O
BRINCAR INFANTIL – No
livro Questões de pesquisa e práticas em psicologia escolar (Casa do Psicólogo,
2006), organizado por Maria Cristina Rodrigues Azevedo Joly & Celia
Vectore, encontro o artigo Tempo e lugar para brincar na contemporaneidade:
sentidos e possibilidade da brincadeira infantil, de Beatriz Beluzzo Brando
Cunha & Renata F. Fernandes Gomes, do qual destaco os trechos: A criança atua na realidade que a cerca,
interpretando-a e produzindo significações sobre ela. É a brincadeira um dos
principais mediadores da relação que ela estabelece com o mundo, portanto, tem
um papel especial em seu desenvolvimento [...] A vida moderna, capitalista e urbano-industrial, de nossa cultura
ocidental, reduziu significativamente os ambientes públicos destinados à
convivência infantil e ao exercício de brincadeiras livres e espontâneas. Praças,
ruas, parques não são mais frequentados como eram há tempo, seja pela falta de
segurança que hoje se instaura, seja pela ausência de condições adequadas e/ou
disponibilidade dos adultos. [...] Poder-se-ia
argumentar, então, que as instituições de educação infantil são lugares propícios
para o resgate, a realização e a preservação da infância e dos momentos lúdicos
em nosso contexto atual. Sim. No entanto, há que se considerar a forma como o
brincar estásendo viabilizado nesses espacços para educação e os cuidados das
crianças. Paradoxalmente, ora observamos intensa desvalorização do brin car,
caracterizada pelo espontaneísmo, ora excessiva pedagogização desse ato. A educação
infantil, como uma instancia que deveria valorizar as atividades lúdicas,
funcionando como antidoto ao processo de adultização precoce, nem sempre
oferece esse espaço da infância, que esperamos. [...] A criação de espaços alternativos para a expressão da infância se
evidencia como algo necessário; seja pela importância do brincar para a
constituição e desenvolvimento do ser humano, seja pela possibilidade de
estabelecer relação com a cultura, com a estética e com o prazer de realizar
uma atividade com um fim em si mesma. Nesse sentido, as brinquedotecas – ainda que
não substituam as praças, os parques e os espaços familiares e escolares
destinados às brincadeiras infantis – apresentam-se como recursos capazes de
ampliar as condições para a realização da infância na contemporaneidade. Abrir espaço
para o lúdico, favorecendo e incentivando a brincadeira, é oferecer condições
para amenizar as desigualdades sociais quanto à aquisição e utilização de
brinquedos, estimularem as trocas de experiências, encontros, negociações e
convívio social entre as crianças, por meio do brincar.