Saturday, April 11, 2015

A INFÂNCIA NA PSICOLOGIA DE MURRAY


A INFÂNCIA DE MURRAY – A infância do psicólogo norte-americano Henry Murray (1893-1988) conteve rejeição materna, elementos do conceito adleriano de compensação de um defeito físico e uma sensibilidade além do normal ao sofrimento dos outros. Nascido numa família rica, a sua infância foi marcada por lembranças que ele denominou de “lembrança da essência do meu ser”, quando por volta dos quatro anos, observou a foto de uma mulher triste sentada perto do seu filho, que também estava triste. Era o mesmo tipo de foto sombria que Murray passou a utilizar posteriormente no seu Teste de Apercepção Temática (TAT). A sua mãe lhe disse: “Foi a perspectiva da morte que os entristeceu”. Ele interpretou essa lembrança como indicativa da morte dos seus laços emocionais com a mãe, que o desmamara abruptamente aos dois meses, preferindo, segundo ele, dar afeto aos seus irmãos. Ele insistia que as atitudes da mãe o levaram à depressão que durou toda vida, condição que formou a essência da sua personalidade. Referia-se à depressão como uma fonte de angustia e melancolia, mas tentou mascará-la no seu comportamento cotidiano adotando maneiras exuberantes, extrovertidas, alegres. A falta de ligação com a mãe na infância levou-o a questionar o complexo de Édipo de Freud, porque não coincidia com as suas experiências pessoais. Um outro fator o tornou sensível a problemas emocionais e sofrimentos foi o seu relacionamento com duas tias emocionalmente perturbadas. Murray era estrábico e aos nove anos foi submetido a uma cirurgia realizada na sala de jantar da sua casa. O problema foi solucionado, mas a lâmina do cirurgião escorregou e deixou-o sem visão estereoscópica. Por mais que tentasse, jamais conseguiu praticar esportes, porque não conseguia focar os dois olhos numa bola. Ele só soube dessa deficiência visual ao cursar a faculdade de medicina, quando um médico lhe perguntou se ele havia tido problemas ao praticar esportes quando criança. A deficiência física e um problema na fala – gagueira – o levaram a compensar suas limitações. Quando tentou praticar esportes, encontrou dificuldades e nunca gaguejava quando tinha de indicar as jogadas. Ao ser derrotado numa luta na escola, resolver ter aulas de boxe e venceu o campeonato local de peso pena. Posteriormente admitiu que havia um fator adleriano agindo nesses esforços para compensar suas deficiências na infância.

O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE NA INFÂNCIA – Com base na obra de Freud, Murray dividiu a infância em cinco estágios, cada um deles caracterizado por uma condição agradável, que é inevitavelmente limitada pelas demandas da sociedade e deixa a sua marca na personalidade na forma de um complexo inconsciente, que comanda o desenvolvimento posterior. Segundo ele, todas as pessoas experimentam os cinco complexos, uma vez que todos passam pelas mesmas fases de desenvolvimento. Nada há de anormal neles, exceto quando são manifestados ao extremo, uma situação que deixa a pessoa fixada naquela fase. A personalidade não consegue desenvolver espontaneidade e flexibilidade, uma situação que interfere na formação do ego e do superego.
Complexo é um padrão normal de desenvolvimento infantil que influencia a personalidade adulta. Entre os estágios de desenvolvimento na infância estão os complexos claustral, oral, anal, uretral e genital.
Os complexos claustrais se encontram na existência segura no útero.
Os complexos orais se encontram no prazer sensual de sugar alimento enquanto se é segurado.
Os complexos anais são do prazer resultante de defecar.
Os complexos uretrais são do prazer que acompanha o ato de urinar.
Os complexos genitais ou de castração são os prazeres genitais.
Os estágios de desenvolvimento são denominados em conformidade com os complexos.
O estágio claustral: o feto no útero está seguro, sereno e dependente, condições que se pode eventualmente querer restabelecer. O complexo claustral simples é vivenciado como um desejo de estar em lugares pequenos, aquecidos e escuros que sejam seguros e reclusos. As pessoas com este complexo tendem a ser dependentes dos outros, passivas e voltadas para comportamentos seguros e familiares que deram certo. A forma de centros de complexo claustral por falta de suporte concentra-se nas sensações de insegurança e desamparo, que fazem com que a pessoa tenha medo de espaços abertos, queda, afogamento, fogo, terremotos ou simplesmente de qualquer situação que envolva novidade e mudança. A forma anticlaustral ou de agressão ao complexo claustral baseia-se na necessidade de escapar das situações restritivas parecidas com as do útero. Ela inclui o medo de sufocação e confinamento e se manifesta numa preferencia por espaços abertos, ar fresco, viagem, movimento, mudança e novidade.
O estagio oral corresponde ao complexo oral de socorro que apresenta uma combinação de atividades bucais, tendências à passividade e a necessidade de ser apoiado e protegido. Entre as manifestações comportamentais estão o sugar, beijar, comer, beber e uma necessidade de afeto, solidariedade, proteção e amor. O complexo de agressão oral combina comportamentos orais e agressivos, incluindo os atos de morder, cuspir, gritar e a agressão verbal, como o sarcasmo. Entre os comportamentos característicos do complexo oral de rejeição estão vomitar, ser enjoado com comida, comer pouco, temer contaminação oral como pelo beijo, desejar isolamento e evitar dependência dos outros.
O estágio anal compreende o complexo de rejeição anal no qual há uma preocupação com o defecar, o humor anal e materiais semelhantes às fezes, como sujeita, lama, argamassa e barro. A agressão geralmente é parte deste complexo e é revelada nos atos de derrubar e jogar coisas, disparar armas e detonar explosivos. As pessoas com este complexo poder ser sujas e desorganizadas. O complexo de retenção anal manifesta-se no acumulo, economia e coleção de coisas e na limpeza, arrumação e ordem.
O estágio uretral é exclusivo do sistema de Murray, compreendendo o complexo uretral que é associado à ambição excessiva, a um senso distorcido de autoestima, exibicionismo, ao ato de urinar na cama, desejos sexuais e amor próprio. Às vezes é chamado de complexo de Ícaro, figura mitológica grega que voou para tão perto do Sol que a cera que estava segurando as suas asas derreteu. Como Ícaro, as pessoas com este complexo sonham muito alto e seus sonhos são despedaçados pelo fracasso.
O estagio genital ou de castração corresponde ao complexo de castração de forma restrita e literal do que na forma de Freud, como sendo a fantasia dos meninos de que o seu pênis possa ser cortado. Murray acreditava que tal medo nascia da masturbação infantil e do castigo dos pais que poderia acompanha-la.

REFERÊNCIAS
SCHULTZ, Duane; SCHULTZ, Sydney. Teorias da personalidade. São Paulo: Cengage Learning, 2014.

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