APRENDIZAGEM
– O conceito de aprendizagem engloba a problemática da aquisição e da
transmissão de noções teóricas e práticas com vistas à formação de pessoas
menores ou adultas para se inserirem numa atividade específica determinada pela
divisão do trabalho na vida social.
Em
sentido particular, a aprendizagem é a fase complementar do ensino,
constituindo-se dentro do complexo social, a educação, com seus sistemas de
tradição, isto é, transmissão de
saberes, adequação à vida individual e social, e renovação social, tendo como
técnicas e corpos teóricos a didática e disciplinas psicológicas, biológicas e
sociológicas, e como fins o conhecimento
e a prática das chamadas profissões, para cuja formação são postulados certos
currículos, isto é, conjuntos de materiais ou disciplinas cujo domínio, em grau
mais ou menos aprofundado, é considerado necessário.
Vale-se
dizer conceitualmente que aprendizagem é uma mudança ou alteração permanente no
comportamento em função da experiência passada de cada indivíduo. É um complexo
processo que é influenciado por inúmeras condições, quais sejam, obedece à lei do efeito, quando a pessoa
tende a manter um comportamento que percebe ser recompensador ou que produza
algum efeito; obedece à lei do estímulo, quando os estímulos, incentivos ou
recompensas são importantes na aprendizagem; obedece à lei da intensidade,
quando a intensidade dos exercícios e das práticas determinam a aprendizagem;
obedece à lei da frequência, quando a frequência de práticas e exercícios tende
a servir de reforço; obedece à lei da recentidade, quando o espaço de tempo
entre a aprendizagem e o desempenho é muito importante; obedece à lei do
descongelamento, quase sempre, aprender algo novo significa esquecer algo
velho; obedece à lei da complexidade crescente, quando a aprendizagem é afetada
pelo esforço exigido para produzir a resposta (BOSKER; HERNANDEZ, 2000; PERRENOUD,
2000). Para muitos psicólogos a aprendizagem é o fator mais importante do
comportamento humano, especialmente os adeptos da Psicologia Experimental.
Dentre
as tantas definições existentes para aprendizado, existe aquela dada como o
processo pelo qual uma atividade se origina ou se altera reagindo a uma dada
situação, desde que as características da mudança da atividade não possam ser
explicadas pelas tendências naturais à reação pela maturidade ou por condições
temporárias do organismo.
Ao
estudar o processo de aprendizagem os psicólogos sofreram uma influencia
bastante intensa do conceito associativo da conexão que ficou amplamente
difundido na Lei do Efeito, de Thorndike, que considerou três aspectos:
estímulo, ou seja, um estado ou uma situação que afeta o indivíduo; reação ou
resposta, que parte do indivíduo como resposta ao estímulo; relação ou conexão,
existente entre o estímulo e a reação e que faculta ao primeiro a produção da
resposta.
Outras
definições incluem fatores que envolvem a ação do aprendizado, como sendo na
repetição, que é necessária para ocasionar uma progressiva alteração nas
funções psíquicas; motivação, quanto maior for a motivação do indivíduo mais
fácil será o processo de aprendizagem; adaptação ou condicionamento, que é uma
forma de aprendizagem mediante a qual se desenvolve uma nova reação ante um
estímulo configurado e baseia-se na teoria do reflexo condicionado; relações
significativas através do estabelecimento de correlação entre o que se propõe
ensinar e as necessidades e interesses do consumidor. Disso, entende-se que o
elemento básico do aprendizado é a aquisição de informação (BOSKER; HERNANDEZ,
2000; PERRENOUD, 2000).
Na
perspectiva de uma escola mais eficaz para todos, organizar e dirigir situações
de aprendizagem deixou de ser uma maneira ao mesmo tempo banal e complicada de
designar o que fazem espontaneamente todos os professores. Essa linguagem
acentua a vontade de conceber situações didáticas ótimas, inclusive e
principalmente para os alunos que não aprendem ouvindo lições. Permanecem
úteis, mas não são mais o início e o fim do trabalho em aula, como tampouco a
aula magistral, limitadas a funções precisas.
Organizar
e dirigir situações de aprendizagem, segundo Perrenoud (2000, p. 25) é:
[...] manter um espaço justo para tais procedimentos. É,
sobretudo, despender energia e tempo e dispor das competências profissionais
necessárias para imaginar e criar outros tipos de situações de aprendizagem,
que as didáticas contemporâneas encaram como situações amplas, abertas,
carregadas de sentido e de regulação, as quais requerem um método de pesquisa,
de identificação e de resolução de problemas.
Dessa
forma, na noção docente, a competência global mobiliza várias competências mais
específicas, para determinada disciplina, tais como conhecer os conteúdos a
serem ensinados e sua tradução em objetivos de aprendizagem; trabalhar a partir
das representações dos alunos; trabalhar a partir dos erros e dos obstáculos à
aprendizagem; construir e planejar dispositivos e sequências didáticas;
envolver os alunos em atividades de pesquisa, em projetos de conhecimento Tais
condições levam a entender que, por conhecer os conteúdos a serem ensinados
quando se pretende instruir ou ensinar alguém. Porém, a verdadeira competência
pedagógica não está aí; ela consiste, de um lado, em relacionar os conteúdos a
objetivos e, de outro, a situações de aprendizagem (PERRENOUD, 2000).
Por
outro lado, a progressão na perspectiva dos ciclos de aprendizagem dos alunos
depende amplamente das representações dos professores quanto a seu papel e sua
responsabilidade no êxito de cada um.
A gestão
ótima da progressão passa pela convicção preliminar de que cada aluno é capaz
de alcançar os objetivos mínimos estabelecidos com a condição de individualizar
seu percurso.
A
progressão dos alunos é gerada no âmbito de um ciclo de aprendizagem no qual os
alunos passam, em princípio o mesmo números de anos para alcançar objetivos de
aprendizagem incontornáveis e que numa progressão satisfatória, os alunos em
suas aprendizagens, passam pelo questionamento da organização escolar atual, do
recorte da escolaridade por graus, dos prazos e programas anuais (PERRENOUD,
2000; HERNANDEZ, 2000).
Uma
gestão ótima da progressão dos alunos em suas aprendizagens exige a
operacionalização de várias formas de reagrupamento e de trabalho; passa por um
questionamento dos modos de ensino e de aprendizagem articulados à busca de um
máximo de sentidos dos saberes e do trabalho escolar para o aluno; implica
remanejamento das práticas de avaliação, para tornar visível e regular o
percurso individual de cada aluno; exige que a equipe docente assuma
coletivamente a responsabilidade de toda decisão relativa ao percurso dos
alunos, de acordo com a totalidade dos parceiros internos e externos à escola;
implica tanto em nível individual quanto coletivo, a aquisição de novas
competências pelos professores no âmbito de um plano progressivo de reflexão e
de formação (PERRENOUD, 2000). E diante da necessidade de aprender a aprender,
a aprendizagem se dá, segundo Mercado (1999, p. 47), necessariamente na direção
circunstancial de:
[...] aprender a observar, formular questões e hipóteses,
discriminar o que é relevante para o problema que está sendo abordado,
localizar as fontes de informações, utilizar instrumentos e estratégias que lhe
permitam elaborar as informações coletadas, dominar conceitos que lhe
possibilitem processar essas informações. Aprender a adquirir novos
conhecimentos com autonomia, tendo condições de enfrentar problemas e questões
diversas, circulando com fluência pelas diferentes formas de se conhecer.
Isto
quer dizer, portanto, que:
[...] esta aprendizagem envolve a capacidade das pessoas
para relacionar as informações de maneira crítica e global - numa perspectiva
em que o enfoque globalizador está centrado na resolução de problemas
significativos, em que o conhecimento é visto como instrumento para a compreensão
e possível intervenção da realidade(MERCADO, 1999, p. 47) .
Assim,
arremata-se que a aprendizagem será formada para possibilitar uma criticidade
articulada com a disponibilização dos mais diversos recursos tecnológicos,
introduzindo uma participação do indivíduo de forma mais eficaz no seu meio e
na sua vida.
A esta
altura, convém, então, entender que as novas abordagens para a aprendizagem
assemelham-se à interação entre aluno/grupo de alunos e o professor Tal
relacionamento é altamente produtivo para ambos, quando o professor passa a
olhar continuamente para os problemas de cada aluno e oferecendo ajuda na sua
resolução, envolvendo fatores de abordagem interativa, a partir de uma
interação que deve ser frequente, como numa conversação; buscando o mais
importante de tudo, que é a qualidade de cada interação; e que, na interação,
os parceiros são capazes de fazer registros de longo prazo, anotando todos os
passos e as experiências vividas durante o aprendizado. E isto quer dizer que
as necessidades básicas de aprendizagem está num conceito estratégico para
articular políticas educacionais, arrolando que tipo de conhecimento,
habilidade, atitudes e valores se quer formar nas novas gerações, levando em
conta necessidades individuais, as demandas do processo produtivo e as
exigências do exercício de uma cidadania plena (MELLO, 1998).
E nessa
ótica, Mello (1998, p. 40) observa que:
[...] os instrumentos de aprendizagem são bastante
objetivos: ler, escrever, contar, expressar-se, resolver problemas, em suma, os
chamados códigos da modernidade, que, como o próprio nome indica, são
instrumentos para viver e conviver em sociedades de informação, nas quais o
conhecimento passa a ser fator decisivo
para a melhoria de vida, o desenvolvimento produtivo com equidade, o exercício
da cidadania. O conceito de necessidades básicas de aprendizagem é articulador
na medida em que focaliza o núcleo de todo o processo educativo, ou seja: o
ensino aprendizagem, sugerindo medidas concretas para aferir-lhe eficiência. Além
de universalizar o acesso buscando a equidade, destacam-se duas estratégias
óbvias, que, contraditoriamente, estiveram, relegadas nas políticas
educacionais anteriores: dar atenção prioritária à aprendizagem e melhorar o
ambiente em que ela se processa.
Em suma
isto quer dizer que, dar prioridade aos códigos básicos da modernidade, centrar
a atenção na aprendizagem e melhorar as condições desta, implica situar a
questão pedagógica no centro das preocupações das políticas de melhoria
qualitativa. Esse enfoque articula prioridades, estratégias e técnicas, abrindo
perspectivas à superação de um dos problemas mais sérios do campo educacional,
que é a defasagem entre a formulação de objetivos e políticas estratégicas e as
práticas efetivas adotadas pelas escolas e professores (MELLO, 1998).
A
capacidade de resolver problemas, nas dimensões da flexibilidade e
adaptabilidade; a capacidade de decisões fundamentadas, na habilidade de
selecionar informações relevantes; a capacidade de continuar aprendendo,
respondendo à continua diversificação e mudança nas demandas de aprendizagem da
sociedade, estes são os processos de aprendizagens que evidentemente utilizam
didaticamente os recursos tecnológico. E disso, vislumbra-se um consenso que se
direciona na aquisição de conhecimentos básicos e a formação de habilidades
cognitivas, que são objetivos tradicionais do ensino, constituem, hoje condição
indispensável para que todas as pessoas consigam, de modo produtivo, conviver
em ambientes saturados de informações e tenham capacidade para processá-las,
selecionar o que é relevante e continuar aprendendo. Mediante isso, o professor
é o sujeito do processo de produção do conhecimento e uma referência para o
aluno, tendo em vista o seu papel na construção do conhecimento, na formação de
atitudes e valores do futuro cidadão que se forma dentro de uma sala de aula.
Neste
tocante, é importante que o docente esteja desenvolvendo o exercício constante
de reflexão e o compartilhamento de ideias, sentimentos e ações, acompanhado do
aprimoramento e atualização dos seus conhecimentos e formação; que seja capaz
de se conceber como agente de mudanças do contexto social, com uma atuação
comprometida com as condições da escola e com a qualidade de sua formação
acadêmica, evitando os efeitos insatisfatórios das práticas docentes perante a
complexidade e impulsionando a busca de novos saberes que, ao se cruzarem,
podem emitir sinais para a melhor compreensão da escola e da prática nela
realizada.
Nesta
tarefa, o professor vai enfocando o processo de desenvolvimento com o objetivo
próprio do processo de reconstrução e reconstituição da experiência, caminhando
na direção da melhoria do processo permanente da eficiência individual.
É
preciso, então, entender que a prática do professor, embora individual, sempre
estará carregada das condições político-sociais e institucionais; acompanhada
sempre da compreensão do contexto, numa visão mais ampla e alargada que deve
estar presente na reflexão sobre sua prática, além de seus esforços objetivando
uma mudança de prática individual que se articule com a mudança de sua situação
profissional.
Assim, à
medida que reflete sobre a sua ação e sobre sua prática, a sua compreensão se
amplia, ocorrendo com análises, críticas, reestruturação e incorporação de
novos conhecimentos respaldem o significado e a escolha de ações posteriores,
sempre com o questionamento intrínseco de se saber por que ensina, para que
ensina, para quem e como ensina, ou seja, o professor precisa refletir sobre os
objetivos e as consequências do seu ensino desde a formação, robustecido das
qualidades essenciais na capacidade de solidarizar-se com os educandos, a
disposição de encarar dificuldades como desafios estimulantes; que identifique
a confiança na capacidade de todos de aprender e ensinar; conhecendo ele os
educandos, suas expectativas, cultura, características e problemas e suas
necessidades de aprendizagem, buscando conhecer cada vez melhor os conteúdos a
serem ensinados, atualizando-se constantemente. É, entretanto, preciso que
professor tenha sempre em mente a necessidade de refletir permanentemente sobre
sua prática, buscando os meios de aperfeiçoá-la, com uma especial sensibilidade
para trabalhar com a diversidade, favorecendo a autonomia dos educandos,
estimulando-os a avaliar constantemente seus progressos e suas carências,
ajudando-os a tomar consciência de como a aprendizagem se realiza. Em sua
prática, é preciso que se mantenha altivo e flexível na condução de
discussões, tornando-se relevante os
aspectos de levantar problemas e questões desafiantes que levem o grupo a
discutir e trazer informações contidas na aula; recuperando conhecimentos,
assuntos e temas já vistos em etapas anteriores; fazendo conexões entre
informações e conceitos; estabelecendo relações com outras áreas de
conhecimentos; contrapondo as hipóteses diferentes dos alunos, fazendo com que
eles defendam seu ponto de vista e argumentem a favor dele utilizando textos e
materiais que sirvam de fonte para intermediar a discussão; trazendo e
comparando hipóteses iniciais apresentadas pelos alunos com as informações
posteriormente pesquisadas e analisadas nos diversos materiais
pesquisados; apresentando e analisando o
mesmo fenômeno ou fato a partir de diferentes interpretações ou pontos de
vista; fazendo generalizações, procurando articular diversas informações;
problematizando para que os alunos possam apresentar novas hipóteses.
Mais
ainda: em um mundo que muda rapidamente, o professor deve estar preparado para
auxiliar seus alunos a analisarem situações complexas e inesperadas; a
desenvolverem suas criatividades; a utilizarem outros tipos de racionalidades,
tais como a imaginação criadora, a sensibilidade táctil, visual e auditiva,
dentre outras.
Assim,
portanto, o professor assume a postura de um incansável pesquisador, que
reinventa a cada dia, que aceita os desafios e a imprevisibilidade da época
para melhorar-se cada vez mais e que procura conhecer-se para definir seus
caminhos a cada instante.
REFERÊNCIAS
BOSKER,
Roel J, et alli. As organizações escolares em análise. Lisboa: Dom Quixote,
1995
HERNÁNDEZ,
Fernando. Cultura visual, mudança educativa e projeto de trabalho. Porto
Alegre: Artmed, 2000.
MELLO,
Guiomar Namo. Cidadania e competitividade: desafios educacionais do terceiro
milênio. São Paulo: Cortez, 1998
MERCADO,
Luís Paulo Leopoldo. Formação continuada de professores e novas tecnologias.
Maceió: Edufal, 1999
PERRENOUD,
Philippe. Dez novas experiências para ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2000.
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