A ONÇA E O BODE
O Bode foi ao mato procurar lugar
para fazer uma casa. Achou um sítio bom. Roçou-o e foi-se
embora. A Onça que tivera a mesma ideia, chegando ao mato e encontrando o
lugar já limpo, ficou radiante. Cortou as madeiras e deixou-as no
ponto. O Bode, deparando a madeira já pronta, aproveitou-se, erguendo a
casinha. A Onça voltou e tapou-a de taipa. Foi buscar seus móveis e
quando regressou encontrou o Bode instalado. Verificando que o trabalho
tinha sido de ambos, decidiram morar juntos.
Viviam desconfiados, um do
outro. Cada um teria sua semana para caçar. Foi a Onça e trouxe um
cabrito, enchendo o Bode de pavor. Quando chegou a vez deste, viu uma
onça abatida por uns caçadores e a carregou até a casa, deixando-a no
terreiro. A Onça vendo a companheira morta, ficou espantada:
– Amigo Bode, como foi que você
matou essa onça?
– Ora, ora… Matando!… Respondeu o
Bode cheio de empáfia. Porém, insistindo sempre a Onça em perguntar-lhe
como havia matado a companheira, disse o Bode:
– Eu enfiei este anel de contas no
dedo, apontei-lhe o dedo e ela caiu morta.
A Onça ficou toda arrepiada,
olhando o Bode pelo canto do olho. Depois de algum tempo, disse o Bode:
– Amiga Onça, eu lhe aponto o dedo…
A Onça pulou para o meio da sala
gritando:
– Amigo Bode, deixe de brinquedo…
Tornou o Bode a dizer que lhe
apontava o dedo, pulando a Onça para o meio do terreiro. Repetiu o Bode a
ameaça e a onça desembandeirou pelo mato a dentro, numa carreira danada,
enquanto ouviu a voz do Bode:
– Amiga Onça, eu lhe aponto o dedo…
Nunca mais a Onça voltou. O
Bode ficou, então, sozinho na sua casa, vivendo de papo para o ar, bem
descansado.
LITERATURA ORAL NO BRASIL
– No livro Literatura oral no Brasil,
Luís da Câmara Cascudo aborda sobre as fontes da literatura oral, elementos e
temas, participação indígena, fábulas, lendas, mitos, tradições, poética,
sobrevivência afro-negra, permanência portuguesa, fontes impressas, os romances
e sua sobrevivência, antologia do conto popular brasileiro, contos de
encantamento, contos de exemplo e de animais, facécias, contos religiosos e
etiológicos, ciclo da morte, poesia oral, poesia mnemônica, desafios, ciclo do
gado, gesta dos valentes, cantiga social, autos populares e danças dramáticas,
fandango ou marujada, chegança, congo ou congadas e bumba-meu-boi.
VAQUEIROS E CANTADORES
– Neste livro o autor aborda os nativos da poesia tradicional sertaneja, poesia
mnemônica e tradicional, romances, pé-quebrado, os ABC, pelos sinais e orações,
ciclo do gado, o cantador, ciclo social, a cantoria, o desafio e um
documentário trazendo os principais personagens da música e da literatura oral
nordestina.
LOCUÇÕES TRADICIONAIS NO BRASIL
– Nesta obra revive o significado das expressões usadas pelo povo nordestino,
trazendo o histórico de cada expressão e sua explicação, reunindo palavras e
frases que são usuais nessa região e em todo país.
REFERÊNCIAS
CASCUDO,
Luís da Câmara. Contos tradicionais do Brasil. Rio de Janeiro: Ouro: 1967.
______.
Literatura oral no Brasil. São Paulo/Belo Horizonte: Itatiaia/EdUsp, 1984.
______.
Vaqueiros e cantadores. São Paulo/Belo Horizonte: Itatiaia/EdUsp, 1984.
______. Locuções tradicionais no Brasil.
Recife: EdUFPE, 1970.
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