BRINCARTE

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Monday, February 09, 2015

A LENDA DO TSURU


Depois de um dia de muitas brincadeiras, a meninada procurou Pai Lula para que ele contasse uma das suas histórias maravilhosas. Foi, então, que ele sempre solícito, acomodou a meninada no seu laboratório e começou a contar a Lenda do Tsuru que ele ouvira contada por sua avó.

Era uma vez um camponês muito pobre. Vivia em uma cabana tosca e seu único alimento eram algumas verduras que colhia de sua terra cansada.
Um dia, ele encontrou um grow machucado, com a asa destroçada. Por isso ele não podia voar e buscar alimento: isto o deixou muito fraco, à beira da morte.
O camponês teve pena da ave, cuidou de sua asinha e pacientemente colocou em seu bico algumas sementes. Sua bondade a livrou da mote e quando ela pôde voar o camponês a soltou.
Alguns dias depois, uma mulher adorável apareceu em sua casa e pediu que lhe desse abrigo por uma noite. O camponês, por ser bom, não negaria esta caridade a ninguém, mas a beleza da mulher fez com que ele acreditasse que deixá-la dormir em sua pobre cabana era realmente uma honra. Os dois se apaixonaram e se casaram. A noiva era delicada, atenciosa e tinha tanta disposição para o trabalho quanto era bonita, e assim eles viviam muito felizes. Mas para o camponês, que já tinha muita dificuldade em viver sozinho, ficou muito difícil cobrir as despesas que sua nova vida de casado lhe trazia.
Preocupada com esta situação, a esposa disse ao marido que produzir um tecido especial (tecer era um trabalho comum entre as mulheres daquela época). Ele poderia vendê-lo para ganhar dinheiro, mas ela alertou que precisaria fazer seu trabalho em segredo, e que ninguém, nem mesmo ele, seu marido, poderia vê-la tecer.
O homem construiu uma pequena cabana nos fundos de sua casa e lá ela trabalhou, trancada, durante três dias. O marido só ouvia o som do tear batendo, e a curiosidade e a saudade que tinha de sua bela mulher fazia com que estes dias demorassem muito para passar. Quando o som da tecelagem parou, ela saiu com um tecido muito bonito, de textura delicada, brilhante e com desenhos exóticos. A tecelã lhe deu o nome de “mil penas de Tsuru”. Tsuru, ou Grow, é uma ave japonesa que lembra uma garça. É um dos mais conhecidos símbolos da paz. Segundo uma antiga tradição oriental, fazer mil grows em origami é um ato de esperança. Daí surgiu o habito de fazer uma corrente de Tsurus para realizar desejos: a recuperação de um doente, a felicidade no casamento, a entrada para a universidade, a conquista de um emprego.
Ele levou o tecido para a cidade. Os comerciantes ficaram surpreendidos e lutaram entre si para consegui-lo. O vendedor pagou com muitas moedas de ouro por ele. o pobre homem não podia acreditar que tão de repente a sorte começasse a lhe sorrir.
Desde então, a esposa passou a trabalhar no valioso tecido outras vezes. O casal podia, com o fruto da venda, viver em conforto. A mulher, porém, tornava-se dia após dia mais magra.
Um dia, ela disse que não poderia tecer por um bom tempo. Ela estava muito cansada. Seus ossos lhe doíam e a fraqueza quase a impedia de ficar em pé.
O camponês a amava muito e acreditava naquilo que ela dizia, porém, tinha experimentado a cobiça e como havia contraído algumas dívidas na cidade, pediu para que ela tecesse somente por mais uma vez. No principio ela não aceitou, mas perante a insistência do marido, cedeu e começou a tecer novamente.
Desta vez ela não saiu no terceiro dia, como era de costume. E o homem ficou preocupado. Mas três dias se passaram sem que ela aparecesse. E isso começou a deixar o marido desesperado.
No sétimo dia, sem saber mais o que fazer, ele quebrou a promessa, espiando o serviço de tecelagem que ela fazia.
Para a sua surpresa, não era sua mulher que estava tecendo. Arqueado sobre o tear encontrava-se um grow, muito parecido com aquele que o camponês havia curado.
O homem mal pôde dormir à noite, pensando o que teria acontecido com a mulher que amava. Amaldiçoava-se por ter sido insaciável e praticamente ter obrigado a sua querida esposa a tecer mais uma vez.
Na manhã seguinte, a porta da cabaninha se abriu e o camponês com o coração aos saltos fixou seus olhos na porta, esperançoso em ver sua esposa sair dela com vida. A mulher saiu da cabana com profundas olheiras, trazendo o último tecido nas mãos tremulas. Entregou=a para o marido e disse: - Agora preciso voltar. Você viu minha verdadeira forma, assim, eu não posso ficar mais com você!
Então, ela se transformou em uma ave, o grow, e voou, deixando o camponês em lágrimas.



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