MÃE
Mãe, nome puro como o céu,
Mãe, nome singelo.
Juro por tudo mais sagrado
Que serei sempre sincero.
Oh minha mãe!
Quanto és boa,
Desde manhã até a noite
Sua voz em meus ouvidos, soa.
MAZZAROPI
Precisamos
resgatar a figura do Jeca Tatu
do
matuto, do nosso esquecido Mazzaropi
-um
caipira com nome de pizzaiolo!
Não
importa, ele era telúrico!
com
suas botas, fumo-d
e-rolo,
chapéu surrado
camisas
quadriculadas, cusparadas e babaquices
[babaquice
não é uma palavra poética
adverte-me
o editor Victor Alegria]
caminhando
aos trambolhões, apalermado.
Seu
casebre era de pau-a-pique
o
cão preguiçoso a imitar o dono
o
panelão no fogo e o cigarro-de-palha
queimando-lhe
os lábios no cochilo
ou
no ronco escancarado.
Grosseiro?
Vulgar? Caricato?
Ríamos
de nosso próprio desengonço
de
nossa rudeza, ingenuidades
ao
som de violas e pilhérias
em
torno de fogueiras, sob bandeirinhas
de
São João, no terreiro
na
roça! no cinema, envergonhados.
Os
filmes horríveis, por isso maravilhosos!
Cantava
como um bezerro desmamado
atuava
imitando a si mesmo
e,
por isso mesmo, genial.
Os
filmes eram sempre os mesmos
os
enredos sempre iguais, banais
as
mesmas vacas,
os
mesmos pastos
da
fazenda que de
via
ser a dele
as
mesmas galinhas
o
velho caminhão de feira
e
aquele anda
r
pisando ovos
ou
bosta de gado.
Era
o nosso Cantinflas, o nosso Chaplin
ou,
se menos, nosso palhaço-de-circo
nosso
ventríloquo, nosso bobo da corte
que
nos levava ao riso e às lágrimas.
Agora
os nossos interioranos são cowntry
em
vez de viola ouvem guitarras elétricas
em
vez de calças fr
ouxas
e encolhidas
usam
jeans e cintos reluzentes.
Mas,
lá adiante,
no
pé-de-serra
ainda
existe um Mazzaropi tirando
bicho-de-pé
com facão de cortar cana
e
alguma lamparina, uma moenda
caninha
de alambique
uma
capelinha rural
enfeitada
de fita
e
folhas de palmeiras
e
um galo marcando a tradição.
OS ÍNDIOS
(fragmento)
A terra é a
existência do índio
-terra de todos,
comunitária
terra que é
partícula
em movimento e
assimilação.
Terra e índio: um
vive da outra.
Mãe e filho, indivisíveis.
ANTONIO
MIRANDA – O escritor maranhense Antonio Lisboa Carvalho de Miranda é membro da Academia de Letras
do Distrito Federal, professor do Programa de Pós-Graduação da Informação e
Documentação da Universidade de Brasília (UnB) e no seu portal traz uma seção
de Poesias Infantis reunindo seus trabalho artístico e de muitos outros poetas
que militam na área. Na sua poética ele brinca com as
palavras criando “ideogramas” que formam imagens e mostram o seu significado.
Confira o portal do autor aqui e veja mais dele aqui.
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