BRINCARTE

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Wednesday, January 23, 2013

LENDAS DO NORDESTE - MANDACARU



MANDACARU – A tarde já se indo num lindo crepúsculo, quando a meninada da Turma do Brincarte estava sentada no terreiro à sombra de frondoso pé de manga, ouvindo atenta Pai Lula contar:

Antigamente, lá pelos tempos de antanho, uma família do sertão vivia de plantar e de colher, felizes com o Juriti e a Asa Branca que gorjeavam ajeitando o nino no pau d´arco . Contudo, como a chuva não apareceu, a quentura do verão segurou do inverno não vir nos últimos três anos, secou o barreiro, sumiu o açude, Juriti foi embora, Asa Branca desapareceu, Acauã agourando na seca, restando apenas a sombra do juazeiro. Deu-se, então, que o vovô morreu e foi enterrado ali mesmo. No lugar onde ele foi sepultado, nasceu uma planta verde e espinhenta com gomos em forma de braços. Aí o pai sobrevivente pegou do facão, cortou um pedaço e ele viu escorrer água. Aí matou a sede de todos os retirantes e bichos do sertão. Era um pé de mandacaru que ali se mostrava com braços e espinhos parecidos com a barba do vovô. Trata-se de uma planta orgulhosa que cresce mais que as outras, aprumado e teso do alto do verde de suas palmas com espinhos. Dizem que só perde pro juazeiro que é a mancha verde soberana da caatinga. Entretanto, o mandacaru gosta de humilhar xiquexique e parece pisar nos cabeças-de-frade. Mas é com o xiquexique que eles se aliam para rolarem nas pedras e nos espinhos. Quando eles se enchem de flores, é sinal de que a chuva vai cair no sertão.

Por isso que Luiz Gonzaga e Zé Dantas cantam:

Mandacaru
Quando fulora na seca
É o sinal que a chuva chega
No sertão
Toda menina que enjoa
Da boneca
É sinal que o amor
Já chegou no coração...
Meia comprida
Não quer mais sapato baixo
Vestido bem cintado
Não quer mais vestir timão...
Ela só quer
Só pensa em namorar
Ela só quer
Só pensa em namorar...
De manhã cedo já tá pintada
Só vive suspirando
Sonhando acordada
O pai leva ao doto
A filha adoentada
Não come, nem estuda
Não dorme, não quer nada...
Ela só quer
Só pensa em namorar
Ela só quer
Só pensa em namorar...
Mas o dotô nem examina
Chamando o pai do lado
Lhe diz logo em surdina
Que o mal é da idade
Que prá tal menina
Não tem um só remédio
Em toda medicina...
Ela só quer
Só pensa em namorar
Ela só quer
Só pensa em namorar...
Mandacaru
Quando fulora na seca
É o sinal que a chuva chega
No sertão
Toda menina que enjoa
Da boneca
É sinal que o amor
Já chegou no coração...
Meia comprida
Não quer mais sapato baixo
Vestido bem cintado
Não quer mais vestir timão...
Ela só quer
Só pensa em namorar
Ela só quer
Só pensa em namorar...
De manhã cedo já está pintada
Só vive suspirando
Sonhando acordada
O pai leva ao doutor
A filha adoentada
Não come, num estuda
Num dorme, num quer nada...
Ela só quer
Ela só quer
Só pensa em namorar...
Mas o doutor nem examina
Chamando o pai do lado
Lhe diz logo em surdina
Que o mal é da idade
E que prá tal menina
Não tem um só remédio
Em toda medicina...
Ela só quer!
Só pensa em namorar
Ela só quer
Só pensa em namorar
Ela só quer
Só pensa em namorar...

A flor do mandacaru inspirou Jônea França que conta a história de um povoado às margens do Rio São Francisco numa véspera de São João. Havia a expectativa: se chover, a colheita será boa e farta. Tudo estava previsto: quando a flor de mandacaru desabrochou, fez Chico Cesar cantar assim:

Manda, caru
Flor de mandacaru pra mim
Que é pra botar no xaxim
Em cima da televisão
Manda, caru
Uma flor dessa do sertão
Uma flor de cardo
Pra alegrar meu coração
Só pra guardar de recordação
Do tempo da meninice
Pois de recordar carece
Como uma prece sem fim
Manda, caru
Flor de mandacaru pra mim
Pelo correio ou de caminhão
Num barco do São Francisco
Peço que você se apresse
Que a saudade é ruim
Manda, caru
Flor de mandacaru prá mim.

REFERÊNCIAS
CARTAXO, Zuyla. Lenda do mandacaru. Autor Pernambucano. Disponível em: http://www.autorpernambucano2005.kit.net/agenda_2007/pag_1223627_027.html. Acesso em 20 dez 2012.
DANTAS, Paulo. O capitão jagunço. São Paulo: Brasiliense, 1959.

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Thursday, January 10, 2013

A IMPORTÂNCIA DA FIBRA NA DIETA ALIMENTAR



A IMPORTÂNCIA DA FIBRA NA DIETA ALIMENTAR - A alimentação saudável é hoje um dos requisitos para se ter uma qualidade de vida. Atualmente a ingestão de alimentos de forma indiscriminada tem levado o ser humano a hiper-alimentação, que aliada a inatividade física e a alimentação às pressas nos restaurantes, contribuem para o aumento do número de doenças crônicas, tais como diabetes mellitus, obesidade, hipertensão arterial, doenças coronarianas, câncer,  entre outras. Por esta razão, a alimentação saudável vem atraindo a atenção de um grande número de pessoas interessadas em ter uma boa qualidade de vida. Com efeito, muitas informações a respeito dos alimentos e de seus nutrientes. As fibras, nesse contexto assumem papel importante por se encontrarem no primeiro e segundo patamares da pirâmide alimentar, envolvendo grupos de cereais, massas e arroz, frutas e vegetais. Com isso, entende-se que as fibras atuam principalmente na ação de retardar a absorção da glicose, diminuindo o pico de insulina e mantendo deste modo a glicemia estável. Vê-se, portanto, que muitos são os benefícios que advém do consumo da fibra como: prevenção do diabetes tipo II e diminuição do colesterol, entre outras enfermidades humanas.
A partir de uma revisão da literatura, encontrou-se baseado em Campos (1988), Maham e Sump (2002) e Sá (1984), que, tendo em vista a importância das fibras que possuem papel de suma importância no organismo humano, pode-se considerar que elas são como a soma dos polissacarídeos, identificados como hemicelulose, celulose, ß glucano, substâncias pécticas e gomas, além de liginia e de outros resíduos não digeríveis pelas secreções endógenas do trato gastrointestinal, recomendando-se a ingestão de uma dosagem per capita da ordem de 30 gramas em média diária pelo ser humano. Nesse sentido, encontra-se que, segundo Philippiet al (1999), as fibras são derivadas das estruturas intercelulares e da parede celular das frutos, vegetais e sementes, associando-se às proteínas, oxalatos, compostos inorgânicos, fitatos, liginia e substâncias fenólicas de baixo peso molecular. Além do mais, segundo os autores mencionados, as fibras são conhecidas há muito tempo, desde o tempo de Hipócrates quando se descobriu a propriedade laxativa do farelo de trigo, sendo comprovada a sua importância na prevenção e tratamento da constipação intestinal, em estudos realizados nos anos 20 do século recém-passado. Estes estudos chegaram à conclusão uma das bases da vida saudável é a ingestão da fibra alimentar. Para Maham e Sump (2002), as fibras podem ser solúveis e insolúveis em água. As fibras solúveis estão presentes nas frutas, leguminosas secas, aveia e cevada e atuam no aumento do tempo de transito intestinal, diminuem o colesterol plasmático e retardam o esvaziamento gástrico e a absorção da glicose. Segundo esses autores, as fibras insolúveis estão presentes nos grãos e hortaliças e atuam no aumento do volume fecal, na diminuição do tempo de transito intestinal, retardam a hidrólise de amido e a absorção de glicose. Verifica-se que a ação das fibras no organismo tem demonstrado um incremento na excreção de colesterol e ácidos biliares e , em alguns casos , afetar a composição fecal desses ácidos, o que, com base em Chaves (1978), Cintra et al (1997), Cukier et al (2005) e Guyton et al (1997), as fibras são recomendadas tendo em vista possuírem ações protetivas ao funcionamento do intestino, na redução do colesterol, no controle do diabetes, na incidência de câncer de cólon e no controle da obesidade reduzindo a fome e induzido à saciedade, além de atuarem preventivamente na proteção da doença coronariana e isquêmica do coração, diabetes mellitus, distúrbios do aparelho digestivo e obesidade. As fibras são encontradas, segundo Neves (1997) e Wolinski e Hickson (1996), em alimentos como verduras como couve, alface, agrião, espinafre, chicória, repolho, almeirão; frutas frescas com casca, laranja, manga, mamão, abacate, ameixa preta, figo, araticum, uva, mexerica, uva-passa; mel, mel, geléias, melado e doces com alta concentração de açúcar;  rabanete, pimentão, vagem, lentilha, feijão, aveia, milho verde, pão integral ou de centeio, germe de trigo, macarrão ou arroz integral, fécula de batata, ,  farelo, pipoca, biscoito integral, todos alimentos que são ricos em fibras. Mediante isso, vê-se que o grupo de cereais e seus derivados e as leguminosas representam boas fontes alimentares, assim como as frutas. É nesse sentido que Mahan e Stump (2002), assinalam que os vegetais são alimentos indispensáveis e mais importantes para sua vida. Eles são fontes principais de minerais, vitaminas, fibras, açúcar, além de proteínas e gorduras, em menor quantidade, substâncias essenciais para todo o funcionamento do organismo. Os vegetais contém, também, substâncias protetoras e curativas, com ação anti-infecciosa, anti-inflamatória, anti-parasitária, anti-reumática, anti-hipertensiva, diurética, laxativa, desintoxicante e vitalizadora de todo organismo. São alimentos equilibrados e determinam uma perfeita saciedade do apetite, impedindo o comer excessivo, a busca constante por comidas, portanto, evitam e curam a obesidade. Isto significa dizer que, dietas ricas em fibras constituem parte integrante do tratamento eficaz do diabetes e da hipercolesterolemia porque , além de reduzirem os níveis séricos de lipídeos, proporcionam melhora do controle glicêmico e aumentam a sensibilidade periférica à insulina. A falta de sua utilização, conforme assinalado por Cintra (1997), Neves (1997) e Guyton et al (1997), leva ao desenvolvimento de constipação e, por conseqüência, acarretar outras doenças digestivas tais como síndrome do cólon irritável, hemorróidas e diverticulites. Tais constatações foram efetuadas, segundo os autores mencionados, por meio do trabalho de Burkitt, que comparou a participação das fibras na dieta americana e africana, relacionando a maior prevalência da doença aterosclerótica coronariana na primeira como em parte decorrente da menor utilização alimentar de fibras solúveis. Também, segundo recolhido dos autores mencionados, Bijlani citou o efeito hipocolesterolêmico das fibras , especialmente em indivíduos que apresentam níveis elevados de colesterol , associado com a ingestão de dietas ricas em colesterol. Existem, ainda, algumas teorias para explicar a ação das fibras sobre o metabolismo das gorduras. Quanto à capacidade das fibras de absorver ácidos biliares, isto leva a uma dupla perda de colesterol.

REFERÊNCIAS
CAMPOS, M.A.P. Fibra e Nutrição. Boletim SBCTA, 22: n°3/4:167-71,1988.
CHAVES, Nelson. Nutrição Básica e Aplicada. Rio de Janeiro:  Guanabara Koogan, 1978.
CINTRA, L. P et al. Intervenções Dietéticas Condutas Clínicas nas Dislipidemias. Belo Horizonte: Health, 1997.
CUKIER, C.; MAGNONI, D.; ALVAREZ, T. Nutrição baseada na Fisiologia dos órgãos e sistemas. São Paulo: Sarvier, 2005.
GUYTON A .C. et al. Fisiologia Humana e Mecanismos das Doenças. RJ: Guanabara Koogan, 1997.
MAHAN, L. Kathleen; STUMP, Sylvia. Alimentos, nutrição & dietoterapia. São Paulo: Roca, 2002.
NEVES, M. N. Os Elementos da Dieta no Tratamento da Doença Cardiovascular: Nutrição e Doença Cardiovascular. v. 56, p. 4-59-61, 1997..
PHILIPPI, S. T., et al. Pirâmide Alimentar Adaptada: Guia Para Escolha dos Alimentos. Rev. Nutr., Campinas, 1999.
SÁ , Neide Gaudence. Nutrição e Dietética.São Paulo: Nobel: 1984.
WOLLINSKI I., HICKSON JR. Nutrição no Exercício e no Esporte. São Paulo. Roca 1996.

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A ARTE, A NATUREZA E A SOCIEDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL


A ARTE, A NATUREZA E A SOCIEDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL - A arte, a natureza e a sociedade fazendo parte de um composto inerente ao ser humano, imprescindível no trabalho interdisciplinar do professor de Educação Infantil. Esta interdisciplinaridade vem da articulação do desenvolvimento humano e expressão artística, passando pela valorização da vida e do meio, conjugada com uma atitude participante que seja responsável e sustentavelmente expressa como conteúdo para a criançada.
Por ser a arte o resultado de uma atitude emancipadora, criativa e extraordinariamente inovadora, é levada além dos limites de criação, inspiração e transpiração, proporcionando a auto-superação de quem pratica e o êxtase de quem assiste ou participa.
Por ser descompromissada enquanto razão de ser e fazer, a arte propõe a descoberta sem o compromisso da verdade ou da mentira, levando por uma viagem criadora que será interpretada segundo o discernimento de quem a recebe como obra-de-arte. No caso da criança vai se utilizar da brincadeira e do lúdico, para levar a mensagem do artista.
A natureza é o ambiente em que vivemos, é onde a vida se realiza, seja no campo, na cidade, onde for. Em virtude das agressões humanas, hoje é exigido de cada cidadão uma responsabilidade ética e sustentavelmente capaz de valorizar a forma ideal da vida. Além disso, vem aquela máxima de que cada um é produto do seu meio. Indubitavelmente que cada um deseja um meio saudável para que possamos ter uma vida digna e contemplada dos direitos reais e ideais dos seres humanos.
A sociedade é cada individuo se constrói e interage, é nela que estão estabelecidas as culturas que formarão cada pessoa para nela atuar. Existe também aquela máxima de que o homem é resultado da cultura, ou seja, da sociedade em que se vive. Daí o desejo de uma sociedade justa, não discriminatória e isonômica.
A partir da arte, a sua introdução na sala de aula por meio da brincadeira e do jogo, contextualizando a existência humana no seu meio ambiente e na sua sociedade, traz a possibilidade de configuração da criança no seu universo. Isto porque o brincar atua manipulando o mundo externo em suas representações simbólicas, fazendo, com isso, o reconhecimento de seu meio social que será continuamente encaixado aos esquemas já construídos, sendo uma opção que ocorre no plano da imaginação e, por isso, implica que aquele que brinca tenha o domínio da linguagem simbólica. Isto quer dizer que é preciso haver conseqüência da diferença existente entre a brincadeira e a realidade imediata que lhe forneceu conteúdo para realizar-se. E para brincar é preciso apropriar-se de elementos da realidade imediata de tal forma atribuir-lhes novos significados. Essa peculiaridade da brincadeira ocorre por meio da articulação entre a imaginação e a imitação da realidade. Toda a brincadeira é uma imitação transformada, no plano das emoções e das idéias, de uma realidade anteriormente vivenciada.
Observa-se que pela arte o ato de brincar, os sinais, os gestos, os objetos e os espaços valem e significam outra coisa daquilo que apresentam ser. Ao brincar as crianças recriam e repensam ao acontecimento que lhes derem origem, sabendo que estão brincando. O principal indicador da brincadeira, entre as crianças, é o papel que assumem enquanto brincam. Ao adotar outros papéis na brincadeira, as crianças agem frente à realidade de maneira não-liberal transferindo e substituindo suas ações cotidianas pelas ações e características do papel assumido, utilizando-se de objetos substitutos. Além do mais, a brincadeira favorece a auto-estima das crianças, auxiliando-as a superar, progressivamente, suas aquisições de forma criativa. Brincar contribui, assim, para a interiorização de determinados modelos de adulto no âmbito de grupos sociais diversos. Essas significações atribuídas ao brincar transformam-no em um espaço singular de constituição infantil.
O importante disso tudo é que pelas brincadeiras é que se humanizam as crianças e possibilitam-lhes ao seu modo, e ao seu tempo, compreender e realizar, com sentido, sua natureza humana, bem como o fato de pertencerem a uma família e a uma sociedade em determinado tempo histórico, ambiental e cultural. A criança que brinca tem o domínio da linguagem simbólica. A brincadeira ocorre por meio da articulação entre a imaginação e a imitação da realidade anteriormente vivenciada. E, a partir disso, vê-se quão fundamental é a interdisciplinaridade entre a arte, a natureza e a sociedade: a atuação criativa e sustentável no meio – natureza e sociedade – em que se vive.

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Tuesday, January 08, 2013

OBESIDADE E HÁBITO ALIMENTAR DA CRIANÇA




HÁBITO ALIMENTAR DA CRIANÇA - Procurando abordar o hábito alimentar e a sua importância durante a infância, com base na literatura disponível, notadamente a partir de  Vitolo (2003), Philippi et al (1999), Accioly, Saunders e Lacerda (2002), Bracco et al (2002),  Pipitone (1995), Coimbra (1982), Abreu (1995) e Burigo (1992), entre outros, observa-se a necessidade do bem-estar físico, mental e social, uma vez que nesta faixa de idade é vista como suscetível à subnutrição ou hipernutrição, tendo em vista a necessidade delas de certa dosagem de nutrientes e calorias para o seu saudável crescimento e desenvolvimento. Tendo-se por base que os hábitos e padrões alimentares, para Coimbra (1982, p. 122), são "[...] formas em que os indivíduos ou grupos selecionam, consomem e utilizam os alimentos disponíveis, incluindo os sistemas de produção armazenamento, elaboração, distribuição e consumo dos alimentos", constituindo, assim, segundo o autor, os traços universais da cultura de qualquer grupo étnico, sugerindo, com isso, que deve ser proporcionada uma “(...) alimentação adequada aos escolares e pré-escolares carentes das regiões deprimidas dos pais". Dessa forma, conforme Búrigo (1992) e Abreu (1995), é de suma importância a adoção de hábitos alimentares saudáveis em crianças, privilegiando o integral uso dos alimentos por meio de uma dieta que seja ministrada adequadamente, contribuindo para o crescimento, desenvolvimento e melhoria da capacidade do organismo infantil, na resposta às enfermidades e infecções. Esta dieta alimentar adequada, conforme Coimbra (1982), deve promover a mudança de hábitos no sentido de efetivar uma alimentação equilibrada que seja incorporada a um projeto de educação nutricional para combater a desnutrição e a obesidade.
A desnutrição, conforme Bracco et al (2002) e Vitolo 2003), atinge um universo de milhões de crianças em todo mundo, podendo ser evitada com tratamento, sendo considerada como uma síndrome multifatorial que está relacionada à falta de condições mínimas de existência. Por essa razão, Accioly et al (2002) chama atenção para o fato de que quando se constata as deficiências nutricionais, observam que estas são provocadas pela desnutrição resultam em doenças que decorrem do aporte alimentar insuficiente em energia e nutrientes, ou ainda do inadequado aproveitamento biológico dos alimentos ingeridos- geralmente motivado pela presença de doenças, em particular doenças infecciosas. Alertam os autores que a desnutrição é um caso muito sério, uma vez que sua solução deve levar em consideração o acesso à renda que garanta a aquisição de comida para uma vida saudável e a compra de bens necessários para a existência social do indivíduo enquanto cidadão e tem como causas diversos fatores, normalmente associados à pobreza e a falta de alimentos dela decorrente. Esta síndrome na faixa etária infantil, é indicada pelo comprometimento severo do crescimento linear e/ou pelo emagrecimento extremo da criança, constituindo-se num dos maiores problemas enfrentados por sociedades em desenvolvimento, seja por sua elevada freqüência, seja pelo amplo espectro dos danos que se associam a tais condições. Nesse caso, observa Pipitone (1995) que o problema da desnutrição só pode ser efetivamente combatido por meio de ações clínicas e sociais integradas entre si.
No campo das deficiências oriundas de condições subnutritivas, alertam Bracco et al (2002), que as crianças se tornam carentes de ácido fólico, ferro, ácido, vitimina C e cobre que devem ser ministradas por meio de dietas adequadas. Alem do mais, a desnutrição pode apresentar dois caminhos, tais como o da subnutrição, resultado de pouca alimentação, ou a da hipernutrição, alimentação excessiva.sendo que ambas são causadas por um desequilíbrio entre a necessidade do corpo e a ingestão de nutrientes essenciais.
No caso da hipernutrição, revelam Bracco et al (2002), que esta gera o excesso de peso, resultando na obesidade que não apenas um problema estético, mas que pode provocar o surgimento de vários problemas de saúde como diabetes, problemas cardíacos e a má formação do esqueleto. E a obesidade pode ser causada pelo consumo de alimentos gordurosos, falta de atividades físicas, ansiedade, depressão, fatores hormonais e genéticos, dentre outros.
Encontra-se na literatura recolhida que para prevenção da subnutrição ou da hipernutrição está uma série de medidas preventivas que devem ser ministradas por uma equipe multiprofissional, tomando-se a providência no sentido de prescrever uma alimentação balanceada, rica em frutas, legumes e verduras; a prática de atividades físicas, o respeito aos horários das refeições e evitar alimentos gordurosos, como doces, frituras e refrigerantes, dentre outras medidas. É nesse sentido que, ao se propor hábitos alimentares saudáveis, é preciso, conforme Philippi et al (1999) a adoção de uma pirâmide alimentar que é o mais moderno Guia de Alimentação, aprovado, pela Organização Mundial da Saúde, recomendando o consumo de uma variedade de alimentos, o equilíbrio dos alimentos que devem ser consumidos com atividade física, escolha de uma dieta pobre em gordura, gordura saturada e colesterol; escolha de uma dieta rica em produtos de grãos, vegetais e frutas, moderada em açúcares , em sal e sódio. Ou seja, para os autores mencionados, esta pirâmide propõe uma hierarquia alimentar que vai desde os carboidratos complexos, fonte de energia recolhida de cereais, pães, raízes e tubérculos; reunião de grupos ricos em vitaminas, minerais e fibras, como hortaliças e frutas; os alimentos-fontes de proteína, como leite e produtos lácteos, carnes e ovos, leguminosas; até os alimentos que devem ser consumidos em menor proporção por serem calóricos e, em excesso, são prejudiciais à saúde, tais como óleos e gorduras, açúcares e doces. Tudo, conforme assinalam os autores epigrafados, observando-se os conceitos da alimentação equilibrada que requer variedade, moderação e proporcionalidade, além da determinação da pirâmide especial para as crianças em seus diversos níveis. É nesse sentido que, segundo Abreu (1995), Bracco et al (2002), Búrigo (1992), Coimbra (1982) e Pipitone (1995), o espaço da escola deve ser entendido como um espaço de relações dentro de um contexto sócio-econômico-cultural, o que a confirma como espaço político que deve ser considerado como um espaço privilegiado para a promoção de saúde num enfoque ampliado, ou seja, na perspectiva de construção de cidadania e de envolvimento dos diversos atores que compõem este universo: crianças, adolescentes, profissionais de educação, familiares, líderes comunitários e profissionais de saúde. Desta forma, os autores chamam atenção para o fato de que não só o nutricionista como, também, o educador tem um papel fundamental não somente nas questões referentes à aprendizagem, mas na sensibilização com relação à saúde alimentar das crianças em idade escolar.

REFERENCIAS
ABREU, M. Alimentação escolar: combate à desnutrição e ao fracasso ou direito da criança e ao pedagógico? Em aberto. Brasília, v. 15, n.67, p.5-20, 1995.
ACCIOLY, Elizabeth; SAUNDERS, Claudia; LACERDA, Elisa M. Nutrição em obstetrícia e pediatria. Rio de Janeiro: Cultura Médica, 2002.
BRACCO, M.M., FERREIRA, M. B. R., MORCILLO, A. M., COLUGNATI, F. e JENOVESI, J. Gasto energético entre crianças de escola pública obesas e não-obesas. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, volume 10, pág. 29-35, 2002.
BÚRIGO, L. A. Z. Educação em saúde na escola: uma visão atual. Revista Brasileira de Saúde Escolar, v. 2, n. 2, p. 70-72, abr. 1992.
COIMBRA, Mario. Comer e Aprender – Uma História da Alimentação Escolar do Brasil. Belo Horizonte. MEC, 1982.
PHILIPPI, S. T.; FISBERG, R.M.; LATTERZA, A.R.; CRUZ, A.T.; COLUCCI, A.C; FISBERG, M. Pirâmide alimentar infantil. In: Anais da 1ª Semana Acadêmica de Ciência e Cultura da Faculdade de Saúde Pública. São Paulo: FSP/USP; 1999.
PIPITONE, M.A.P. A relação saúde e educação na escola de 1º grau. Alimentação e Nutrição. São Paulo, n.65, p.48-52, 1995.
ROCHA, Germana. Hábito alimentar: as prevenções de carências e obesidade em crianças com idade escolar. São Paulo: ABRAN, 2008.
VITOLO, Márcia Regina; Nutrição. Da gestação à adolescência. Rio de Janeiro: Reichmann & Affonso, 2003.


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Saturday, January 05, 2013

LENDAS DO NORDESTE – O GARROTE JAUARAICICA




O GARROTE JAUARAICICA


Noite escura no Reino Encantado de Todas as Coisas.

A meninada toda aboletada no chão da varanda do casarão, à espera de mais uma contação de histórias do Pai Lula.

Quando ele chegou todo com ar misterioso e olhos esbugalhados, foi logo dizendo com uma voz amedrontadora:

Era uma vez, Nitolino estava todo arrumado de domingueira, quando foi levado por sua avó pra festa do padroeiro São José da Agonia, em Água Preta, nas terras do Pernambuco.

Era uma tarde quente e o povo pra lá e pra cá se espremia desfrutando de roletes de cana, canjica, pipoca, arroz doce, roda gigante e outros entretenimentos.

A locução da difusora da festa anunciava ofertas musicais pros enamorados, parentes e presentes.

A rua toda tomada de gente de todas as localidades davam-na como a maior festa da redondeza.

Eis que no meio da multidão surge um garrote escuro e bravo botando todo mundo pra correr.

Na fração de segundos, não havia ninguém mais nas imediações, só Nitolino e o touro que fumaçava pelas ventas, fitando-o como quem vai pegá-lo.

Eita, boi brabo danado!

Nitolino olhou pros lados e não viu ninguém, nem onde se esconder. Olhou pros quatro cantos e mais percebia a fúria do boi vindo em sua direção.

Aí, ele não teve dúvidas e começou a carreira descendo a ladeira pra sua casa. E o boi correndo atrás dele. Subia a calçada da direita e o boi atrás. Atravessou a rua, o boi atrás, foi pra calçada da esquerda e o boi atrás. Entrou dentro de casa e o boi atrás. Quando chegou ao quintal, o boi já lhe alcançando, livrou-se dele, do desembestado enfiar os chifres na beirada do brejo que corria atrás da sua casa.

Nitolino escondeu-se num quarto escuro no quintal, tremendo que só, enquanto o boi mugia brabo tentando se livrar da sua prisão. Libertando-se, largou um rugido estrondoso e desapareceu.

Dizem que aquele garrote era o Jauaraicica, uma abusão medonha, tido como filho da vaca Estrela, criado pela mãe-dágua e que costumava aparecer no meio da seca do sertão.

Era um bicho gordo, bonito, preto que nem breu no escuro e vivia de dar marradas em boi de maior tamanho, derrubando cercas e arrazando roçados.

Ele era indomável, subia em pedra lisa, removia tudo pela frente e desafiava qualquer vaqueiro.

Até que um dia, contam que um certo Zé Preto foi contratado pelo coronel Serzenando para dar cabo daquele troço que lhe causava prejuízo na fazenda.

O vaqueiro saiu montado no seu cavalo com matulagem no prazo de uma semana para capturá-lo.

Passou-se mais de mês e Zé Preto perseguia o garrote por tabuleiros, pelas matas, pelo agreste, pela caatinga, pela Várzea Pequena, pelas serras dos Francos e do Araripe, pela feira de Quixadá, por Jaguaribe, pelas terras de Quixeramobim, nos pastos em Muxiopó, por Rinaré e pela serra Azul, só encontrando no caminho onças esfareladas, bois estirados, vaqueiros aleijados, matas destroçadas, todo tipo de bicho morto.

Já desperançado, quando chegou na serra dos Mocós, bem na beirinha do açude Uirapiá, deu de cara com o bicho que fumaçava pelas ventas e tirava fogo das pedras.

Foi aí que ele gritou: - Vou te pegar, desgraçado!!!

Começou o poeirão de durar horas e só se ouviu o timbungue deles dentro do remoinho do açude de nunca mais saber notícia deles.

O Nitolinlo salvou-se dessa e o negócio entrou pela perna pinto, saiu pela perna de pato, ficou assim sendo e vamos brincar no maior espalhafato.

FONTE:
LOPES, Moacir. Chão de mínimos amantes. São Paulo: Francisco Alves, 1961.
DANTAS, Paulo (Org.). Estórias e lendas do norte e nordeste. São Paulo: Edigraf, s/d.

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Thursday, January 03, 2013

OS BICHOS DE CASSIANO RICARDO



O GALO DAS CINCO HORAS

É um galo nítido, auto-suficiente,
Com uma clareza de clarim noturno.
Que deve ter a plumagem vermelha.
E cuja crista é a própria estrela d´alva.

Cantou muito esta noite, cantou muito.
Qual se tivesse, como de costume,
Uma coisa secreta pra dizer-nos.
Mais surpreendente do que a madrugada.

Há quantos séculos este galo canta?
Mas amanhece e a manhã é, apenas,
A face cor de rosa de um abismo

(seguinte) uma manhã que nunca chega,
E que promete, sempre, a mesma coisa,
Por só existir na garganta dos galos.

O BOI E O ARCO-ÍRIS

O boi,
Compacto, tranquilo,
Como se fosse o monumento
Animal do silêncio – boi santo –
Está pastando, agora.
O boi
De olhos mansos,
Esquecido de sua força incomparável;
O boi que inventou a democracia do couro;
O boi que não é rei pra abdicar de uma coroa
(mas que é muito mais, porque abdicou dos seus chifres
Agora ornamentais e inofensivos)
Está pastando a aurora.
O boi
Está pastando a aurora.
O céu do matadouro é quase azul-ferrete.
Ouve-se a sua respiração junto da relva.
Ouve-se o rumor, áspero e verde,
Do seu focinho, borrifado de orvalho.
Os gafanhotos saltam;
As borboletas se assustam,
Mas o boi se tornou inocente.
O boi,
Enormemente bíblico,
Está pastando a aurora.
E os próprios pássaros, que fogem do homem,
Lhe pousam no dorso.
Tamanha é a confiança que lhes inspira
A sua traquilidade.
O boi aqueceu o menino Jesus com o seu hálito
Numa noite de frio, e ficou santo.
Se os pássaros fossem, em verdade, inocentes,
Teriam que lhe viver pousados no ombro.
Caiu uma leve chuva sobre a relva
Mas o sol continua aceso.
O boi
Está pastando agora
- enormemente bíblico –
Sob um arco de aliança.

DEIXA ESTAR, JACARÉ

Jacaré da lagoa
Você nunca este triste.
Você tem tudo quanto quer.
Tem água boa, é dono da lagoa.
Vai ao cinema ver a lua tomar banho
Quando a lua parece, de tão nua,
Um corpo branco de mulher.
Você cresceu e as lagartixas e os lagartos tão bonitos verdolengos não cresceram...
Viraram bichos de jardim.
Só você, jacaré,
Foi que cresceu assim!
Mas olhe, escute uma coisa:
Quando a felicidade é tão grande
Que chega a passar da conta,
A gente deve desconfiar
Porque, como diz o povo:
Deixa estar, jacaré....
Lagoa há de secar.

CASSIANO RICARDO - Cassiano Ricardo Leite nasceu em 26 de julho de 1895, em São José dos Campos, São Paulo. Aos 16 anos publicou seu primeiro livro de poesias, Dentro da noite. Mudou-se para a capital para cursar a faculdade de Direito, mas concluiu o curso no Rio de Janeiro. Voltou para São Paulo, onde se engajou no movimento de reforma literária iniciado na Semana de Arte Moderna de 1922, do qual foi um dos líderes. Participou dos grupos Verde e Amarelo e Anta, com Plínio Salgado, Menotti del Picchia, Raul Bopp, entre outros. Na década de 30, junto com Menotti del Picchia e Cândido Mota Filho, fundou o movimento político Bandeira, em oposição ao Integralismo. Como jornalista e redator, trabalhou nos jornais Correio Paulistano, A Manhã e fundou as revistas Novíssima, dedicada ao movimento modernista, Planalto e Invenção. Sua poesia era caracterizada por um lirismo sentimental de cunho nacionalista, mas suas obras pós-anos 40 adotaram uma postura lírica, introspectiva e filosófica. Além de jornalista e poeta, foi um grande ensaísta. Publicou obras sobre os movimentos dos bandeirantes, sobre diversos autores e também sobre a própria literatura. Cassiano Ricardo pertenceu ao Conselho Federal de Cultura, à Academia Paulista de Letras e à Academia Brasileira de Letras. Recebeu diversos prêmios por sua produção literária. Faleceu em 14 de janeiro de 1974. Dentre suas obras de maior destaque, estão: A flauta de Pã, Vamos caçar papagaios, Martim Cererê, Um dia depois do outro, O arranha-céu de vidro, Poesias completas.

FONTE:
BRAYNER, Sonia (org.). Cassiano Ricardo. Rio de Janeiro/Brasília: Civilização Brasileira/INL, 1979.
CHAMIE, Mário. Palavra-levantamento na poesia de Cassiano Ricardo. Rio de Janeiro: Livraria São José, 1963.
CORRÊA, Nereu. Cassiano Ricardo: o prosador e o poeta. São Paulo: Conselho Estadual de Cultura, Comissão de Literatura, 1970.
FERREIRA, Jerusa Pires de Carvalho. Notícia de Martim Cererê de Cassiano Ricardo. São Paulo: Quatro Artes, 1970.
MARIANO, Oswaldo. Estudos Sobre a Poética de Cassiano Ricardo. São Paulo: Livraria São Jose, 1965.
MARQUES, Oswaldino. O Laboratório Poético de Cassiano Ricardo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1962.
MOREIRA, Luiza Franco. Meninos, Poetas e Heróis: aspectos de Cassiano Ricardo do modernismo ao Estado Novo.  São Paulo: Edusp, 2001.
RICARDO, Cassiano. A flauta que me roubaram. São José dos Campos: Julio Ottoboni, 2001.

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