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Monday, September 08, 2008

LENDAS



A MANDIOCA

O morubixaba tinha-se entregue ao descanso conferido aos velhos. A mulher tratava da cozinha, escaldava o peixe, enfileirava-o nas embiras de fumeiro, moqueava a caça e punha-a de reserva na gamela, para que não faltasse alimento nos mais duas de chuva ou de prolongada estiagem.
A filha, de ânimo sossegado, levava a existência singela das outras jovens da tribo. De manhã e de tarde, atravessava a nado o ribeirão, sob os ramos inclinados dos ingazeiros. De volta, trazia frutos e flores, não raro uma cabeça de mel colhido no oco de um pau.
Em casa, tirava as fibras do tucum, fiava e, mediante uma agulha feita de taquara, tecia redes para a pesca. Tratava da arara, cumulava-a de blandícias e de coquinhos verdes. Confeccionava belas redes de repouso, vistosos cocares de penas para os moços da tava, e quando não tinha mesmo nada que fazer, repetia as cantigas de guerra ou de amor que lhe haviam chegado através das gerações.
Nada mais singelo, nem mais puro. No entanto, de um dia para o outro, sentiu-se grávida. Correu a contar a novidade ao pai, o velho morubixaba. Este não aceitou, absolutamente, a estória que a pobre moça lhe contava, com lagrimas nos grandes olhos pretos, doces como jabuticabas. O velho índio sentiu-se enganado e, por todos os meios ao seu alcance, tratou de investigar quem seria o pai de seu futuro neto.
Quando chegou o dia do parto, num ambiente carregado, apareceu certo homem branco, daqueles que pela austeridades e pelas atitudes, impunham desde logo confiança. Procurou o velho chefe e lhe disse que, realmente, sua filha se tornara mãe em pleno estado de virgindade. Assim, a jovem índia e sua filhinha encheram o rancho de alegria.
Mas ao cabo de um ano, sem qualquer doença, a pequenina Mani, assim se chama ela, fechou os olhinhos negros e morreu, sendo enterrada nas proximidades do rancho. E, segundo o costume da tribo, esta sepultura era regada todas as manhãs.
Certo dia, porém, para surpresa de todos, brotou naquele local uma planta muito bonita a que a mãezinha saudosa, em lembrança da pequenina Mani, deu o nome de Maniva. Desenvolveu-se, deu grossas raízes de leitoso suco. Dela, os índios passaram a tirar o cauim, bebida que antes era fabricada com outros elementos. E a farinha!
A aldeia passou a chamar a planta de Mandioca, em cujo som encontram-se Mani, a criança morta, e Oca, a casa do índio, onde a maniveira é aproveitada das folhas às raízes como símbolo de alegria e abastança.

FONTE:
FERREIRA, Ciro Dutra; SANGUINETTO, J. C., CORTES, Paixão. LESSA, Luis Carlos Barbosa. Lendas brasileiras. Porto Alegre: Centro de Tradições Gauchas/Livraria Pluma, s/d.
LESSA, Barbosa. Estórias e lendas do Rio Grande do Sul. São Paulo: Edigraf, 1960.
SCHMIDT, Afonso. A mandioca. In: Antologia Ilustrada do Folclore Brasileiro. São Paulo: Edigraf, 1960.

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