O
MUNDO MARAVILHOSO DO LIVRO
– Desde menino era apreciador das narrativas horripilantes e das histórias
contadas com detalhes de humor e do grotesco de acontecências das gentes da
redondeza e mundo afora. Meus avós, tios e tias eram peritos de contar histórias
cabeludas de terrores sobrenaturais, do tempo do ronca, de bichos e de coisas do
inventado dos prazeres. Quando não eram os repentistas e cantadores que
embolavam coco ou sapecavam repentes de improviso lá nas praças e ruas do
passado perto de casa. Saía procurando mamulengo ou fantoche para me divertir,
ou mesmo alguma trupe circense ou teatral que aparecesse para me deixar
entretido por horas com suas presepadas. Quem aparecesse lá em casa eu pedia
para que me contasse uma história e peiticava renitente até ser atendido. Eu me
deliciava e pedia para que me contassem mais e mais, ah como eu queria que enchessem
minha vida com as coisas do faz-de-conta todo dia e o dia todo. Isso até
aprender a ler, pois, lá por volta dos meus quatro ou cinco anos de idade, eu
mesmo já andava catando nos livros e no quengo invencionices nada aprumadas.
Aí, o que eu mais queria mesmo, era descobrir os mistérios contidos nos livros que
repousavam fechados nas estantes do meu pai, prontos para serem folheados e
revirados, pensando cá comigo: - Deve de ter tantos e muitos segredos naqueles
livros pro meu pai viver agarrado neles. Tanto que por diversas vezes
concentrado nas suas leituras, ele me flagrou na maior das mutucas, sobrancelhas
graves, carregado de interrogações. Fazia um ar de riso como se me dissesse: -
E aí? Eu já todo entrão: - Que é que tem nesses livros, hem? Aí ele me dava o
primeiro volume que escolhia entre os tantos nas prateleiras da estante: era Monteiro
Lobato, La Fontaine, Grimm, Andersen, ah, quantas viagens, queria ser Gulliver,
reinar com Alice, singrar os mares com Moby Dick, viajava de imaginação solta
com meu amigo invisível, recontando em ricos e aumentados detalhes às minhas
amizades do quintal: plantas, pés disso e daquilo, bichos de toda espécie.
Fiquei admirado quando descobri Zezé que fazia o mesmo que eu: tínhamos amigo
em comum, invisíveis e plantas do quintal que conversavam conosco, colorindo
nossas vidas. Mesmo crescendo não perdi o hábito de fazer essas maravilhosas
viagens que o livro proporciona, até hoje ainda cultivo essa prática que me faz
cada dia me sentir mais vivo e pronto para atuar na vida no meu dia-a-dia. Veja
mais aqui e aqui.