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Wednesday, December 03, 2014

O SAPO E A ONÇA


(Imagem: J. Lanzelotti – recolhida do livro Estória e Lendas dos Indios, organizada por Herbert Galdus, São Paulo: Edigraf, s/d)

Sentado junto de um igapó, o sapo viu chegar a onça, a grande inimiga de todos os bichos desde que lhe roubaram o fogo.

- Ah! É você: -, perguntou o sapo na vozinha mais doce de que foi capaz.

- E quem é você, tão pequenino, fraco e feio, que está se dirigindo a mim? -, perguntou a onça.

O sapo não se sentiu humilhado e até propôs:

- Você, Onça, me acha fraco e feio. Pois bem, vamos ver qual de nós dois é o mais valenete?

A princípio, o felino não deu importância ao desafio de rival tão insignificante, mas como ele insistisse, acabou por aceitar.

- Mie você primeiro -, disse o sapo – Depois eu coaxarei e vamos ver quem sentirá medo!

A onça soltou um miado tão longo e profundo que a terra tremeu. Tomados de pânico, todos os animais das florestas vizinhas fugiram para longe. Somente o sapo, calmo e confiante, permaneceu imóvel.

- Coaxe agora, você, Sapo! -, debicou a onça.

O sapo limitou-se a erguer o queixo e a soltar um coaxo surdo, em nada diferente da sua voz natural. Mas, no mesmo instante, todos os demais sapos que habitavam o igapó fizeram coro com ele. eram sapos de todas as espécies: jias, rãs, cururus, sapos da lama e sapos das árvores, erguendo os queixinhos, fizeram ruidosa coaxação.

A onça deitou a correr e tão precipitada foi a sua fuga que um toco arrancou um olho.

(Recolhido de Mitos dos índios caiapós, de Horace Banner, Revista de Antropologia, vol. 5, nº 1, São Paulo, 1957).

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