[...] A orientação teórica do livro é bastante cognitivo-desenvolvimental.
Este livro sobre desenvolvimento e não meramente sobre crianças. A ênfase é
sempre sobre progressão de mudanças e sobre a compreensão das sequências de
desenvolvimento onde elas existem. São apresentadas outras perspectivas
teóricas, mas o ponto de interrogação é a visão desenvolvimental.
[...] Por que todas as crianças nascidas de mesmos pais não são iguais? Se
você recebeu 23 cromossomos de sua mãe e 23 de seu pai, e se sua irmã ou seu
irmão receberam 23 de sua mãe e 23 de seu pai, por que você não parece idêntico
a sua irmã ou a seu irmão? A resposta, certamente, é que você não recebeu os
mesmos 23 cromossomos de sua mãe e os mesmos 23 cromossomos de seu pai. Cada
óvulo ou cada espermatozóide, contém uma combinação diferente de 23 cromossomos
e assim, cada um de seus irmãos ou irmãs receberam uma combinação única,
resultante de um número muito grande de combinações possíveis. Assim, não só é
possível, mas é inevitável, que. duas crianças da mesma família tenham heranças
diferentes.
[...] O que determina o sexo de uma criança? Um par de cromossomos é responsável
pela determinação do sexo de uma criança. Na mulher normal cada um dos
cromossomos deste par é grande e ao microscópio exibe alguma semelhança com um
X; no homem há apenas um cromossomo X e um outro, menor, o cromossomo Y.
Diferentemente das outras células do corpo, cada uma das quais contém os 23
pares de cromossomos, o óvulo e a célula espermática contém apenas 23
cromossomos despareados, um de cada par. A criança concebida sempre recebe da
mãe, um cromossomo X (pois a mãe só tem Xs) enquanto que de seu pai a criança
pode receber tanto um cromossomo X quanto um Y. Se o espermatozóide levar um
cromossomo X ,então a criança terá XX e será uma me nina, se o espermatozóide
carregar um cromossomo Y então a criança terá XV e será um menino.
[...] A palavra interação tem um número de significados diferentes que devem
ser distinguidos. Em geral, na linguagem
cotidiana, interação significa, simplesmente, relacionamento. Se eu interajo
com você, eu estou me relacionando com você de alguma forma. Naturalmente a criança
interage com pessoas e com o ambiente neste sentido da palavra. Ela interage
com pessoas e objetos do mundo que a cerca. Mas, a palavra interação na
sentença que se segue, tem um significado diferente: O comportamento da criança
resulta de uma interação de diversas forças‖. Aqui, a palavra não se refere a qualquer
tipo de relacionamento com pessoas ou com o mundo. Mas, a palavra se refere a
uma combinação de influências, de forma que o resultado que nós observamos pode
ser atribuído a diversas causas, mais do que a uma única. Forças internas e
externas atuam em todos os aspectos do desenvolvimento do comportamento da
criança; não há casos de comportamentos que sejam totalmente determinados quer
externa, quer internamente. A questão mais interessante é a natureza da relação
entre influências internas e externas. Uma relação possível pode ser uma
relação aditiva: os efeitos de forças internas, como hereditariedade e maturação,
podem ser simplesmente somados aos efeitos do ambiente. Nós podemos pensar, por
exemplo, na dieta de uma criança somada aos efeitos da hereditariedade da
mesma, de forma que, boa herança intelectual acrescida de uma boa dieta
produzirão crianças brilhantes. Ou, então, a boa dieta e má hereditariedade ou
a má dieta e a boa hereditariedade resultarão em crianças médias e a má dieta e
má hereditariedade resultarão em crianças pouco dotadas. Pode-se trabalhar
desta forma, mas neste e, virtualmente, em todos os outros casos, a relação
real entre as diversas forças atuantes são mais complexas do que isso. Por
exemplo, algumas crianças podem herdar gens que as tornam menos vulneráveis a
vários tipos de eventos ambientais, incluindo a má dieta. Algumas crianças
podem ser mais capazes de tolerar uma má alimentação, uma insuficiência precoce
de estimulação ou algo ainda pior, do que outras crianças. Assim, o efeito é
resultado tanto das características internas da criança, quanto das influências
ambientais, mas a relação não é uma questão de adição das duas. O mesmo
ambiente pode ter diferentes efeitos em crianças que nascem com diferentes características
iniciais, ou o ambiente pode ter um efeito diferente sobre uma criança em diferentes
momentos, quando essa estiver desenvolvendo habilidades diferentes.
[...] O maior grupo de
crianças com um desenvolvimento atípico é o daquelas com retardo mental; este
grupo incluía, talvez, 6 milhões de pessoas em 1970, das quais aproximadamente
2,5 milhões estavam com menos de 20 anos. O retardo mental deve ser entendido
como um síntoma e não como uma doença. A criança tem uma atuação retardada num
determinado período de tempo e sob circunstâncias particulares, mas o seu nível
de atuação pode mudar, por diversas razões. O retardo mental é costumeiramente
dividido em diversas subclasses, incluindo o retardo benigno (um QI de 52-67),
o retardo moderado (um QI de 36-51) e o retardo severo (um Ql de 20-35). Em
geral, as causas do retardo são divididas em duas categorias — causas físicas e
cultural-familiares. As anomalias genéticas e lesões cerebrais estão incluídas
entre as causas físicas. O retardo cultural-familiar é considerado como um
produto conjunto de uma habilidade intelectual geneticamente baixa e de
ambientes empobrecidos ou não estimuladores. O desenvolvimento emocional
atípico também é normalmente subdividido em sicoses infantis e distúrbios de
comportamento. As psicoses incluem formas extremamente severas de desordens
emocionais que impedem o relacionamento da criança com os outros, sendo frequentemente
acompanhadas por comportamentos bizarros e subnormalidade mental. O prognóstico
para estas crianças é ruim, especialmente para aquelas que mostraram os sintomas
muito cedo. Os distúrbios de comportamento são desvios de padrões de
comportamento, em geral a curto prazo, tais como agressividade excessiva e
esquiva. Um tratamento terapêutico breve geralmente é bem sucedido em aliviar o
problema. Os distúrbios de comportamento podem ser uma resposta da criança a um
excesso de tensão ou ―risco‖ em
seu ambiente, causada por uma doença física ou um distúrbio emocional dos pais,
ou por mudanças breves da família. As crianças surdas, embora não muito
numerosas, impoêm problemas especiais para suas famílias, para as escolas e
para a sociedade como um todo. Há sérios problemas de manipulação e
treinamento, incluindo como possibilitar que a criança se utilize de uma linguagem
viável. Os métodos recentes de treinamento, tanto da linguagem por sinais quanto
da linguagem oral, parecem oferecer as maiores esperanças. As crianças cegas,
embora possam necessitar classes e assistência especial, frequentemente saem-se
bem em classes regulares e têm menores problemas do que a criança surda quanto
aos progressos intelectuais e educacionais. Outras crianças com deficiências
físicas incluem aquelas com paralisia cerebral que dependendo da severidade de
suas deficiências, podem requerer treinamento especial desde os primeiros meses
de vida, bem como suas famílias.
A CRIANÇA EM DESENVOLVIMENTO, DE HELEN BEE. – O livro A criança em desenvolvimento, de Helen Bee, trata de temas importantes da psicologia acerca do desenvolvimento da criança, a partir da exposições das influencias internas e externas dos processos, básicos, efeitos da interação, métodos de estudo, o desenvolvimento pré-natal e o nascimento, a concepção e o desenvolvimento embrionário, o período fetal, o processo do nascimento, a primeira infância, o crescimento e desenvolvimento físico, peso e altura, músculos e ossos, desenvolvimento motor, crescimento do sistema nervoso, hormônios, crescimento e desenvolvimento perceptivo, linguagem, teorias do desenvolvimento da linguagem, desenvolvimento cognitivo e do pensamento, mensuração da inteligências, desenvolvimento das relações interpessoais, desenvolvimento do autoconceito e da identidade, papel sexual, do nascimento aos 12 anos de idade, os efeitos da pobreza, as diferenças sexuais, a velhice, desenvolvimento atípico e moral, entre outras tantos e relevantes assuntos.
REFERÊNCIA
BEE, Helen. A criança em desenvolvimento.
São Paulo: Harper & Row do Brasil, 1977.
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