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Thursday, November 20, 2014

LENDAS INDÍGENAS: O QUATI, A JURITI E A PREGUIÇA


O QUATI, A JURITI E A PREGUIÇA
 
A juriti é muito trabalhadeira e plantou uma roça. Pediu ao sabiá:

- Me ajuda, sabiá!

Mas o sabiá não gosta de trabalhar. Machucou o olho com um graveto e queixou-se de estava com febre. A juriti ficou sozinha, com os seus legumes amadurecendo. O sabiá só queria era comer. Então a juriti cercou a roça. E o sabiá ficou espiando de fora, sem poder comer.

A preguiça, como se sabe, é muito preguiçosa. Só trata de comer.

Todos os bichos encontraram-se com a preguiça e vendo aquilo ficaram muito zangados.

O quati mandou a preguiça trabalha e ela não quis. Gosta de comer mas não gosta de trabalhar.

O quati perdeu a cabeça e deu uma surra na preguiça. Esta, porém, não pôde correr e ficou ali chorando.

A juriti veio e perguntou?

- Que é que você tem, comadre preguiça?

- O quati me mandou trabalhar mas eu estava sem vontade. Então ele me surrou.

A juriti ouviu aquilo e ficou com pena da preguiça.

O quati veio, viu a preguiça chorando, xingou-a e mandou-a trabalhar.

- Se não trabalhar, apanha de novo!

Aborrecida com a cena, a juriti se escondeu, mas ficou escutando. Depois voltou e perguntou-lhe:

- Que é que o quati fez?

- Me xingou muito, me bateu!

A juriti zangou-se e, com pedaços de pau, fez uma armadilha no meio do caminho. E se escondeu para ver.

O quati foi andando e não viu a armadilha. Esta caiu e lhe deu uma pancada nas costas, de modo que ele não pôde correr. Ficou gemendo, enquanto a juriti dava risada.

- Que é que você tem, quati?

- A preguiça fez uma armadilha no meio do meu caminho e quase me matou.

- Isso é para você não bater mais nela.

- Quem lhe contou essa mentira?

- Não é mentira, eu vi tudo!

Então, o quati foi-se embora, chorando. E não voltou.

A preguiça quando soube daquilo, também se pôs a dar risada. Depois perguntou à juriti:

- Você é muito bonita?

- Sim, eu sou muito bonita. Agora vou vestir minha roupa.

E lá se foi.

Mas a preguiça também queria ser bonita.

A juriti voltou com jenipapo e esta se julgou bonita. Subiu num pau, até lá em cima e lá ficou, pois não podia descer.

Aflita, gritou pela juriti. Esta perguntou:

- Mas onde é que você se meteu?

Lá no alto a preguiça se pôs a rir da juriti, que ficou zangada e xingou:

- Preguiça estúpida! Preguiça má.

E foi-se embora, dizendo:

- Chega! Só trata de comer e não trabalha! Não quero vê-la mais.

Assim fez e a preguiça acostumou-se a andar só.

Tudo isso porque juriti é bonita e a preguiça é feia. Porque juriti é trabalhadeira e a preguiça é preguiçosa.

E a estória da preguiça termina aqui, não tem continuação.

(Recolhido de J. Capistrano Abreu no “rã-ixa hu-ni=ku i” (RJ, 1914) das Estórias e lendas dos índios, organizada por Herbert Galdus, Edigraf)

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