LELECO,
A LAGARTIXA QUE PERDEU A CAUDA – Há quase um ano fui presenteado com esse livro
por intermédio do poeta pernambucano Frederico Spencer. Andei envolvido com muitos
afazeres nos últimos meses e hoje resolvi fitar as pilhas de livros que tenho
para ler e comentar, escolhendo logo esse. É que ainda estou em clima da IV
Flimarzinha (e, curiosamente, foi na III edição dessa festa de Marechal Deodoro
– o lugar de Madalena, que conheci o poeta mencionado). Sujeito irresponsável
eu, hem? Vamos lá, antes tarde do que nunca. Espero redimir o carinho do casal
amigo da minha terra pernambucana.
Trata-se
de um belíssimo e bem ilustrado livro da escritora, terapeuta e professora
pública, Abigail Souza, que é graduada em Educação Física e pós-graduada em
Psicopedagogia.
Viajei
na narrativa que envolve o Leleco, a Querumbina, o Teitei, o BiraCão, a Porpeta
e uma turma toda que se envolve numa festa pela chegada de um novo morador na
redondeza. Uma festa que começa com a tristeza do protagonista e culmina com um
festejo que mais revela solidariedade e companheirismo entre aqueles que são
tidos como asquerosos excluídos. Uma metáfora para lá de linda. Afinal, nem
tudo são flores, muito menos azul, rosa, ou fantasia de finais felizes no nosso
país. Dá pra constatar o sol brilhando paratodos, ao contrário da visualização
feita do nosso Brasilzão véio, arrevirado, de porteira escancarada e de tantas
desigualdades. Pela metáfora, o livro é a festa dos excluídos: aqueles que são
jogados para as periferias e que sobrevivem da ausência do Estado e de tudo que
deveria ser respeitado pelo princípio da dignidade humana e do exercício de
cidadania. Com um detalhe: uma narrativa deliciosa que me levou ao tempo das
minhas leituras de La Fontaine, Andersen, dos irmãos Grimm, as fábulas de todos
os tempos. E melhor: fui imaginando a fantasia da festa dos deserdados, contada
como o mais singelo conto da carochinha. Essa é a arte da autora: contar a
excrescência no reino do faz de conta metaforizando a realidade nua e crua.
Virei menino na hora e me solidarizei cantando a minha Nênia de Abril para ela:
vai escrever bem assim no melhor lugar do mundo, mulher!
Melhor
diz o Professor José de Arimateia J. Santos: “[...] Como nas boas fábulas os animais têm características de pessoas. Ao longo
da narrativa aparece a lagartixa Leleco, órfão de pai e o mais velho de uma família
de seis irmãos, que vive o drama de ter sua cauda quebrada por garotos da
cidade. Ele recebe a solidariedade de um grupo de animais, entre eles, a barata
Querumbina, o cururu Teitei, o doutor Corujeldo e BiraCão, o lobo bom. Dentro
da história ocorrem ainda referências à ecologia, representada pela figura de
Verdelindo Mendes, grilo seringueiro [...]”.
Também
o Professor Doutor Lourival Pereira Pinto diz: “[...] A aventura gira em torno da amizade, do companheirismo e aborda
temáticas muito atuais como o bullyng, preservação da natureza, cadeia
alimentar, entre outros. A autora recorre à personificação e a um mundo de
imaginação para colorir a vida de espécies tão desprezadas como baratas e
lagartixas”.
Nada
disso diz tudo. Eu só digo: Parabéns, Abigail, parabéns reiterados. E digo: o melhor
mesmo é ler a história e viajar nessa encantadora metáfora infantil do Brasil.
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