BRINCARTE

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Tuesday, May 27, 2014

A CRIANÇA, VYGOTSKY E O TEATRO



A CRIANÇA, VYGOTSKY E O TEATROA linguagem é entendida como a faculdade de expressão humana disposta sistematicamente como um meio pelo qual o homem expressa e comunica seus sentimentos, emoções e ideias na fala, escrita ou expressão de signos convencionados. Trata-se, portanto, de uma conquista fundamental do desenvolvimento humano.
A linguagem da criança é expressa desde o seu nascimento, comunicando suas sensações, emoções e sentimentos por meio do riso, do choro ou pela emissão de gestos e sons que vão desde os primeiros balbucios à expressão das primeiras frases durante as mais diversas fases e etapas do seu desenvolvimento.
A questão da linguagem infantil foi tema de diversos estudos e obras produzidas pelo psicólogo, advogado e cientista bielo-russo Lev Semenovitch Vygotsky (1896-1934), que foi o pioneiro na proposta conceitual de que o desenvolvimento da criança ocorre em função das interações entre as condições da vida social. Preocupou-se em estudar o processo mental da criança ao considerar o uso das palavras pela necessidade de comunicação por meio da perspectiva socio-histórica. Para essa teoria, os vários processos mentais são desencadeados concomitantemente, tanto pelo ato de brincar, como de cantar, dançar, conversar, entre outros, por meio das situações comunicativas das mais diversas interações sociais que se inserem no desenvolvimento dos processos psicológicos da criança. Ao mesmo tempo, debruçou-se Vygotsky nos estudos sobre as atividades artísticas, notadamente o teatro que, segundo ele, possibilita os mais variados aspectos do desenvolvimento humano, especificamente da criança.
É em vista disso que o presente estudo foi desenvolvido sobre a temática da contribuição do teatro no desenvolvimento da linguagem da criança, sob a perspectiva socio-história de Vygotsky.

A LINGUAGEM INFANTIL NA TEORIA SOCIO-HISTÓRICA DE VYGOTSKY - A teoria sócio-histórica, conforme Bock, Gonçalves e Furtado (2009), tem por base as ideias psicológicas de Vygotsky, fundamentada no marxismo e adotando a filosofia, teoria e método do materialismo histórico e dialético. Por conta disso, traz a concepção do homem como ser ativo, social e histórico, abandonando e, ao mesmo tempo, criticando a visão abstrata do fenômeno psicológico.
No dizer de Fichtner (2010), essa teoria está assentada na relação com o outro por meio das interações tecidas ao longo da história de vida. Por consequência, para Porto e Kafrouni (2013), compreenderá o ser humano como produto e produtor do meio em que se encontra inserido. Por essa visão, o ser humano é produto pela apropriação dos valores culturais historicamente construídos pela sociedade e que, por outro lado, o ser humano é produtor pelas ações no ambiente para a modificação de si próprio e do seu exterior. Sob esse aspecto, para a teoria socio-histórica, a linguagem passa a ser vista como uma interação social.
Consideram Bock, Gonçalves e Furtado (2009, p. 23), que para essa teoria “A linguagem é mediação para a internalização da objetividade, permitindo a construção de sentido pessoais que constituem a subjetividade”. Tal fato se prende ao entendimento de Luria (1986) de que a linguagem é a influência mediadora do comportamento. Este por sua vez, é um reflexo da realidade externa social e natural que, com a influência mediadora recebida, chegará à autoconsciência que se definirá como resultado da consciência do mundo externo.
A linguagem também é importante para Vygotsky (2008), tendo em vista ser o surgimento do pensamento verbal o momento de definição da transição do biológico para socio-histórico. Tal afirmação encontra embasamento na afirmação de Vygotsky (2008, p. 132) de que “[...] as palavras desempenham um papel central não só no desenvolvimento do pensamento, mas também na evolução histórica da consciência como um todo. Uma palavra é um microcosmo da consciência humana”. Por essa condução, entende-se que o desenvolvimento humano se realiza a partir das relações de trocas e expressões comunicativas por meio dos processos da interação e mediação entre os parceiros sociais. Nesse contexto, acrescenta Aguiar (2009, p. 130) que “[...] A linguagem é instrumento fundamental no processo de mediação das relações sociais, por meio do qual o homem se individualiza, se humaniza, apreende e materializa o mundo das significações que é construído no processo social e histórico”. É o que observa Corsino (2006) ao considerar que a linguagem para Vygotsky é um sistema simbólico básico de todos os grupos humanos, responsável pela mediação entre o sujeito e o mundo, que exerce um papel fundamental na comunicação entre as pessoas, no pensamento e no estabelecimento de significados compartilhados que permitem interpretações dos objetos, eventos e situações. Tal fato leva Malanga (2004) a entender que a linguagem passa a ter inicio com o uso social na comunicação interpessoal.
Torna-se evidente que na abordagem sócio-histórica desenvolvida por Vygotsky (2008), a linguagem assume um papel extremamente importante no processo de sistematização perceptiva, sendo, portanto, o sistema simbólico básico de todos os grupos sociais e culturais.
No entendimento de Vygotsky (2003), a linguagem é um sistema de signos historicamente construído que proporciona o desenvolvimento de uma forma de pensamento expressado pela língua, tornando-a domínio dos meios sociais do qual depende o crescimento intelectual da criança. É nesse sentido que o autor em comento entende que o desenvolvimento da criança ocorre pela transformação do biológico para o sócio-histórico.
A aquisição da linguagem nessa teoria, conforme Furtado (2009, p. 80) que “[...] não é outra coisa senão o processo de apropriação das operações de palavras que são fixadas historicamente nas suas significações”. Em vista disso, Oliveira (2014), Barros (2014), Magiolino (2010), acrescentam que Vygotsky defendia que a linguagem é constituidora do sujeito, que o pensamento evolui na criança sem linguagem e que estes estão conectados e evoluindo dinamicamente com desenvolvimento humano. Além disso, assinalam Fichtner (2010) e Bastos e Pereira (2014) que a fala é desenvolvida pelos níveis pré-intelectual e pré-linguístico para ter uma organização linguístico-cognitiva para aprendizagem dos signos, servindo ao intelecto para verbalização do pensamento, e que a estrutura da fala é o reflexo da estrutura do pensamento. Essa ideia traduz o sentido de que é pela interação social que, segundo Vygotsky (2009), a criança tem acesso aos modos de pensar e agir correntes em seu meio. A sua fala inicialmente por meio de sons e sílabas possuem uma função afetivo-conativa do tipo prático. Observa Luria (1988, p. 27) que:
No começo, as respostas que as crianças dão ao mundo são dominadas pelos processos naturais, especialmente aqueles proporcionados por sua herança biológica. Mas através da constante mediação dos adultos, processos psicológicos instrumentais mais complexos começam a tomar forma. Inicialmente, esses processos só podem funcionar durante a interação das crianças com os adultos.
Tem-se, pois, que com o desenvolvimento e crescimento da criança, as relações fala-pensamento passam na teoria de Vygotsky dos aspectos verbais e motores que se encontram misturados no comportamento, acarretando o processo de inclusão dos elementos referenciais na fala para a conversão orientada pelo objeto, pelas expressões emocionais e constituição social, adquirindo traços demonstrativos das distinções que serão promovidas entre a criança e o mundo ao seu redor, passando da execução da ação para a organização do comportamento. Tal condução, segundo Luria (1988), reflete a convicção de que a aquisição da linguagem desempenha papel decisivo no desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. Essa interação, conforme visto por Bastos e Pereira (2014) e Aguiar (2009), é uma mediação que se processa pela utilização de instrumentos e signos na transformação do meio e dos sujeitos.
Leontiev (1988, p. 121) chama atenção para o fato de que “Durante esse desenvolvimento da consciência do mundo objetivo, uma criança tenta, portanto, integrar uma relação ativa não apenas com as coisas diretamente acessíveis a ela, mas também com o mundo mais amplo, isto é, ela se esforça para agir como um adulto”. Em vista disso, defende Vygotsky (2003) que a criança tem uma forma distinta de elaborar conceitos e é com a aprendizagem da fala que começa na criança um processo de construção de conceitos que só se completará na puberdade. Acrescenta Vygotsky (1988, p. 114) que “Com a linguagem interior e o pensamento nascem do complexo de inter-relações entre a criança e as pessoas que a rodeiam, assim essas inter-relações são também a origem dos processos volitivos da criança”. Por isso, o autor em comento vai destacar a importância da atividade artística teatral como contribuinte para o desenvolvimento da linguagem da criança. Principalmente, segundo Werneck (2011), Japiassu (1998), Japiassu (2014) e Japiassu (1999), pelo fato de que a teoria de desenvolvimento intelectual e proximal de Vygotsky enfatiza a aplicação do teatro na sala de aula pela criação de contextos sociais e por meio do domínio das tecnologias da comunicação e representação, que possibilitam trocas de experiências e jogos no envolvimento de ideias para novos conhecimentos que se formam pelos procedimentos da acomodação e assimilação, equilibrando as informações possuídas e as descobertas. É que na perspectiva sócio-histórica e antropológica, no dizer de Souza (2005), a arte é uma atividade social, humana, que supõe contextos sociais e culturais, a partir dos quais a criança recria a realidade através da utilização de sistemas simbólicos próprios.

O TEATRO NO DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM INFANTIL - O teatro, para Koudela (1984), é o conjunto da organização de ações e transmissão de mensagens. É o teatro, conforme Centurião (2014), linguagem com códigos, gramática e vocabulário próprio e que se expressa pela fala, gesto, representação, encenação. Em síntese, no dizer de Boal (1979), o teatro é a linguagem humana por excelência.
Por ser uma arte milenar, segundo Vasconcelos (2014, p. 3), o teatro “[...] proporciona através da representação um diálogo universal a partir da emersão de questões pertinentes a humanidade”.
A função do teatro, no dizer de Reverbel (1979), é de divertir instruindo e que pode ser utilizado como recurso didático na atividade educacional. Em vista disso, o teatro infantil, na expressão de Camarotti (1984, p. 13), é a modalidade teatral “[...] que se destina ao público composto primordialmente por crianças” e para a criança, sendo, portanto, uma arte que engloba muitos recursos, desde a boa comunicação até a atuação de todas as demais linguagens utilizadas no processo de encenação de um espetáculo, procurando, com isso, efetuar uma comunicação direta com a criança.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais, conforme Arcoverde (2014) e Cavassin (2008), propiciam que a abordagem dramática seja uma importante base para o desenvolvimento da educação criativa, por ter o objetivo de desenvolvimento mental e psicológico, desempenho da verbalização, capacidade de responder às situações emergentes e capacidade organizadora de domínio do espaço e tempo do aluno.
Os PCN de Artes para Educação Infantil, conforme Brasil (1998), assinalam que o teatro possui a função integradora, contribuindo no processo de aprendizagem que oportuniza a socialização entre as crianças, compartilhamento de brinquedos e construção de conteúdos culturais e sociais mediante as trocas e experimentações que integram linguagem, memória, imaginação, raciocínio, percepção, intuição e emoções.
Consta das referências curriculares, Brasil (1998, p. 134) que:
[...] A ampliação da capacidade das crianças de utilizar a fala de forma cada vez mais competente em diferentes contextos se dá na medida em que elas vivenciam experiências diversificadas e ricas envolvendo os diversos usos possíveis da linguagem oral. Portanto, eleger a linguagem oral como conteúdo exige o planejamento da ação pedagógica de forma a criar situações de fala, escuta e compreensão da linguagem. Além da conversa constante, o canto, a música e a escuta de histórias também propiciam o desenvolvimento da oralidade. A leitura pelo professor de textos escritos, em voz alta, em situações que permitem a atenção e a escuta das crianças, seja na sala, no parque debaixo de uma árvore, antes de dormir, numa atividade específica para tal fim etc., fornece às crianças um repertório rico em oralidade e em sua relação com a escrita.
Em vista disso, as diretrizes curriculares para a educação infantil, proposto pelo Parecer CNE/CEB 22/98  estabelecem que:
As propostas pedagógicas para as instituições de Educação Infantil devem promover em suas práticas de educação e cuidados a interação entre os aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivo-linguístico e sociais da criança, entendendo que ela é um ser total, completo e indivisível. Dessa foram, ser, sentir, brincar, expressar-se, relacionar-se, mover-se, organizar-se, cuidar-se, agir e responsabilizar-se são partes do todo de cada indivíduo, menino ou menina, que desde bebês vão, gradual e articuladamente, aperfeiçoando esses processos nos contatos consigo mesmos, com as pessoas, as coisas e o ambiente em geral (BRASIL, 2001, p.; 20).
Já entre os blocos de conteúdos expressos pelos PCN no Ensino Fundamental, está o entendimento do teatro como comunicação e produção coletiva, especialmente no tocante à linguagem por meio de narrativas e descrições de objetos, ambientes, situações, dramatizações, improvisações, enfim, exercícios que possibilitem que a criança externe por meio da voz e do movimento seus sentimentos e criatividade, vivenciando diferentes papéis, ampliando a imaginação (BRASIL, 1997; BRASIL, 2014). Evidencia-se com isso que a atividade teatral, seja na Educação Infantil ou nas séries inicias do Ensino Fundamental, contribui para o desenvolvimento da comunicação, expressão, potencialidades e habilidades na criança.
As vantagens obtidas com a atividade teatral na sala de aula, segundo Reverbel (1979), Arcoverde (2014), Silva (2014), Ferreira (2014), Santos e Santos (2014) e Araújo e Figueiredo (2014), englobam o desenvolvimento da oralidade, desenvolvimento do vocabulário, a impostação da voz, desinibição e aquisição de autoconfiança, entrosamento com as pessoas envolvidas propiciando contatos mais estreitos, incentivo à leitura, desenvolvimento de habilidades, estimulação da imaginação e organização do pensamento, a expressão corporal, entre outras tantas e importantes promoções incentivadoras.
Trata-se, todavia, de uma atividade artística que se renova e utiliza recursos técnicos visando estabelecer uma comunicação com a criança por meio de uma linguagem que encante, maravilhe, conduza à imaginação, ao faz de conta e à interação com a realidade e a fantasia. Ao mesmo tempo, por meio de experimentos e recreações, proporciona à criança participação no jogo teatral, no drama, na brincadeira e na interação comunicativa com outras crianças. Tal embasamento se encontra em Vygotsky (2009, p.17), ao mencionar que: “[...] as brincadeiras infantis têm um papel primordial em seu processo de criação, pois as crianças conseguem uma melhor expressividade através delas”. Nessa perspectiva, as crianças ao se expressarem por meio do teatro utilizando a linguagem, recombinam experiências reais ao criarem suas próprias histórias de faz de conta de forma experimental com a capacidade de expressar sínteses combinatórias no desenvolvimento em processo. Por essa razão Souza (2005, p. 83) observa que:
A arte de uma criança é o seu próprio reflexo. Ela aprende, na medida em que organiza sua experiência. O desenho é uma oportunidade de converter o pensamento adulto. A arte pode proporcionar não só a oportunidade de desenvolvimento em muitas áreas, mas, também o ensejo de a criança inventar, experimentar, investigar, cometer erros, sentir medo e aversão, amor e júbilo. Por fim, a criança deve essencialmente, por si mesma, ter todas essas experiências da vida. Vygostsky nos ajuda a compreender a importância dos aspectos culturais de cada sociedade ou, a relevância da função da interação sócio-cultural como elemento constituinte do desenvolvimento cognitivo infantil e, também, do diálogo e do trabalho coletivo, levando as crianças para humanização. Ao nascer, a criança se integra em uma história e uma cultura.
Nesse âmbito, observam Porto e Kafrouni (2013) que o teatro é identificado como facilitador da estimulação da linguagem para interação social, ao possibilitar à criança movimentar-se, testar, expandir e expressar suas emoções, sentimentos e observações. Pactuam dessa ideia Oliveira e Stoltz (2010) ao entenderem que entre as modalidades artísticas, o teatro é particularmente interessante quanto às possibilidades de interação, internalização da cultura, uso da palavra e expressão afetiva.
Meritório mencionar que o objetivo básico da atividade teatral, conforme Reverbel (1979), é desenvolver a linguagem e a autoexpressão da criança pelo oferecimento de atuação efetiva no mundo e auxiliando no crescimento afetivo, motor e cognitivo, trazendo benefícios que vão desde as descobertas de si próprio, como do outro e do mundo. Com isso, a realização de atividades teatrais pode ser de grande valia no desenvolvimento da criança e do adolescente. É no teatro que, segundo Oliveira e Stoltz (2010), pode-se trabalhar a elaboração da fala, da linguagem utilizada, da expressão emocional verbalizada, propiciando conscientização e melhor compreensão da língua, das palavras, seus sentidos e significados e dos conceitos científicos. Além do mais, defendem as autoras que com o teatro é possível assimilar e aprender conteúdos das mais diversas disciplinas, além do uso da linguagem, de ações nas representações, na mobilização da imaginação e da criatividade, na realização em determinado tempo e espaço e com determinados sujeitos tornando-se um universo peculiar de interação social e de manifestação da cultura que pode cumprir diferentes objetivos. Expressam Scheifer e Oliveira (2014) que para Vygotsky o teatro está intimamente ligado com o jogo, com o brincar da criança. Nessa condução, observa Fichtner (2010) que o jogo teatral se insere como atividade de caráter dialógico que estimula a criatividade para o aprendizado e favorece o tratamento da saúde por meio da representação do mundo, da prática transformadora e encontro com a vida por meio da apropriação do ato criativo proporcionado pelo teatro.
Há que se entender que o jogo, conforme Huizinga (2000), é uma atividade voluntária e livre, uma evasão da vida real, desinteressado, um acompanhamento, complementar e integrante da vida em geral, ornamentando-a, ampliando-a, tornando-se uma necessidade para o individuo como função vital e para a sociedade pelo sentido que encerra como função cultural.
Para Koudela (1984, p. 33) “A criança evoca, no jogo, uma conduta na ausência de seu objetivo habitual, transformando o esquema sensório-motor em esquema simbólico. O jogo reforça a passagem da representação em ato para a representação em pensamento”. Acrescenta Camarotti (1984, p. 27) que “[...] o jogo serve à criança para preencher suas necessidades através da experiência e da construção de uma outra experiência pela imaginação”.
Também há que se destacar que o jogo do faz de conta, conforme Silva (2014), possibilita o equilíbrio intelectual e afetivo para compreensão do mundo, pela expressão espontânea ou pela imitação da criança no seu tempo e espaço. Desenvolvido por meio de uma atividade teatral essas manifestações construirão o jogo simbólico da linguagem, do conhecimento e das interações entre o individual e o coletivo.
Já os jogos teatrais, conforme Santos e Santos (2014), promovem o desenvolvimento de processos de aprendizagem pela utilização do lúdico que leva à participação ativa e experimentações que enriquecem habilidades e superam limitações. As contribuições são fundamentais por sua função recreativa que auxiliam diretamente no processo de ensino e aprendizagem. São recursos capazes de proporcionar o prazer de brincar e aprender ao mesmo tempo, desenvolvendo habilidades e potencialidades, promovendo interação e iniciativa, domínio da comunicação e desenvolvimento interativo da linguagem, experiências emocionais, crescimento pessoal, enfim, criando condições para maiores e mais amplos processos de construção do conhecimento.
Com relação às brincadeiras, conforme Araújo e Figueiredo (2014), as crianças assimilam e se apropriam da realidade humana, elaborando soluções, construindo hipóteses e enriquecendo sua personalidade. Essas brincadeiras mudam com o desenvolvimento das etapas de crescimento da criança. É o que é encontrado em Vygotsky (2009, p. 99) ao expressar que “[...] a criação teatral está muito próxima do brincar da criança, mais do que qualquer tipo de criação. Ambas emergem como formas de atividade que possibilitam a apropriação de diversos papéis sociais”. Com isso, para o autor epigrafado, o teatro tem papel imprescindível em todo processo de desenvolvimento da criança. Tem-se, por isso, que o desenvolvimento da atividade teatral na sala de aula proporciona à criança a utilização das mais diferentes formas e modos da linguagem verbal, bem como a escrita, corporal e plástica, permitindo a expressão das suas experiências e vivências, experimentações emocionais, integrações e aprendizagens que englobam comunicações e expressões para suas interações sociais. Mais ainda, a atividade teatral possibilita na criança o trabalho da linguagem verbal para expressão de suas próprias experiências e vivências ao oportunizar a seleção, classificação e sequencias de termos e brincadeiras com argumentação de ideias e pontos de vista, na resolução de problemas, participação e envolvimento que promovem a autonomia, o respeito a si e ao outro.
Constata-se que por meio de atividades de contação de história, conforme Boal (1979), Spolin (1979), Cascudo (1984), Boal (1983), Bueno (1958), Koudela (1984), Courtney (1980), Coelho (1973), Goldstein (1991) e Reverbel (1979), existem diversas formas de abordagens, técnicas e estratégias na atividade teatral, adequadas à idade e à linguagem da criança, voltadas para seu desenvolvimento, especialmente ao que tange à oralidade, enriquecimento de vocabulário, expressão vocal. Por meio dessa atividade pode-se exercitar a califasia, califonia e calirritmia com jogos teatrais de pergunta e resposta, diálogos, charadas, brincadeiras de agilidade verbal e do espontâneo faz de conta, rimas, versificações, anáforas, leitura coral, jogo de palavras, jogral, trava-línguas, onomatopeias, silabações, brincadeiras de boca de forno, exercício de blablação, frases feitas, adivinhações, mnemônias, entre outros recursos orais de exercícios vocais e linguísticos. Tais atividades podem se desenvolver em decorrência de rodas de conversas formais e informais, leitura, discussões, imitações, entoações e cantorias, versificações, enunciações verbais, exteriorização de fantasias, desinibições, fantoches, pantomimas, esquetes, jograis, narrativas de viagens, de brincadeiras ou de experiências vividas. Em vista disso, conforme a revisão da literatura realizada, o teatro possibilita o desenvolvimento da expressão e comunicação, de assimilação, decifração e contextualização da realidade por meio do diálogo, socialização e da cooperação que inclui o outro na relação grupal.

CONSIDERAÇÕES FINAIS - Procurou-se evidenciar no presente artigo de que forma o teatro contribui para o desenvolvimento da linguagem da criança, investigando-se essas contribuições a partir da teoria histórico-cultural de Vygotsky.
Por conta dos estudos realizados, observou-se que na atividade teatral a criança terá diante de si uma das mais antigas atividades artísticas e manifestações culturais da humanidade, e que, por sua representação estética, social e educativa, contribui para o desenvolvimento da comunicação e expressão por meio do diálogo e da interação coletiva, tornando-se indubitavelmente importante recurso pedagógico e didático para o desenvolvimento da criança.
A sua contribuição se dá em virtude de proporcionar experiências as mais diversas e novas, utilizando-se de jogos, imitações, brincadeiras e interações que formarão o suporte ideal para a formação e a identidade da criança, sua trajetória na vida social e nos mais diversos aspectos do seu integral crescimento. Em vista disso, é por intermédio da atividade teatral que a criança poderá melhor desenvolver sua capacidade de comunicação, fato que faz com que se confirme a hipótese de que por meio de suas técnicas e métodos, a atividade teatral contribui devidamente para o desenvolvimento da linguagem da criança.
O presente estudo não se esgota aqui. Por extensão, pretende-se desenvolver uma pesquisa de campo com realização de atividades teatrais em sala de aula, aferindo-se por meio da identificação de opiniões de professores da Educação Infantil e primeiras séries do Ensino Fundamental de escolas públicas, logo após a realização das atividades, a percepção dessas contribuições.

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* Trabalho apresentado por exigência da disciplina Psicologia do Desenvolvimento, ministrada pela Professora Ms Fátima Pereira.