BRINCARTE

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Wednesday, December 10, 2014

PSICANÁLISE DA CRIANÇA, DE ARMINDA ABERASTURY


[...] Hoje, aplicando a técnica de jogo, vemos que a criança expressa com os brinquedos os mesmos conflitos e os interpretamos do mesmo modo. Analisando jogos, fantasias e sonhos, Freud estudou as diferentes formas simbólicas com que o menino representou o corpo da mãe e seus conteúdos: uma banheira, um ônibus, um carro de mudanças, nos quais o denominador comum era serem continentes cheios de conteúdo ou algo capaz de ter dentro coisas menores e pesadas, como um ventre que aloja uma criança que depois cresce e pesa. Posteriormente estendeu este significado ao processo da evacuação.
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O estudo do desenho como meio de expressão da criança tem sido um tema amplamente desenvolvido pela psicologia não analítica, mas recebeu uma complementação definitiva e fundamental quando foi estudado seu significado do ponto de vista psicanalítico.
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A relação consciente-inconsciente é diferente na criança e no adulto; o inconsciente está em estreito contato e é mais permeável com o consciente na criança. Eles estão mais profundamente dominados pelo inconsciente e por isso prevalece a representação simbólica. Na análise de crianças nos encontramos com resistências tão marcadas como na análise de adultos; manifestam-se como crises de angústia, como interrupção ou mudança de jogo, aborrecimento, desconfiança, variando com os casos e com a idade. As crises de ansiedade e medo são mais frequentes em crianças pequenas.
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A ansiedade que surge na criança quando começa a falar é enorme e se deve ao fato de que seu mundo se enriqueceu de modo desproporcional a sua capacidade de expressão verbal. Não está seguro da eficácia de seu novo instrumento de reparação. Pronunciar a primeira palavra significa para a criança: 1 - o reaparecimento do objeto amado; 2 - a experiência de que a palavra o coloca em contato com o mundo e que é um meio de comunicação. Na realidade, é a recriação de um vínculo com o objeto interno que externaliza e reexternaliza durante o jogo verbal. Essa linguagem egocêntrica se transforma num contato com o mundo exterior, e pela aprendizagem, em linguagem social, servindo pouco a pouco à criança para a construção de seus sistemas de comunicação.
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Destaquei muitas vezes que a análise de crianças, bem como a de adultos, deve ser uma relação bipessoal, e que na técnica que exponho não se concedem entrevistas com os pais, a não ser em circunstâncias especiais e estipulando previamente as condições. Esclareci também que crianças pequenas também são capazes de adaptar-se ao ambiente ou modificá-lo e que considerava inútil toda a técnica que incluísse conselhos ou modifcações ambientais.

PSICANÁLISE DA CRIANÇA - O livro Psicanálise da criança: teoria e técnica, da psicanalista argentina de Arminda Aberastury (1910-1972), traduzido por Ana Lucia Leite Campos, traz na primeira parte a história da técnica abordando a análise da fobia de uma criança de cinco anos, o nascimento de uma técnica, duas correntes em psicanálise de crianças e a psicanálise de crianças na Argentina. Na segunda parte do livro é tratada a técnica atual com uma entrevista inicial com os pais, 0  consultório, o material de jogo, a caixa individual; problemas técnicos que surgem do seu uso diário, a primeira hora de jogo; seu significado e as entrevistas posteriores com os pais, Na terceira parte aparecem os casos clínicos com conflitos na elaboração do luto, surgimento de ansiedades anal-sadomasoquistas enquistadas, entre outros assuntos. Na quarta parte vem a profilaxia da neurose infantil com grupos de orientação de mães e novas perspectivas na terapia.

REFERÊNCIA
ABERASTURY, Arminda. Psicanálise da criança: teoria e técnica.  Porto Alegre: Artmed, 1982.

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