PSICODRAMA ANALÍTICO COM CRIANÇAS – Para Camila Salles
Gonçalves, o relacionamento terapêutico com crianças exige disposição para
brincar e para compreender o sentido da brincadeira. Uma atividade como
psicoterapia, além de basear-se na forma prática do terapeuta, fundamenta-se
necessariamente em teorias que são desenvolvidas, formuladas ou descartadas a
partir de reflexões que as confrontam com a prática. O psicodrama é, como
outras, uma psicoterapia na qual a criança tem oportunidade de se expressar e de
se relacionar por meio da brincadeira e do jogo. O que o caracteriza e o
diferencia tecnicamente de outras ludoterapias é o preparo do terapeuta para se
prontificar, muitas vezes, a propor cenas, jogos, procedimentos dramáticos, e a
dirigi-los, algumas vezes. Em um ambiente favorável, dispondo de material
lúdico (brinquedos, lápis, etc.), muitas crianças inventam jogos ou
brincadeiras, através das quais se comunicam e aprendem. A terapia
psicodramática, em sua teoria técnica, destaca também o modo pelo qual se
estabelece o vínculo entre indivíduos e, particularmente, a configuração e a
qualidade de seu átomo social, que é o menor núcleo de uma pauta interpessoal
no universo emotivo. Cabe à psicoterapia possibilitar a rematrização do
indivíduo, no sentido de proporcionar novas condições para seu crescimento,
enfrentando afetos que o sabotam. As teorias da técnica do psicodrama atribuem
à atuação da criança em papéis, imaginários ou sociais, em interação com papéis
desempenhados por outros (terapeutas ou membros do grupo), o poder de
desenvolver sua criatividade e, portanto, o gosto pela vida. A primeira relação
de um ser humano com outra pessoa é com aquela que se comporta como um ego
auxiliar. O papel do terapeuta imita o do primeiro ego auxiliar, sem que consista
em maternagem nem em adoção. Jogando e brincando junto com a criança, ele pode
se tornar presente de uma forma que ela vai aos poucos podendo reconhecer para,
depois, dispensar. Assim sendo, o psicodrama auxilia as crianças na superação
de obstáculos a seu desenvolvimento emocional, através daquilo que ninguém lhes
pode tirar – a sua imaginação. É através de jogos, brincadeiras e historias,
espontaneamente criados, que as crianças procuram lidar com o mundo que
proporcionamos a elas. Tentam assimilá-lo, entendê-lo e transformá-lo. A
terapia psicodramática conta com uma forma específica de brincadeira – o teatro
de faz-de-conta, quando a criança expressa o que atinge sua sensibilidade, o
que lhe dá prazer ou desprazer e vontade ou medo de aprender, revelando o
sentido que o mundo tem para ela, ou o revê, através de papéis imaginários que
é capaz de reconhecer, imitar e interpretar.
REFERÊNCIA
GONÇALVES, Camilla. Psicodrama analítico com crianças.
In: GONÇALVES, Camila (Org.). Psicodrama com crianças: uma psicoterapia
possível. São Paulo: Ágora, 1988.
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