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Monday, October 08, 2007

ALVORADINHA



AS ÁGUAS DO ALVORADINHA

Luiz Alberto Machado

Alvoradinha sempre foi achegado a dar mergulhos e a se fartar de água quando estava com sede. Avistasse ele bica, brejo, riacho, lagoa, rio ou mar, logo partia alvoroçado a timbungar afoito, isso porque sempre fora costume caeté o ato de banhar-se, aliviando o fogo tropical. E esse costume ficou ainda mais vivo, quando, um dia lá, Alvoradinha encontrou o Curupira por quem não teve o menor temor. Segundo a lenda, o Curupira é um gentiozinho de cocar e tanga de penas, sempre armado de arco e flechas. Contam os historiadores que este ente fantástico das matas, é o demônio da floresta, explicador dos rumores misteriosos, causador de pavores súbitos e inexplicáveis e que qualquer adulto que o encontrasse, morreria de medo na hora. Alvoradinha, não. Logo abriu converseiro solto na maior das intimidades, a ponto de se tornarem amigos. Brincaram, armaram e desarmaram estripulias e, no meio dessa amizade, o Curupira contou muitas coisas e levou Alvoradinha para testemunhar muitos dos segredos das águas.
Primeiro mostrou quando o rio dorme. É quando a correnteza pára, a cachoeira se imobiliza e tudo fica silencioso. É quando a Mãe-d´Água fica penteando os cabelos para dormir.
Nessa mesma hora, viram o cochicho das traíras sobre o Bicho d´Água que mora no redemoinho das águas dos rios, que anda acompanhado de seu comparsa Minhocão, para atemorizar os pescadores.
Também, o Moleque d´Água, o cabeludo, metade gente, metade peixe que habita as regiões mais profundas e adora ficar fazendo medo a todos que navegam as correntes caudalosas.
Quando desciam rio abaixo, toparam as cachoeiras caudalosas e rumorosas, onde bateram de frente com a gruta da Serpente de Asas. Melhor dali se afastar. Assim fizeram, quando souberam de Siana Branca de Correntina, a cuereira que dá o seu amor aos remeiros, livrando-os dos males que possam ocorrer às suas jangadas. Por isso ainda hoje carregam sua efígie numa carranca presente em todos os navios.
Bateram pela Lagoa do Prata onde no fundo estão enterrados os tesouros de Branca Dias. E de lá alcançaram o mar, onde receberam a bênção de Iemanhá, a rainha das águas marinhas. Até chegar nos domínios de Iara que concedeu-lhe a permissão de navegar por todas as águas dos rios.
Alvoradinha nunca esqueceu dessa odisséia, tanto que até hoje, não deixa de brincar e respeitar as águas com todo seu carinho. Sabe ele que quando tem sede, a água é valiosíssima; e quando se suja, ela purifica e limpa seu corpo para deixá-lo feliz.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.

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