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Friday, March 06, 2009

CORDEL PARA 8 DE MARÇO – DIA DA MULHER



UMA CASA SEM MULHER

Manoel Bentevi

Onde mulher não existe
Vivente nenhum resiste
É uma caverna triste
É coisa que ninguém quer.
Eu vos digo com certeza
Para falar com franqueza
É mais triste que tristeza
Uma casa sem mulher.

A minha casa vazia
Cheia de melancolia
O prazer e a alegria
Dela já foram embora
Ficou em meu coração
Somente a recordação
Nessa triste solidão
Eu e a tristeza é quem mora.

Em qualquer hora diurna
O meu lar é uma furna
Como uma ave noturna
Vivo triste sucumbido.
É um suplicio por certo
É um tristonho deserto
Prazer nenhum passa perto
Que me distraia o sentido.

Minha casinha tristonha
Numa tristeza medonha
Eu sonho, ela também sonha
Nossa sorte é parecida
Meu quarto gelado clama
Eu em minha pobre cama
Reclamo e ela reclama
A sorte da nossa vida.

Meu quarto todo gelado
O que há nele é mofado
Tudo velho e amontoado
Que chega sinto arrepio.
Coitadinho! Ele reclama
É um doloroso drama
Na pobre da minha cama
Não há calor, há frio.

Teia de aranha e carvão
A pucumã no fogão
Formando aquele montão
Parecendo um pó qualquer,
A alegria não existe
Só a tristeza persiste
É um deserto bem triste
Uma casa sem mulher.

Nunca mais ela é varrida
Fica triste, sucumbida
Se torna desconhecida
Dos que dantes a visitaram.
É um enorme degredo
Que causa pavor e medo
Só lhe resta algum brinquedo
Que os meninos brincavam.

A natureza quando cria
A mulher é pra alegria
Para fazer companhia
A qualquer homem, qualquer.
Onde mulher não existe
Vivente nenhum resiste
É triste, seu moço, é triste
Uma casa sem mulher.

Por certo nasci sem fé
Fico admirado até
Não sei mesmo porque é
Que sofro tanta agonia.
Os meus desgostos são tantos
São pesarosos os meus prantos
Quando olho os quatro cantos
Da casa e a vejo vazia.

Meu peito não mais resiste
Vivo nessa casa triste
Onde já não existe
Aqueles que me afagaram
Há pinhão velho e caneca
Carrinho de mão, petecas
Vestidinhos de bonecas
Que as crianças deixaram.

Suspirando e dando ai
De minha mente não sai
Não sei até onde vai
Essa triste percondia.
Não tive felicidade
Não gozei a mocidade
A tristeza e a saudade
É que me fazem companhia.

Não tenho mais esperança
Resta somente a lembrança
Do meu tempo de criança
Que o mesmo tempo levou
Mas como alguém justifica
Que tudo se modifica
Saudade é tudo que fica
Daquilo que não ficou.

Vivia num lar feliz
Não sei o que foi que eu fiz
Por certo a sorte não quis
Cortou-me a felicidade.
No lugar onde eu vivia
Só reinava alegria
Hoje a cama está vazia
Só resta nela a saudade.

Diante tantas canseiras
Já nas horas derradeiras
Surgiram duas companheiras
Que de mim tiveram piedade.
Sentiram minha fraqueza
Me fizeram uma surpresa
Primeiro veio a tristeza
Depois veio a saudade.

Duas companheiras belas
Nunca desprezarei elas
Só me apartarei delas
No chão da eternidade.
Pra onde eu vou elas vão
Eu sei que elas duas são
A minha consolação:
A tristeza e a saudade.

Isso mesmo eu esperava
Que solitário eu ficava
A filha que me acalentava
Com os netinhos foi embora
Foi triste a situação
Fez doer o coração
Nessa erma solidão
Comigo a tristeza mora.

Morreu minha mãe querida
Perdi tudo em minha vida
Pois também é falecida
A mulher que Deus me deu.
Todas na eternidade
Numa grande soledade
Permaneceu a saudade,
A sorte, a tristeza e eu.

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