JEAN PIERRE DE FLORIAN – O escritor e dramaturgo francês Jean Pierre Claris de Florian (1755 – 1794), era sobrinho do filósofo
Voltaire que o fez aos dez anos de idade ler as fábulas de La Fontaine.
Escreveu ele poesias e romances, e inspirado nas comédias do teatro jovem
italiano os Arlequinades, em 1784,
além dos romances pastorais em prosa e verso Os dois projetos de lei (1782), Juanito
e Coleta, Guilerme Tel ou liberdade
da Suiça e as famosas fábulas, em 1792. Envolveu-se com o movimento
revoluycionário, foi preso e escapou da guilhotina com a queda de Robespierre,
falecendo logo depois. Entre as suas fábulas infantis estão A fábula e a
verdade, O rinoceronte e
camelo, O gato e o espelho, O gato e o telescópio, O grilo, O menino e o
espelho, O vestido de arlequin, entre outras. Destacamos algumas.
OS DOIS LEÕES
Um dia
dois leões, sob um sol muito forte, chegaram a um grande lago morrendo de sede.
Este era um lago enorme, com muita água, o bastante para saciar a sede de
muitos animais. Mas, apesar de sentirem muita sede, motivo que os levara a
procurar por uma fonte de água, quando chegaram à beira do lago, nenhum dos
dois quis a companhia do outro. O orgulho e a vaidade falaram mais alto. Cada
um queria ser o primeiro a beber da água, sem dar chance ao outro. Eles se
olharam com muita maldade. Encresparam as jubas para a luta, e seus corpos se
encurvaram de maneira ameaçadora, prontos. Cada qual se preparou para um bote
mortal. Altercaram-se com rugidos aterradores, alertando toda a vizinhança. Engalfinharam-se
numa luta sem igual. Os dois, igualmente fortes e ferozes, atracaram-se rolando
pelo chão. Machucaram-se um ao outro, cada um ferindo o inimigo sem piedade. Ao
final, caíram exaustos lado a lado. Cada qual com o corpo coberto de feridas e
sangrando, com muitas marcas deixadas pelo rival. Cada um se arrastou
devagarinho até as margens do lago. Os dois beberam da água cristalina ao mesmo
tempo, e também caíram mortos no mesmo lugar. Acabaram, lado a lado, juntos na
morte tal como não o haviam sido na vida.
O CAVALO E O POTRO
Nunca tendo conhecido a sujeição férrea do homem
tirano, um venerável cavalo que ficara viúvo vivia com um único filho. Criou-o
num prado, onde os regatos, as flores e a sombra convidativa ofereciam
imediatamente tudo quanto era necessário para a felicidade deles.
Abusando daqueles gozos, conforme é habitual na
juventude, o potro enchia-se diariamente de trevo, passava o tempo brincando
pelo prado florido, galopava de cá para lá sem objetivo, tomava banho quando
não era necessário ou descansava quando não estava fatigado.Preguiçoso e gordo,
o jovem solitário tornou-se enfastiado, cansado de nada ter a desejar.
Depressa, seguiu-se a repulsa pelo lugar, e procurando o pai, disse-lhe:
- Já há algum tempo que não me sinto bem. Essa
relva não é saudável e está me matando. Esse trevo não tem cheiro, essa água é
lodosa. O ar que aqui respiramos ataca-me os pulmões. Numa palavra, morrerei, a
não ser que saiamos daqui.
- Já que se trata de tua vida, meu querido filho – respondeu
o pai, partiremos imediatamente.
Assim dito e assim feito. Lá se foram os dois,
imediatamente, em procura de um novo lar.
O jovem viajante relinchava de puro júbilo. O
velho, menos alegre, caminhava pausadamente, adiante, fazendo o filho subir
montanhas íngremes e áridas, sem um tufo de erva, e onde nada havia que lhes
pudesse fornecer a menor nutrição.
Chegou à noite, mas não encontraram pasto.
No dia seguinte, quase exaustos pela fome,
contentaram-se com algumas urzes raquíticas. Dessa vez o potro não galopava.
Dois dias depois mal conseguia arrastar uma perna depois a outra.
Considerando que a lição já durara o suficiente, o
pai voltou, através de estrada desconhecida do filho, reconduziu-o ao antigo
prado, em meio à noite. Mal o potro descobriu um pouco de relva fresca,
atirou-se a ela com avidez:
- Ah, que banquete delicioso! Que belo pasto! – exclamou
ele. - Já alguma vez existiu algo tão
doce e macio? Meu pai, não devemos seguir viagem. Vamos morar para sempre nesse
lugar adorável: que outra região se poderá comparar a esse refúgio rural?
Enquanto ele assim falava o dia se pôs a clarear, e
o potro, reconhecendo o prado que tão recentemente deixara, baixou os olhos,
muito envergonhado.
O pai lhe disse, então, suavemente:
- Meu querido filho, no futuro recorda-te desta
máxima:
Moral: Quem se diverte demais, depressa se enjoa do
prazer. Para sermos felizes temos de ser moderados
OS DOIS VIAJANTES
Thomas e seu amigo Compadre Lubin
caminharam até a cidade vizinha.
Thomas encontra no caminho,
um saco cheio de moedas.
Coloca-o no bolso.
Lubin, com grande satisfação,
diz: "Que sorte que tivemos".
Não - responde friamente Thomas
-;
"Nós" não está certo, nós dissemos: "Eu
vou" é mais correto.
Lubin não se atreveu a resmungar.
Mas, para deixar o apartamento,
ladrões ocultos encontrados na
floresta.
Thomas, balançando
e não sem motivo,
diz: "Nós estamos perdidos." Não -
respondeu-Lubin
"Nós" não é
muito lógico; "Você" é outra coisa.
Dito isso, eles escapam pela floresta.
Dominado pelo medo, Thomas logo foi
alcançado
e deve entregar o saco.
O LEÃO E O
LEOPARDO
Um leão corajoso, rei de uma
vasta planície,
Queria dominar uma grande parte,
E ele queria conquistar uma floresta próxima,
Herança de um leopardo.
Ataque não era muito difícil para ele;
Mas o leão tinha medo de panteras
e ursos,
Assim, o monarca hábil resolveu
adequadamente o problema.
O jovem leopardo, com o pretexto de honra,
delegou a um embaixador:
Era o velho, capaz e popular Fox.
Primeiro, o jovem leopardo comemora sua prudência,
Elogia-o em paz,
bondade, doçura,
Sua justiça e caridade;
Então, em nome de uma parceria propõe o leão
Para limpar tudo para que o vizinho valorizasse a sua força.
O leopardo aceitou; e a partir do
dia seguinte,
Nossos dois heróis em suas fronteiras,
Coma os melhores ursos e
panteras;
Tudo foi feito em breve;
Mas quando os reis amigos
Compartilhando o país conquistado,
fixou seus olhos em seu novo limite,
Seguiu-se algumas lutas.
O leão ao leopardo ferido reclamou;
Isso mostrou seus dentes falsos para mostrar quem era o chefe;
Para encurtar a história, houve vários golpes.
No final da aventura, veio a morte do leopardo:
Ele aprendeu um pouco tarde
Isso é contra as boas maneiras, leão
Unidos são pequenos ursos e panteras.
FONTES
ALÃO, Carolina; SABLER, Antonio. As fábulas
de Florian. Rio de Janeiro: Edita-me, 2010.
CYRINO, Elidionete. Os valores ocultos nas fábulas:
produção didático-pedagógica. Paranavaí: SEED/PDE, 2012.
FLORIAN, Jean Pierre. Fábulas do mundo inteiro.São
Paulo: Cultrix, 1990.
PINTO, Alfredo. Seleta em prosa e verso dos
melhores autores brasileiros e portugueses. Livraria Selbach, 1883.