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Tuesday, December 30, 2014

O UNIVERSO DE LUIS DA CÂMARA CASCUDO


A ONÇA E O BODE

O Bode foi ao mato procurar lugar para fazer uma casa.  Achou um sítio bom.  Roçou-o e foi-se embora.  A Onça que tivera a mesma ideia, chegando ao mato e encontrando o lugar já limpo, ficou radiante.  Cortou as madeiras e deixou-as no ponto.  O Bode, deparando a madeira já pronta, aproveitou-se, erguendo a casinha.  A Onça voltou e tapou-a de taipa.  Foi buscar seus móveis e quando regressou encontrou o Bode instalado.  Verificando que o trabalho tinha sido de ambos, decidiram morar juntos.

Viviam desconfiados, um do outro.  Cada um teria sua semana para caçar.  Foi a Onça e trouxe um cabrito, enchendo o Bode de pavor.  Quando chegou a vez deste, viu uma onça abatida por uns caçadores e a carregou até a casa, deixando-a no terreiro.  A Onça vendo a companheira morta, ficou espantada:

– Amigo Bode, como foi que você matou essa onça?

– Ora, ora… Matando!… Respondeu o Bode cheio de empáfia.  Porém, insistindo sempre a Onça em perguntar-lhe como havia matado a companheira, disse o Bode:

– Eu enfiei este anel de contas no dedo, apontei-lhe o dedo e ela caiu morta.

A Onça ficou toda arrepiada, olhando o Bode pelo canto do olho.  Depois de algum tempo, disse o Bode:

– Amiga Onça, eu lhe aponto o dedo…

A Onça pulou para o meio da sala gritando:

– Amigo Bode, deixe de brinquedo…

Tornou o Bode a dizer que lhe apontava o dedo, pulando a Onça para o meio do terreiro.  Repetiu o Bode a ameaça e a onça desembandeirou pelo mato a dentro, numa carreira danada, enquanto ouviu a voz do Bode:

– Amiga Onça, eu lhe aponto o dedo…

Nunca mais a Onça voltou.  O Bode ficou, então, sozinho na sua casa, vivendo de papo para o ar, bem descansado.



LITERATURA ORAL NO BRASIL – No livro Literatura oral no Brasil, Luís da Câmara Cascudo aborda sobre as fontes da literatura oral, elementos e temas, participação indígena, fábulas, lendas, mitos, tradições, poética, sobrevivência afro-negra, permanência portuguesa, fontes impressas, os romances e sua sobrevivência, antologia do conto popular brasileiro, contos de encantamento, contos de exemplo e de animais, facécias, contos religiosos e etiológicos, ciclo da morte, poesia oral, poesia mnemônica, desafios, ciclo do gado, gesta dos valentes, cantiga social, autos populares e danças dramáticas, fandango ou marujada, chegança, congo ou congadas e bumba-meu-boi.


VAQUEIROS E CANTADORES – Neste livro o autor aborda os nativos da poesia tradicional sertaneja, poesia mnemônica e tradicional, romances, pé-quebrado, os ABC, pelos sinais e orações, ciclo do gado, o cantador, ciclo social, a cantoria, o desafio e um documentário trazendo os principais personagens da música e da literatura oral nordestina. 


LOCUÇÕES TRADICIONAIS NO BRASIL – Nesta obra revive o significado das expressões usadas pelo povo nordestino, trazendo o histórico de cada expressão e sua explicação, reunindo palavras e frases que são usuais nessa região e em todo país.

REFERÊNCIAS
CASCUDO, Luís da Câmara. Contos tradicionais do Brasil. Rio de Janeiro: Ouro: 1967.
______. Literatura oral no Brasil. São Paulo/Belo Horizonte: Itatiaia/EdUsp, 1984.
______. Vaqueiros e cantadores. São Paulo/Belo Horizonte: Itatiaia/EdUsp, 1984.
______. Locuções tradicionais no Brasil. Recife: EdUFPE, 1970.

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