Wednesday, January 23, 2013

LENDAS DO NORDESTE - MANDACARU



MANDACARU – A tarde já se indo num lindo crepúsculo, quando a meninada da Turma do Brincarte estava sentada no terreiro à sombra de frondoso pé de manga, ouvindo atenta Pai Lula contar:

Antigamente, lá pelos tempos de antanho, uma família do sertão vivia de plantar e de colher, felizes com o Juriti e a Asa Branca que gorjeavam ajeitando o nino no pau d´arco . Contudo, como a chuva não apareceu, a quentura do verão segurou do inverno não vir nos últimos três anos, secou o barreiro, sumiu o açude, Juriti foi embora, Asa Branca desapareceu, Acauã agourando na seca, restando apenas a sombra do juazeiro. Deu-se, então, que o vovô morreu e foi enterrado ali mesmo. No lugar onde ele foi sepultado, nasceu uma planta verde e espinhenta com gomos em forma de braços. Aí o pai sobrevivente pegou do facão, cortou um pedaço e ele viu escorrer água. Aí matou a sede de todos os retirantes e bichos do sertão. Era um pé de mandacaru que ali se mostrava com braços e espinhos parecidos com a barba do vovô. Trata-se de uma planta orgulhosa que cresce mais que as outras, aprumado e teso do alto do verde de suas palmas com espinhos. Dizem que só perde pro juazeiro que é a mancha verde soberana da caatinga. Entretanto, o mandacaru gosta de humilhar xiquexique e parece pisar nos cabeças-de-frade. Mas é com o xiquexique que eles se aliam para rolarem nas pedras e nos espinhos. Quando eles se enchem de flores, é sinal de que a chuva vai cair no sertão.

Por isso que Luiz Gonzaga e Zé Dantas cantam:

Mandacaru
Quando fulora na seca
É o sinal que a chuva chega
No sertão
Toda menina que enjoa
Da boneca
É sinal que o amor
Já chegou no coração...
Meia comprida
Não quer mais sapato baixo
Vestido bem cintado
Não quer mais vestir timão...
Ela só quer
Só pensa em namorar
Ela só quer
Só pensa em namorar...
De manhã cedo já tá pintada
Só vive suspirando
Sonhando acordada
O pai leva ao doto
A filha adoentada
Não come, nem estuda
Não dorme, não quer nada...
Ela só quer
Só pensa em namorar
Ela só quer
Só pensa em namorar...
Mas o dotô nem examina
Chamando o pai do lado
Lhe diz logo em surdina
Que o mal é da idade
Que prá tal menina
Não tem um só remédio
Em toda medicina...
Ela só quer
Só pensa em namorar
Ela só quer
Só pensa em namorar...
Mandacaru
Quando fulora na seca
É o sinal que a chuva chega
No sertão
Toda menina que enjoa
Da boneca
É sinal que o amor
Já chegou no coração...
Meia comprida
Não quer mais sapato baixo
Vestido bem cintado
Não quer mais vestir timão...
Ela só quer
Só pensa em namorar
Ela só quer
Só pensa em namorar...
De manhã cedo já está pintada
Só vive suspirando
Sonhando acordada
O pai leva ao doutor
A filha adoentada
Não come, num estuda
Num dorme, num quer nada...
Ela só quer
Ela só quer
Só pensa em namorar...
Mas o doutor nem examina
Chamando o pai do lado
Lhe diz logo em surdina
Que o mal é da idade
E que prá tal menina
Não tem um só remédio
Em toda medicina...
Ela só quer!
Só pensa em namorar
Ela só quer
Só pensa em namorar
Ela só quer
Só pensa em namorar...

A flor do mandacaru inspirou Jônea França que conta a história de um povoado às margens do Rio São Francisco numa véspera de São João. Havia a expectativa: se chover, a colheita será boa e farta. Tudo estava previsto: quando a flor de mandacaru desabrochou, fez Chico Cesar cantar assim:

Manda, caru
Flor de mandacaru pra mim
Que é pra botar no xaxim
Em cima da televisão
Manda, caru
Uma flor dessa do sertão
Uma flor de cardo
Pra alegrar meu coração
Só pra guardar de recordação
Do tempo da meninice
Pois de recordar carece
Como uma prece sem fim
Manda, caru
Flor de mandacaru pra mim
Pelo correio ou de caminhão
Num barco do São Francisco
Peço que você se apresse
Que a saudade é ruim
Manda, caru
Flor de mandacaru prá mim.

REFERÊNCIAS
CARTAXO, Zuyla. Lenda do mandacaru. Autor Pernambucano. Disponível em: http://www.autorpernambucano2005.kit.net/agenda_2007/pag_1223627_027.html. Acesso em 20 dez 2012.
DANTAS, Paulo. O capitão jagunço. São Paulo: Brasiliense, 1959.

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