Saturday, July 21, 2012

JAMES JOYCE



FRAGMENTOS DE RETRATO DO ARTISTA QUANDO JOVEM DE JAMES JOYCE


“[...] Punha-se a cara para cima, assim, para dizer boa noite, e então a mãe abaixava o seu rosto. Isso é que era beijar. Sua mãe pnha os lábios na sua face, os lábios dela eram moles e umedecia a face; e faziam um barulhinho diminuto: bift!

“[...] Que é que haveria depois do universo? Nada. Mas haveria qualquer coisa em volta do universo para mostrar onde ele parava antes de começar o lugar do nada? Não poderia ser uma parede; mas bem que podia ser uma linha fininha, bem fininha, lá bem em volta de tudo. Era uma coisa muito grande para poder pensar em todas aquelas coisas e em todos aqueles lugares. Só Deus podia fazer isso. Tentou imaginar que enorme pensamento deveria ser esse, mas só conseguiu pensar em Deus. Deus era o nome de Deus, assim como o nome dele era Stephen. Dieu era o nome francês para Deus, e era também o nome de Deus; e quando alguém rezava a Deus e dizia Dieu, então Deus imediatamente ficava sabendo que era uma pessoa francesa que estava rezando. Mas embora houvesse nomes diferentes para Deus em todas as diferentes línguas do mundo, e Deus compreendesse o que era que todas as pessoas rezavam diziam em suas línguas diferentes, ainda assim Deus permanecia sempre o mesmo Deus e o nome verdadeiro de Deus era Deus.

“[...] Todos os ratos tinham dois olhinhos para espiar por eles. Uma pele lustrosa e mole, umas patinhas muito pequeninas dobradas para dar um salto, uns olhinhos negros gelatinosos para espiar por eles. Eles sabiam de que jeito deviam pular. Mas o espírito dos ratos era incapaz de compreender trigonometria. Quando estavam mortos ficavam tombados de lado. Seus corpos secavam logo. Ficavam sendo apenas coisas mortas.

“[...] Que desmaiada que estava a luz na janela! Mas isso era bonito. O fogo da chaminé subia e caía pela parede. Formava como que ondas. Alguém devia lhe ter posto carvão; e Stephen escutava vozes. Como de gente conversando. Era o ruído das ondas. Estariam as ondas conversando entre si, à medida que se levantavam e caíam?

[...] A primeira fase de apreensão é uma linha limitando, contornando o objeto a ser apreendido [...] o que é audível apresenta-se no tempo, o que é visível apresenta-se no espaço. [...] a imagem estética é em primeiro lugar luminosamente apreendida como autolimitada e autocontida sobre o incomensurável segundo plano do espaço ou do tempo que não o são. [...] a síntese da percepção imediata é seguida pela análise da apreensão. [..;] a forma lirica, isto é, a forma na qual o artista manifesta a sua magem em imediata relação com ele próprio; a forma épica, isto é, a forma na qual ele manifesta a sua imagem em imediata relação consigo mesmo e com os outros; e a forma dramatica, isto é, a forma na qual ele manifesta a sua imagem em imediata relação com os outros. [...] a forma lirica é, de fato, a veste verbal mais simples dum instante de emoção. [...] a forma épica mais smples é vista emergindo da literatura lírica quando o artista prolonga e se põe a se examinar como centro dum fato épico e essa forma progride até que o centro de gravidade emocional fique equidistante do artista propriamente e dos outros [...] a forma dramática é atingida quando a vitalidade que encheu e turbilhonou em volta de cada pessoa enche todas as pessoas com uma força vital tal que ele ou ela acaba assumindo uma vida própria estética e intangível [...] O artista, como o Deus da criação, permanece dentro, junto, atrás ou acima da sua obra, invisível, clarificado, fora da existencia, indiferente, raspando as unhas dos seus dedos".

JAMES JOYCEO escritor irlandês expatriado James Augustine Aloysius Joyce (1882-1941), é considerado um dos mais importantes autores do século XX. Ele é autor de obras, tais como Dublinenses (1914), Retrato do artista quando jovem (1916), Ulisses (1922) e Finnegans Wake (1939). Participou do Modernismo e do Imagismo. 

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