para o fato de que a compreensão das crianças
acerca do sistema representativo da escrita depende do desenvolvimento do
pensamento como um todo, além da vivências delas com o material gráfico e que,
por isso, os estudos que definem a escrita como um processo de desenvolvimento
ressaltam a importância de se considerar modos distintos de organização
conceitual se modificando de tempos em tempos, à medida que novos avanços
ocorrem.
O LETRAMENTO - O letramento, conforme Vygotsky
(1984, p. 75), representa: “[...] o coroamento de um processo histórico de
transformação e diferenciação no uso de instrumentos mediadores. Representa
também a causa da elaboração de formas mais sofisticadas do comportamento
humano que são os chamados "processos mentais superiores", tais como:
raciocínio abstrato, memória ativa, resolução de problemas etc”. Conceito esse
que levou Soares (2001, p. 75) a considerar que o letramento: “[...] é o estado
ou condição de que se envolve nas numerosas e variadas práticas sociais de
leitura e de escrita [...] é um conjunto de práticas de leitura e escrita que
resultam de uma concepção de o quê, como, quando e porquê ler e escrever”. É
nesse sentido se adquire o entendimento de que as crianças vão se apropriando
do sistema de representação dessa língua. É quando a criança passa a se
apropriar dos aspectos gráficos correspondentes à linguagem escrita,
deixando-se claro tratar-se de um complexo e dinâmico campo de aprendizagem que
envolve a apropriação/reconstrução de vários aspectos: funcionais, textuais,
gráficos e aqueles relativos ao sistema alfabético de representação. Assim
sendo, para o autor mencionado, o letramento é definido como o resultado da
ação de letrar-se, resultado da ação de ensinar e aprender as práticas sociais
de leitura e escrita, sendo, ainda, o estado ou condição que adquire um grupo
social ou indivíduo como conseqüência de ter-se apropriado da escrita e de suas
práticas sociais.
A partir das idéias de Soares (2001) e Deber
(1997), fica entendido que o letramento não é um método, não é uma didática,
nem um novo modelo pedagógico, mas, essencialmente, uma concepção que vai gerar
atitudes e direcionamentos ao fazer pedagógico. Ou, melhor dizendo, um
comportamento que precisa ser mediado, sendo, pois um paradigma que vai
orientar as decisões: ensinar a linguagem para uso, como prática. Dessa forma,
para Seber (1997, p. 112) um dos procedimentos significativos que a criança
adota numa determinada etapa do processo de aquisição da língua escrita é o de
repetir várias vezes, com pausas e de forma quase inaudível, uma palavra.
Alfabetizar letrando para Soares (2001, p;
23) é contribuir para que as crianças saibam "fazer uso de diferentes
tipos de material escrito, compreendê-los, interpretá-los e extrair deles
informações". Isto quer dizer que alfabetizar letrando é desenvolver o
trabalho de alfabetização enfocando os usos e as funções de língua,
instrumentalizando os educandos para lidarem com situações práticas e
cotidianas que envolvam a leitura e a escrita, sempre de forma contextualizada
e significativa. É, ainda, conforme a autora mencionada, proporcionar condições
para que o indivíduo – criança ou adolescente – tenha acesso ao mundo da
escrita, tornando-se capaz, não só de ler e escrever, enquanto habilidades de
decodificação do sistema de escrita, mas, sobretudo, de fazer o uso adequado de
todas as suas funções em nossa sociedade. No entendimento de Ferreiro (1998), a
alfabetização e o letramento têm conceitos distintos, mas que podem ser
interligados; pois encontram-se grupos não alfabetizados com características
que geralmente são atribuídos a grupos alfabetizados e escolarizados; assim,
ser ou não alfabetizado não interfere no uso do raciocínio lógico, o que
interfere é ser ou não letrado. Isto quer dizer, portanto, que o conhecimento
do código da escrita conhecido como alfabetização é um encaminhamento para o
uso social da leitura e da escrita que é o letramento.
A ALFABETIZAÇÃO - A formação do cidadão como
sujeito ativo participante, conforme Ferreiro (1998), depende do sujeito
letrado, ou seja, no que concerne ao fato de inserir a criança no letramento
onde ela trabalha com as mais diferentes utilizações da escrita na sociedade. E
para ser letrado precisa ser alfabetizado. E para Ferreiro e Teberosky (1989),
alfabetizar significa conhecer o sistema lingüístico e sua relação com
palavras, frases e textos, acreditando, portanto, que a alfabetização é a
apropriação de um objeto conceitual, de um sistema de representação, é a
aquisição da escrita enquanto aprendizagem de habilidades para fazer uso do
lecto-escrita. Deixando entender que ser alfabetizado pode ser entendido como pessoas
que possuem habilidades básicas para se adaptar à vida moderna, que na
utilização da escrita uma aquisição de poder político, econômico e menta, e que
é preciso ter a aquisição das formas de expressão contidas nos diferentes
suportes e a valorização da estética, desenvolvendo suas habilidades de
expressar sentimentos, provocar ambigüidades e fazer uso da imaginação ao
redigir um texto. Para Seber (1997, p. 231) o ideal de transformar a
alfabetização em sucessivos passos previamente ordenados se combina com um
outro, que é dar um novo impulso à educação pré-escolar, até então
negligenciada, em especial àquela destinada às crianças pertencentes às classes
menos favorecidas. Tais objetivos impulsionam as pesquisas psicopedagogicas,
orientando-as em dois sentidos complementares. O que, no caso de ocorrência do
erro em sala de aula, Seber (1997, p 89) chama atenção para o fato de que: “O
professor não precisa corrigir as escritas infantis porque nelas não há nada de
errado, no sentido comum da palavra. O que existe é apenas certa distancia
separando as produções gráficas atuais do que a própria criança fará no futuro
e, vale ressaltar, com entendimento, porque as hipóteses que permeiam as
condutas são construídas e reconstruídas por ela”. Isso porque de acordo com
Soares (2001, p.56), o critério de "certo" ou "errado" é
uma questão política, econômica e social o que ela a entender que na sala de
aula, o professor, ao discriminar a forma de falar das crianças, contribui para
o seu fracasso uma vez que nega toda a sua cultura e identidade lingüística. Nesse
mesmo enfoque, Cagliari (2002, p.20) enfatiza que: “[...] a criança que entra
na escola e fala um dialeto estigmatizado pela sociedade leva um grande choque,
ao perceber que tudo que ela conquistou e sabe sobre a língua é desconsiderado
e, descobrindo logo que não pode corresponder ao que o professor espera dela,
nesse jogo desonesto, o melhor que pode fazer é desistir. Evade aumentando o
número de crianças consideradas fracassadas”. Com isso, na construção da
escrita fica entendido que, as crianças devem ser construtora do saber e, nesse
processo, cabe ao professor organizar a situação de aprendizagem de forma
desafiadora e significativa para que a criança possa ter uma ação ativa e
reflexiva. As pessoas têm por natureza a vocação de ser sujeito, ter autonomia
nos seus atos, em tudo que faz. Assim, quando o professor proporcionar a
leitura e a escrita autônoma, a criança, com certeza, se sentirá motivada e
terá desejo de aprender cada vez mais , se esforçará para construir seu próprio
conhecimento, procurará evoluir nos seus estudos , aprenderá caminhar por si
mesmo.
Por fim, para inserir a criança no mundo da
escrita é preciso atender o que está previsto nos PCN´s (BRASIL, 1998, p. 38)
ao considerar que: O professor deve tomar alguns cuidados para envolver o aluno
no processo de construção da escrita, tais como criar um ambiente letrado, em
que a leitura e a escrita estejam presentes mesmo antes que a criança saiba ler
e escrever convencionalmente; considerar o conhecimento prévio das crianças,
pois, embora pequenas, elas levam para a escola o conhecimento que advém da
vida; participar com as crianças de práticas de letramento, ou seja, ler e
escrever com função social; utilizar textos significativos, pois é mais
interessante interagir com a escrita que possui um sentido, constitui um
desafio e dá prazer; utilizar textos reais, que circulam na sociedade, e
utilizar a leitura e a escrita como forma de interação, por exemplo, para
informar,convencer, solicitar ou emocionar.
A partir disso, passa-se a entender que as
crianças interagem com o mundo letrado através da escrita na sala de aula, pela
prioridade dos trabalhos voltados para a construção da autonomia da criança no
desenvolvimento do brincar, na perspectiva do autocuidado, no desenvolvimento
da linguagem oral, visual, corporal, musical que atuam juntamente ao
desenvolvimento da linguagem escrita, na a vivência da criança estruturando sua
corporeidade na explicação de movimentos no espaço, na compreensão e ampliação
da cultura na qual esta inserida e explorando o mundo físico e social, e de
forma interdependente vai estruturando o pensamento e se relacionamento com o
mundo ao seu redor. Mediante isso, percebe-se que a pauta das ações pedagógicas
que se relacionam com a linguagem escrita precisam estar sintonizadas com as
múltiplas dimensões das interações sociais nas condições adequadas que
possibilitem a construção do conhecimento das crianças. Isto porque o professor
precisa neste caso possibilitar situações e interações grupais nas crianças,
possibilitando a apropriação conjunta do saber individual no coletivo no meio
da brincadeira e das movimentações relacionadas com o desenvolvimento
psicomotor.
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