Friday, December 12, 2014

AS PERNAS DO TAMANDUÁ

 Imagem: J Lanzelotti

Antigamente, como todos os animais, o tamanduá corria muito bem, pois tinhas as pernas compridas. No dia em que a onça perdeu a aposta com o sapo, foi o tamanduá o  primeiro animal a ver a onça com um olho fora da órbita. Oferecendo-se para lhe colocar o olho no lugar, fez uma outra traição e, com as unhas compridas, arrancou-lhe o outro também.

A onça teria continuado cega até hoje se não fosse a compaixão do inambu azulão. O azulão tinha ficado com um pouquinho de fogo da onça e, por isso, ofereceu-se para procurar os seus dois olhos perdidos e colocá-los no lugar, grudando-se com resina de almécega. Quando o azulão terminou a tarefa, a onça tratou de vingar-se do tamanduá.

Perseguido o tamanduá correu muito, mas não podendo com a onça e vendo-se quase perdido, escondeu-se na toca do caititu. Mas esta era rasa demais e não deu para encolhê-los. Como o tamanduá tinha muita força nos braços, o inimigo não conseguiu desalojá-lo, mas comeu-lhe os pés que tinham ficado do lado de fora.

O tamanduá, coitado, escapou com vida, mas ficou até hoje com as pernas curtas.

Afirmam os índios que só daquela vez o tamanduá fugiu da onça. Depois, nunca mais fugiu. Defende-se dessa eterna inimiga, enfrentando-a com os braços abertos. É o que se chama um abraço de tamanduá.

(Recolhido de Horace Banner, em Mitos dos índios Caiapó, Revista de Antropologia, nº 1, vol. 5, São Paulo, 1957).

REFERÊNCIA
GALDUS, Herbert. Estória e lendas dos índios. São Paulo: Edigraf, s/d.

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