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Tiago de MattosCAXANGÁ “
Escravos de Jô jogavam caxangá, tira, bota, deixa o Zé Pereira ficar. Guerreiros com guerreiros fazem zigue, zigue, zá”
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Ninguém se liberta sozinho. Ninguém liberta ninguém. Os homens se libertam em comunhão” (
Paulo Freire,
Pedagogia do oprimido)
Luiz Alberto Machado Nasce o dia e a criança sorri de alegria com a vida nas mãos. O coração na primavera parece quimera feita de sol, onde brincam arrebóis em sonhos coloridos entre bemóis e também sustenidos que são exibidos na cantiga da infância como a fragrância de tudo reunido.
Vem a tarde e o menino já é um rapaz com os olhos iguais aos que viram no mundo. E vão lá no fundo do que vêem agora, muito embora não vejam de tudo. Quando falam, são mudos. Quando riem, desnudos. E devem acordar. Preferem singrar solidões mais noturnas, usurpando as dunas de tudo alcançar.
Cai à noite e já homem feito se acha perfeito, é de hoje e nada sabe. Não quer que desabe sua arquitetura e toda sua aventura suspira no tempo, audaz nos tormentos e inquietações. São mais solidões seguindo a pisada, segue a sua estrada escorraçada da terra. Emperra e desanda, peleja de banda entre farpas e mesquinharias. Ferve em demasia, enganando a esperança. Alcança faíscas e chamas onde inflama a fúria, a ira, o alarido. Está mais perdido e ao se adiantar, não avança. Ao recuar, mais se cansa. Quando volta, não há mais saída. E retoma na lida, nada divisa, não há direção.
Quando então se madruga é hora de recomeçar, re-arrumar o destino e a sina. É quando desatina e se estende nos céus, desvela os seus véus na mais longe das terras. E se encerra no mais largo dos mares, penando pesares, com as forças exaustas. O que há de nefasto, o que há de perverso, são espelhos reversos e fazem-no olhar para trás. Dar a mão à criança, ao menino e ao rapaz, refazendo o homem que jaz de mãos dadas com a vida, quando tem por guarida só a comunhão para ver que a vida está na palma da mão.
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