BRINCARTE

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Friday, February 13, 2015

O NARIZ ESPIRRÃO


O NARIZ ESPIRRÃO

Luiz Alberto Machado

Era uma vez um menino que era até bem apessoado e simpático. Mas tinha os olhos da ambição e um nariz que espirrava que só.

Fosse hora que fosse e ele: Atchin!

Na escola, no meio da aula, ele com seu atchim! Atrapalhava a aula porque espirrava, espirrava, espirrava tanto, dele não deixar ninguém estudar: atchim!.

Se fosse festa de aniversário, ele chegava com seu: atchim!

Se fosse na rua passeando pela praça, atchin!

Ora, não havia tempo nem lugar, ele só: atchim!

Mas eis que esse menino atchim ganhou um apelido: o nariz espirrão! E assim ficou, nariz espirrão. Atchim! Vôte!?! Até eu já estou espirrando: atchim!

Pois bem, esse menino cresceu e virou rapaz: atchim! Tornou-se homem feito: atchim! E foi ficando doente de raiva de querer tudo que todo mundo possuía.

- Eu quero! Atchim!

Primeiro ele queria tudo, tudo o que fosse. Uma casinha linda que viu, conseguiu expulsar uns velhinhos que moravam lá. Chegou lá, ele: atchim! E os velhinhos correram fugindo de seus espirros cada vez maiores.

Aí ele construiu em volta daquela casa tão bonitinha um muro tão alto, mas tão alto, que não dava para saber o que tinha do lado de dentro, nem de saber quem mais morava ali.

Um certo dia ele viu um automóvel muito bonito. Espirrou e disse: - Atchim! Eu quero aquele carro! Atchim! -, e tudo fez para ter aquele carro, até que o escondeu dentro dos seus muros. E ninguém nunca mais viu nem o atchim nem o carro.

Outra vez ele viu uma joia brilhante numa vitrine de loja, e ele: - Atchim! Eu quero essa joia! Atchim! -, e tudo fez de novo para conseguir levar aquela joia e esconder dentro dos muros de sua casa.

Assim foi querendo e juntando coisas, levando, tomando, se apoderando das coisas de todos da cidade, até que ninguém mais dali possuía nada e ele tornou-se poderoso e com tudo de todo mundo. Ele tinha tanta coisa que resolveu sentar-se e ficar olhando tudo que possuía: - Atchim! Agora eu tenho tudo de todos! Atchim!

Certificou-se ele de que não precisava de mais nada nem de ninguém. Não precisava de amigos, de parentes, nem de nada, possuía tudo que precisava. E assim viveu por anos e anos contemplando a sua ganância reunida e amontoada tudo ali para ser de seu e de mais ninguém.

Aí teve um dia que ele deu um espirro tão grande, mas tão grande, que tudo foi ficando mudado, se gastando, se modificando. Quanto mais espirrava, mas as coisas se modificavam, tornando-se coisas gastas ao seu redor. Era o tempo que levava as coisas que ele tinha, desfazia tudo e entregava pro vento levar pra longe.

Passava o tempo e não sabia ele que com o tempo passava as coisas que nasciam e que, pela ação do tempo, também envelheciam, enferrujavam e se tornavam imprestáveis até se acabarem de vez e sumir no pó dos ventos. E com seus espirros, cada vez mais as coisas envelheciam e se gastavam até virar pó e cinzas que eram levadas pelo vento.


- Atchim! O tempo e o vento estão levando as minhas coisas! Atchim!

E a cada espirro o tempo vinha, modificava as coisas até torná-las cinzas pra dar pro vento levar.

Assim, o tempo foi passando e tudo que era a riqueza dele, tornou-se coisas sem a menor valia. Viraram pó, cinzas e foram embora com o vento, abandonando-o, deixando-o sem mais nada.

Viu que tudo que havia reunido ia embora sem poder fazer nada e as coisas que ficavam não serviam mais para nada.

E ele: - Atchim! Tudo meu está sumindo! Atchim! Está imprestável! Atchim! –, e ao constatar que tudo estava se acabando ele começou a chorar e espirrar! Estava ficando sozinho e sem nada. Tinha que fazer alguma coisa, pedir socorro, procurar por pessoas para ajudá-lo.

Quando ele abriu o portão dos seus muros e procurou gente para dizer o quão infeliz ele estava por ter tudo que não valia nada, teve uma triste constatação: não havia ninguém para ele conversar. Não havia ninguém para ele falar da sua infelicidade, de sua tristeza permanente. Todos que não possuíam mais nada, foram embora buscar melhorias noutra cidade. Ele saiu cada vez mais procurando um a um para conversar, para dividir seu sofrimento, não havia mais ninguém. Aí ele chorou de solidão. Estava sozinho: não tinha um amigo sequer para dividir sua aflição.

Ele muito triste resolveu voltar para casa e quando chegou às imediações deu por si de que a sua casa que era tão bonitinha estava ficando tão usada, ruindo e até chegar aos escombros. E agora? Como reconstruir tudo? Como reconquistar tudo? Não havia nada nem ninguém para conquistar. Estava sozinho no mundo.

Foi aí que ele percebeu que sozinho não era ninguém e começou a caminhar e andou dias e mais dias até alcançar uma cidadezinha em que as pessoas viviam lá. Ele ficou alegre! Percebeu que poderia contar sua história pras pessoas dali. E foi o que ele fez. Assim fazendo percebeu outra coisa: não mais espirrava. Eita! Ficou muito mais alegre: não tinha nada, mas estava curado e tinha pessoas para conversar e dividir as suas emoções. E assim ele entrou pela perna de pinto, correu pela perna de pato, ficou muito feliz e deu vez ao seu boato!


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