FRAGMENTOS
DE RETRATO DO ARTISTA QUANDO JOVEM DE JAMES JOYCE
“[...] Punha-se
a cara para cima, assim, para dizer boa noite, e então a mãe abaixava o seu
rosto. Isso é que era beijar. Sua mãe pnha os lábios na sua face, os lábios
dela eram moles e umedecia a face; e faziam um barulhinho diminuto: bift!
“[...]
Que é que haveria depois do universo? Nada. Mas haveria qualquer coisa em volta
do universo para mostrar onde ele parava antes de começar o lugar do nada? Não poderia
ser uma parede; mas bem que podia ser uma linha fininha, bem fininha, lá bem em
volta de tudo. Era uma coisa muito grande para poder pensar em todas aquelas
coisas e em todos aqueles lugares. Só Deus podia fazer isso. Tentou imaginar
que enorme pensamento deveria ser esse, mas só conseguiu pensar em Deus. Deus era
o nome de Deus, assim como o nome dele era Stephen. Dieu era o nome francês
para Deus, e era também o nome de Deus; e quando alguém rezava a Deus e dizia
Dieu, então Deus imediatamente ficava sabendo que era uma pessoa francesa que
estava rezando. Mas embora houvesse nomes diferentes para Deus em todas as
diferentes línguas do mundo, e Deus compreendesse o que era que todas as
pessoas rezavam diziam em suas línguas diferentes, ainda assim Deus permanecia
sempre o mesmo Deus e o nome verdadeiro de Deus era Deus.
“[...]
Todos os ratos tinham dois olhinhos para espiar por eles. Uma pele lustrosa e
mole, umas patinhas muito pequeninas dobradas para dar um salto, uns olhinhos
negros gelatinosos para espiar por eles. Eles sabiam de que jeito deviam pular.
Mas o espírito dos ratos era incapaz de compreender trigonometria. Quando estavam
mortos ficavam tombados de lado. Seus corpos secavam logo. Ficavam sendo apenas
coisas mortas.
“[...]
Que desmaiada que estava a luz na janela! Mas isso era bonito. O fogo da
chaminé subia e caía pela parede. Formava como que ondas. Alguém devia lhe ter
posto carvão; e Stephen escutava vozes. Como de gente conversando. Era o ruído
das ondas. Estariam as ondas conversando entre si, à medida que se levantavam e
caíam?
[...] A
primeira fase de apreensão é uma linha limitando, contornando o objeto a ser
apreendido [...] o que é audível apresenta-se no tempo, o que é visível apresenta-se
no espaço. [...] a imagem estética é em primeiro lugar luminosamente apreendida
como autolimitada e autocontida sobre o incomensurável segundo plano do espaço
ou do tempo que não o são. [...] a síntese da percepção imediata é seguida pela
análise da apreensão. [..;] a forma lirica, isto é, a forma na qual o artista
manifesta a sua magem em imediata relação com ele próprio; a forma épica, isto
é, a forma na qual ele manifesta a sua imagem em imediata relação consigo mesmo
e com os outros; e a forma dramatica, isto é, a forma na qual ele manifesta a
sua imagem em imediata relação com os outros. [...] a forma lirica é, de fato,
a veste verbal mais simples dum instante de emoção. [...] a forma épica mais
smples é vista emergindo da literatura lírica quando o artista prolonga e se
põe a se examinar como centro dum fato épico e essa forma progride até que o
centro de gravidade emocional fique equidistante do artista propriamente e dos
outros [...] a forma dramática é atingida quando a vitalidade que encheu e
turbilhonou em volta de cada pessoa enche todas as pessoas com uma força vital
tal que ele ou ela acaba assumindo uma vida própria estética e intangível [...]
O artista, como o Deus da criação, permanece dentro, junto, atrás ou acima da
sua obra, invisível, clarificado, fora da existencia, indiferente, raspando as
unhas dos seus dedos".
JAMES JOYCE – O escritor irlandês
expatriado James Augustine Aloysius Joyce (1882-1941), é considerado um dos
mais importantes autores do século XX. Ele é autor de obras, tais como
Dublinenses (1914), Retrato do artista quando jovem (1916), Ulisses (1922) e
Finnegans Wake (1939). Participou do Modernismo e do Imagismo.
E
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