O QUATI, A JURITI E A PREGUIÇA
A juriti é muito trabalhadeira e plantou uma roça. Pediu
ao sabiá:
- Me ajuda, sabiá!
Mas o sabiá não gosta de trabalhar. Machucou o olho com
um graveto e queixou-se de estava com febre. A juriti ficou sozinha, com os
seus legumes amadurecendo. O sabiá só queria era comer. Então a juriti cercou a
roça. E o sabiá ficou espiando de fora, sem poder comer.
A preguiça, como se sabe, é muito preguiçosa. Só trata de
comer.
Todos os bichos encontraram-se com a preguiça e vendo
aquilo ficaram muito zangados.
O quati mandou a preguiça trabalha e ela não quis. Gosta
de comer mas não gosta de trabalhar.
O quati perdeu a cabeça e deu uma surra na preguiça.
Esta, porém, não pôde correr e ficou ali chorando.
A juriti veio e perguntou?
- Que é que você tem, comadre preguiça?
- O quati me mandou trabalhar mas eu estava sem vontade.
Então ele me surrou.
A juriti ouviu aquilo e ficou com pena da preguiça.
O quati veio, viu a preguiça chorando, xingou-a e
mandou-a trabalhar.
- Se não trabalhar, apanha de novo!
Aborrecida com a cena, a juriti se escondeu, mas ficou
escutando. Depois voltou e perguntou-lhe:
- Que é que o quati fez?
- Me xingou muito, me bateu!
A juriti zangou-se e, com pedaços de pau, fez uma
armadilha no meio do caminho. E se escondeu para ver.
O quati foi andando e não viu a armadilha. Esta caiu e
lhe deu uma pancada nas costas, de modo que ele não pôde correr. Ficou gemendo,
enquanto a juriti dava risada.
- Que é que você tem, quati?
- A preguiça fez uma armadilha no meio do meu caminho e
quase me matou.
- Isso é para você não bater mais nela.
- Quem lhe contou essa mentira?
- Não é mentira, eu vi tudo!
Então, o quati foi-se embora, chorando. E não voltou.
A preguiça quando soube daquilo, também se pôs a dar
risada. Depois perguntou à juriti:
- Você é muito bonita?
- Sim, eu sou muito bonita. Agora vou vestir minha roupa.
E lá se foi.
Mas a preguiça também queria ser bonita.
A juriti voltou com jenipapo e esta se julgou bonita.
Subiu num pau, até lá em cima e lá ficou, pois não podia descer.
Aflita, gritou pela juriti. Esta perguntou:
- Mas onde é que você se meteu?
Lá no alto a preguiça se pôs a rir da juriti, que ficou
zangada e xingou:
- Preguiça estúpida! Preguiça má.
E foi-se embora, dizendo:
- Chega! Só trata de comer e não trabalha! Não quero
vê-la mais.
Assim fez e a preguiça acostumou-se a andar só.
Tudo isso porque juriti é bonita e a preguiça é feia. Porque
juriti é trabalhadeira e a preguiça é preguiçosa.
E a estória da preguiça termina aqui, não tem
continuação.
(Recolhido de J.
Capistrano Abreu no “rã-ixa hu-ni=ku i” (RJ, 1914) das Estórias e lendas dos
índios, organizada por Herbert Galdus, Edigraf)
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